Meu único preconceito inamovível é com aqueles que me elogiam. Não aceito esse mau gosto, não compro essa mentira, não engulo essa farsa., e muito menos fui feito para ser elogiado, mas para ser odiado ou temido. Sequer admito que ofereçam a mim qualquer pretensa virtude. Sou o pior escarro, o mais grudento e fétido; sou o pus rançoso e a ferida viva. Sou o erro da criação e o aborto redivivo. Odeio a fraqueza de espírito e os bajuladores que, ao meu, ver nada mais merecem do que a morte.
Jules Bertrand D’Amicci, “Histoires d’un Amour Parfait” (Histórias de um amor perfeito), ed. Saint Clair-Paris, pag. 135
Jules D’Amicci é um poeta e novelista francês nascido em Lyon em 1959. Desde cedo se dedicou ao estudo de letras e com 22 anos lançou se primeiro livro, “Ettoiles”, que venceu o prêmio de jovens escritores de sua cidade. Posteriormente, já vivendo em Paris e estudando na Sorbonne, começou a trabalhar na redação do Jornal Le Monde, onde trabalhou por 35 anos, primeiro como revisor, depois como copydesk, redator, jornalista e até hoje como colunista. É militante do partido socialista (PS) francês desde 1982, tendo já exercido funções administrativas na instituição. No romance “Histórias de um amor perfeito” ele narra a história de Jadelle e Gaspar. Ela, uma executiva da Dupont e ele garçom de um restaurante frequentado pela alta sociedade parisiense. O destino (a intervenção de Gaspar na briga com o namorado no restaurante) os uniu em uma união de espiral destrutiva. O enredo envolvente da trama aos poucos revela a personalidade doentia e perversa dos personagens, envoltos em capas ilusórias de humildade e timidez. Quando a paixão entre ambos explode, brotam também na pele as gotas ácidas de ressentimento, rancor e ódio, curtidas por décadas de recalque e frustração. A história de ambos, como Bonnie e Clyde em Paris, nos permite refletir sobre as armadilhas criadas por fachadas dóceis que abrigam feras e monstros com almas destroçadas. Jules D’Amicci mora em Paris com a atriz Anette Bettancourt e seus dois filhos, Jean e Marcel
