Arquivo do mês: novembro 2023

Parto

Sonhei que havia parido uma criança na Santa Casa. Eu mesmo. Parto normal, e não me perguntem como. Antes de sair avisei todos em casa que eu ia ao hospital e já voltava. O nome da criança era George, provavelmente em homenagem ao meu tio Eric George Jones que faleceu há poucos dias. Pari sozinho, sem auxílio, mas lembro do neonatologista me procurando com a conta após o parto, já que eu não tinha convênio. Saí do hospital carregando meu filho em uma espécie de Van e coloquei o bebê, ainda envolto em lençóis, ao meu lado com a ajuda de duas funcionárias antigas do hospital. Tentei colocar cinto de segurança nele, mas o cinto era grande demais.

Pensei: “Só mesmo um homem para não se dar conta que não dá para dirigir um carro com uma criança solta no banco”. Sim, a gente não tem esses gatilhos. Nesse momento, George começou a conversar comigo sobre assuntos diversos enquanto eu dirigia. A voz era de criança, mas os temas bastante complexos. A solução que ele encontrou para não virar no banco do carona nas curvas foi se levantar e me abraçar. Assim ele ficava seguro enquanto eu manobrava.

Não existe sonho que não seja pleno de conteúdos. Sonhar que estou parindo é um tema muito comum e renitente para mim, só que dessa vez eu lembro até de ter feito força. Depois do parto ainda revisei o colo uterino (???). Pela manhã, durante o café, disse o nome da criança para minha filha que está grávida (dã) e ela achou o nome meio “palha”. Achei interessante a crítica que, ainda dentro do sonho, fiz à falta de habilidade dos homens para coisas básicas, como deixar o bebê seguro quando vai dirigir, mas também achei importante o simbolismo do bebê lhe abraçar como forma de buscar essa segurança. Talvez a mensagem mais importante do sonho seja que não há nada mais forte para manter alguém seguro do que o afeto explícito que podemos oferecer.

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Canção da Morte

Eu francamente não imaginava ver de novo a retórica claramente racista do sionismo ganhar tantos adeptos, ainda mais usando as mesmas justificativas adotadas por Adolf e sua turma há um século. Em verdade essa é uma demonstração clara de ingenuidade: essas ideias jamais desapareceram do nosso repertório de perversidades; apenas ficaram adormecidas, hibernando, silenciosamente esperando que as crises inevitáveis do capitalismo pudessem desenterrá-las. Redivivas pelo pânico, agora podem ser novamente utilizadas como a desculpa oportuna para os abusos e as crueldades. No atual ataque de Israel contra o povo palestino contabilizamos mais de 12 mil mortos até agora (final de novembro 2023), dentre eles 5000 crianças, e metade da cidade destruída. Apesar disso, em uma recente pesquisa, mais de 90% dos israelenses acreditam que a força utilizada contra Gaza é pouca ou adequada, um resultado semelhante ao apoio recebido pelo IDF depois do último grande massacre em Gaza em 2014, quando 95% dos judeus israelenses apoiaram os ataques. No bombardeio atual, menos de 2% dos judeus israelenses acreditam que houve exagero. Essa é uma sociedade monstruosa.

“Ahhh, mas os ataques, os bebês, as mulheres abusadas, os terroristas do 7 de outubro…” Amigo, há 75 anos todo santo dia é 7 de outubro na Palestina. Não há um dia sequer que não tenha ocorrido uma grave violação de direitos humanos nos territórios ocupados, seja na Cisjordânia, Jerusalém oriental ou na Faixa de Gaza. A diferença é que a crueldade inominável que se repete por lá é de verdade e não mentiras plantadas pela imprensa corporativa burguesa para escamotear os crimes hediondos da etnocracia colonialista e racista de Israel. É tempo de parar com o terror racista de Israel.

Antes de julgarem as ações dos combatentes palestinos, liderados pelo Hamas, coloquem-se na posição deles, subjugados por invasores europeus racistas e criminosos, condenados a uma cidadania de segunda classe, confinados no maior campo de concentração a céu aberto do mundo ou aprisionados sem o devido processo legal em penitenciárias israelense, sem crime ou mesmo acusação, bastando apenas o interesse e o desejo das autoridades. Se a sua mãe, irmãos, amigos, inclusive crianças estivessem presos em masmorras israelenses, sofrendo todo tipo de abusos nas mãos de fascistas, vocês não apoiariam uma ação extrema como a que aconteceu em 7 de outubro? Não fariam isso por seus filhos? Para quem reclama das ações violentas dos Hamas contra os chacais racistas de Israel, fica a lembrança de que durante 1 ano e 8 meses em 2018 houve protestos pacíficos nas bordas de Gaza chamados ” A Grande Marcha de Retorno“. Tudo o que os admiradores de Gandhi sempre desejaram, não? Pois o resultado foi de 223 palestinos mortos por protestar pacificamente e mais de 10 mil feridos. Ou seja: Israel só entende a linguagem da violência, pois os racistas de lá apenas acreditam na força bruta.

Se implorar não basta, se apelar para a justiça é insuficiente, quem pode julgar aqueles que, em desespero, escolhem a violência como forma de libertação? Como se sentiriam aqueles cujos filhos e família tivessem negadas as mais básicas necessidades humanas, como beber água? Mas nada disso impressiona os habitantes de Israel, educados desde a mais tenra idade a odiar os “árabes”. Nem mesmo as crianças em Israel escapam dessa educação para o ódio; em Israel elas são ensinadas desde a mais tenra idade a odiar e destruir. Numa recente campanha publicitária característica de “white washing” de Israel, elas cantam canções onde exaltam o exército de Israel e apoiam a destruição de Gaza. Ou seja: para mudar a imagem deteriorada de Israel agora estão apelando para as emoções mais primitivas e para a imagem de crianças cantando canções de morte. Não haveria como Israel não se tornar a grande pátria do fascismo e do racismo.

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Presentes

Na minha família existe um costume que tem mais de 4 décadas: ZERO presentes natalinos. Nada, absolutamente nada, sequer “amigo-oculto” de 20 reais. Isso começou como uma atitude radical há quase 4 décadas. Quando meus filhos tinham 5 ou 6 anos a minha mãe me perguntou o que poderia dar a eles. Meu filho escutou e ficou semanas pensando, perguntando, ansioso pelo que poderia ganhar. Ao ver a ansiedade deles, eu e Zeza decidimos exterminar a fonte dessa angústia: avisamos a eles que não ganhariam nada, que o Natal era uma festa para estar junto com a família, para contar suas histórias da escola para os tios, dar risadas sobre a piada do “pavê”, encontrar os primos, comer bolo e visitar os avós. Nada além disso seria justo. Mais ainda: avisamos aos tios e avós para não darem presente algum no Natal, visto que isso não poderia se tornar uma competição entre eles (algo que já vi) romper o tipo de educação que os pais queriam imprimir.

E vejam, a ideia é de que não há nenhum problema em presentear os filhos – ou parentes e amigos – mas estávamos tentando evitar a transformação da festividade do Natal em um encontro mercantil, onde se comercializam objetos e afetos. A proposta era de que, caso quisessem dar um presente para as crianças, que escolhessem uma data aleatória, ou usassem o aniversário delas. É claro que isso não é a solução de todos os problemas da sociedade mas, além de criar uma cultura avessa ao consumismo, ela evita a angústia inevitável de todos nós sobre a compra de presentes. Imaginem a felicidade de alguém que não precisa se preocupar com presentes para filhos, colegas de trabalho, pais, irmãos, etc, e sem sentir culpa! É um imenso alívio! Além disso, cabe uma reflexão um pouco mais profunda. Afinal, qual o sentido de presentear? O que afinal existe nesse gesto? Podemos colocar este ato sob uma investigação mais apurada? Quem ganha e quem dá nesta relação?

Uma amiga certa vez me contou uma história que considero reveladora. Disse que não resistiu à tentação e comprou um “helicóptero de controle remoto” para seu neto de 7 anos. Perguntei a ela: “Você sabe a média de tempo que uma criança se interessa por essas engenhocas? Este tempo é medido em minutos…” Ela sorriu e suspirou. Depois me disse conformada: “Eu sei tudo isso. Sei que ele vai provavelmente curtir mais a caixa do que o helicóptero, mas…. tu tinhas que ver a carinha dele quando abriu o pacote. Olhou para mim, me deu um abraço e disse: ‘Eu te amo vovó’.”

Essa história me fez perceber que, muitas das vezes, o presente que damos é para nós mesmos. Oferecemos um objeto qualquer para uma criança em troca do seu afeto, e todos sabemos o quanto elas são espertas para perceber como nos deixamos seduzir por estas demonstrações explicitas de amor. Por esta razão, é sempre útil analisar as verdadeiras razões que se escondem dentro do pacote colorido que oferecemos. Elas são aparentemente cobertas de generosidade, mas escondem as nossas necessidades mais básicas de afeto; são muitas vezes atos criados para que possamos receber como recompensa o amor que tanto carecemos.

Ainda acredito que a melhor alternativa ao consumismo do presente é… ser presente. Seja o melhor tio, filho, pai, amigo, agregado possível para todos aqueles que compartilharem este momento com você. Não use essa festa para negociar a atenção e o carinho que você precisa.

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Inevitável

Nada se compara ao que Israel – o único Estado explicitamente racista do mundo – está fazendo com a população ocupada da Palestina desde o início de outubro. O exército mais covarde e imoral de todo o planeta está mostrando uma versão compactada de todas as crueldades que executou nos últimos 76 anos. Nada supera a narrativa genocida dos políticos de Israel, nem mesmo o que se escutou dos monstros nazi em meados do século passado.

Infelizmente, para eles, agora temosalternativas para uma livre circulação de informações, que antes eram filtradas por 4 ou 5 sistemas internacionais denotícias, dominados pelos interesses da burguesia. Pelo menos hoje, qualquer sujeito com um celular na mão é um jornalista, infinitamente mais honesto do que aqueles que trabalham para a imprensa do Brasil ou para a imprensa burguesa internacional. Por esta singela razão, está quase impossível manter por mais de 48 horas as mentiras que sobreviviam por décadas no passado não tão distante. Estivéssemos nos anos 60 e até agora a versão mentirosa dos “bebês sem cabeça“, o “ataque à Rave” ou os “estupros” de mulheres israelenses ainda seriam as versões oficiais, e a população de todo o planeta estaria repetindo de forma enfadonha a farsa montada por Israel.

Hoje já sabemos o quanto Israel é um país criado sobre uma montanha de corpos e páginas infinitas de mentiras, fraudes e manipulações. Essa fábrica de inverdades só pode se sustentar através da compra sistemática de políticos e da imprensa. Não fosse pelo jornalismo independente que apresenta um contraponto consistente e factual aos influenciadores sionistas – ou aqueles pagos por eles – e muitos ainda manteriam a tese de que o hospital de Shifa veio abaixo por “fogo amigo” palestino, tese que foi facilmente desmontada logo depois com a ajuda de especialistas do mundo todo. Cada dia é mais difícil sustentar a farsa de Israel. Nos anos 40 do século XX era possível mentir sobre “Um povo sem terra para uma terra sem povo“, mas hoje a pústula se rompeu e o que vemos escorrer são as falsidades, as mortes, os abusos e a corrupção de uma colônia branca europeia sobre a terra dos palestinos, acumulada em 76 anos de ocupação e arbítrio.

Boa parte da imprensa insiste em chamar o “Hamas” grupo “terrorista”, tentando forçar a narrativa de que a luta pela Palestina é a batalha da “luz contra as sombras“, como disse Bibi Netanyahu, mas é mais do que óbvio para qualquer um que repouse os olhos sobre a história da região que os invasores cruéis da Europa é que representam as trevas, e aqueles que lutam pela liberdade, a autonomia e a dignidade dos palestinos são os que levam a luz para a região. Também querem nos fazer acreditar que o problema é o “Hamas”, a resistência armada palestina, mas a verdade é que mesmo que fosse possível destruir todos os combatentes desse grupo e no dia seguinte outros tantos milhares se alistariam para a luta, porque eles representam a única chance de vida digna para a população de Gaza. Para cada combatente morto, dois mais se alistam para lutar pela liberdade.

O chanceler russo Lavrov declarou há alguns dias ser impossível pensar em paz sem a criação de um Estado Palestino soberano, livre, com defesa, com aeroporto, com moeda, com economia e com plena conexão com a Cisjordânia, mas é claro para qualquer observador que esta é uma solução necessária, porém paliativa. O mundo não pode aceitar mais o sionismo ou qualquer forma de organização social baseada no racismo e na exclusão. Mesmo um país só para judeus mantido ao lado da Palestina deveria ser objeto de boicote internacional, pois que este tipo de organização viola frontalmente todo o arcabouço jurídico e ético que sustenta a democracia.

A luta pela paz é uma tarefa de todos nós. Como dizia Nelson Mandela, “Sabemos muito bem que a nossa liberdade é incompleta sem a liberdade dos palestinos”. É preciso aumentar o boicote à Israel, forçar os representantes diplomáticos a encerrar qualquer conexão com este país, determinar um “cerco” econômico ao racismo branco de Israel, reforçar o apoio à Palestina Livre e sair às ruas até que Israel recue em seus objetivos de genocídio e limpeza étnica. Desejamos um Estado Palestino único e democrático, que possa aceitar todas as crenças, todas as culturas e todas as raças sob a égide dos direitos humanos e da plena democracia.

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Um Morto Muito Louco

Muitos ainda se perguntam: o que une as personalidades de Bolsonaro, Milei, Boris Johnson e Trump? Qual o traço que os transforma em íntimos e semelhantes? O que os fez surgir no mesmo lapso curto de tempo, quase contemporâneos? Como é possível entender este fenômeno de forma unificada, tentando traçar uma linha de coerência e causalidade em suas aparições no cenário político internacional?

Creio que a resposta, como sempre, está em Marx. As crises do capitalismo e a falha deste sistema em equilibrar um modelo econômico e político fadado às crises cíclicas, produz este tipo de aparições bizarras: o surgimento de salvadores da pátria, sujeitos enviados para resgatar nossa grandeza perdida, trazer de volta nossa perspectiva de futuro, políticos que desprezam a política, atores sociais “sem ideologia” mas que a transpiram por todos os poros. Eles são sinalizadores macabros da transformação, o desespero de um modelo falido em manter-se vivo. Gramsci já havia deixado claro que é exatamente nesse espaço entre a morte do velho e o nascimento do novo que surgem os demônios e toda a monstruosidade guardada vem à tona.

Ou seja: estas figuras já estavam previstas pela própria natureza íntima do capitalismo. Inclua Netanyahu nessa lista de psicopatas surgidos em meio a crises brutais (como Adolf surgiu) e percebam como o Estado Racista Colonial de Israel já morreu e está apodrecendo à vista desarmada. Entretanto, enquanto não floresce a revolução que levará à igualdade é inevitável o aparecimento deste tipo de monstros, e com eles os seus delírios. Todos esses personagens são filhos de seu tempo e de suas circunstâncias, elementos que surgem do desespero em manter vivo um corpo que já se decompõe.

Aos poucos se fortalece a consciência de que a mudança não ocorrerá usando as mesmas estratégias de sempre imaginando com isso encontrar resultados diferentes. Um novo “acordo de Oslo” não dará fim ao conflito na Palestina e muito menos ainda a deposição do líder monstruoso de Israel. A solução está muito distante das tentativas até agora utilizadas, todas falhas memoráveis que apenas agravaram a situação. Da mesma forma, a troca de Biden por Trump será apenas o câmbio de uma fantasia, pois no imperialismo quem o controla as grandes corporações farmacêuticas e de informação também detém o aparente poder político. Quanto à direita fascista da América Latina ela continuará existindo reciclando seus nomes, passando de crise em crise, trocando o salvador da ocasião, até que o próprio capitalismo seja substituído por um sistema menos violento em sua natureza segregacionista de classes.

Nenhum desses nomes representa o mal em si; todos eles são personagens que desempenham o papel de manter as aparências do capitalismo defunto, como na comédia “Um Morto muito Louco”, de 1989, onde uma dupla de camaradas carrega o amigo morto fingindo que ainda está vivo. Assim fazemos nós, transportando o corpo inanimado de um projeto de sociedade que já não é mais capaz de oferecer ao mundo a equidade, a liberdade, a estabilidade e o respeito ao meio ambiente que todos necessitamos.

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When I’m 64

Só quem teve sorte na vida e conseguiu sobreviver à juventude pode escutar essa música dos Beatles e se sentir pessoalmente homenageado. Paul escreveu essa música “When I’m 64” quando tinha apenas 15 anos. Alguns críticos depois chamaram esta canção de “retro-rock”, e Paul a tocava para homenagear seu pai quando ele completou 64 anos. A música fala do medo sincero de um jovem querendo saber se a mulher que amava ainda o desejaria quando tivesse 64 anos. Para isso, mostrava a utilidade que ainda poderia ter nessa idade.

“Eu poderia ser útil, consertando um fusível
Quando suas luzes se apagarem
Você pode tricotar um suéter perto da lareira
As manhãs de domingo iríamos passear
Fazer o jardim, arrancar as ervas daninhas
Quem poderia pedir por mais?”

A verdade é que muito do amor que a nós chega se refere à utilidade; quando essa se esvai com os anos percebemos que somos lentamente deixados de lado. Essa é a lei da vida, e não há porque acreditar que ela não contém sabedoria. O que seria do mundo se os nossos ídolos ainda fossem os mesmos e as aparências não enganassem ninguém? Quando esse amor é recebido por milhões – como os artistas e os políticos – a dor é ainda mais sentida, mais intensa, porque se assenta sobre uma fulgurante ilusão. Para estes, envelhecer é um processo muito mais dramático e sofrido, essencialmente porque a torrente de amor que recebem fecha suas comportas tão logo deixam de ser o material eleito para as nossas fantasias.

Uma grande amiga, que já passou dos 70, mas que foi sempre uma mulher linda, certa vez me contou de sua história com a idade. Disse-me ela que “Há alguns anos, enquanto eu caminhava pelas ruas da minha cidade, eu percebi, com horror e espanto, que os olhos dos homens já não acompanhavam minha trajetória. Voltei para casa devastada, olhei no espelho para entender o que havia acontecido, e percebi que naquela manhã eu havia recebido o primeiro aviso de que não era mais útil ao desejo alheio”. A declaração sincera e triste desta amiga me ajudou a entender e suportar minha lenta e consistente insignificância. Aliás, a música que mais me impressiona sobre o tema da desimportância que nos envolve insidiosamente é “Duchess”, do Gênesis.

Manter-se útil – e amado – até o fim dos seus dias é uma tarefa muito complexa. É necessário reformular completamente a forma de encarar a vida e suas relações. Aceitar limitações, absorver as novas ideias e reconhecer a validade de sua experiência, mas perceber que ela não é a resposta para todas as perguntas. Ficar velho é descobrir a derradeira forma de ser; para alguns sua melhor versão, para outros o reinado do mau humor e do ressentimento. O velho nada mais é do que o jovem sem as máscaras com as quais a juventude convenientemente o escondeu. Para mim, envelhecer significa absorver o que a vida ainda tem a lhe oferecer, enquanto estende a todos o que a vida lhe garantiu graciosamente. Significa também rever seus erros e falhas, reconhecendo sua condição humana falível e frágil. É tempo de dizer adeus às ilusões, e abraçar com fervor as utopias. Era isso…

Feliz-me 64.

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Ermitão

Você não veio sozinha ao mundo, não sobrevive sozinha, precisa dos outros para manter-se e não se completa; a ideia de que “eu me basto” é arrogante. O ser humano é gregário muito mais por necessidade do que por desejo. Somos frágeis quando solitários, e nosso estrutura psíquica está estruturada para uma vida colaborativa. Cada ser que nasce é auxiliado por dezenas de pessoas, basta imaginar a família, as parteiras, os amigos, todos colaborando, como em um grande círculo de proteção para garantir nossa existência. “É preciso uma vila para cuidar de uma criança”. Assim, nascemos endividados com toda a comunidade que nos amparou.

A solidão nunca é opcional, pois ela representa o sofrimento que nos afeta por estarmos sós, mas a escolha pelo recolhimento não implica necessariamente em solidão. Todavia, mesmo o mais ermitão do humanos precisou de uma imensa multidão de almas para conquistar seu isolamento, já que apenas para criar seu corpo físico milhares de outros humanos contribuíram com sua genética.

Alexei Vodanov, “Pavlov and the first spark”, Ed. Parisien, pág. 135

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Direita limpinha

A vitória de Milei na Argentina vai reprisar o filme de terror que vivemos com o fundamentalismo neoliberal cristólatra que vivemos no Brasil. Será o caos para os hermanos, mas parece mesmo que os povos precisam passar por certos desastres para entender o significado e a importância da luta de classes. Agora, que eles estejam preparados para os mesmos capítulos de arrogância, estupidez, perda de patrimônio público e destruição econômica.

Vamos deixar claro que quem elegeu o Milei na Argentina não foi a extrema direita, nem os fascistas. Quem garantiu essa vitória foi a direita limpinha, os “centristas”, o pessoal que tem medo do comunismo, a classe média esmagada pela inflação. Agora todos seremos atingidos, direta ou indiretamente, pela grosseria explícita de um ancap descabelado e boquirroto. Mas é errado tirar essa responsabilidade da direita que, sempre que sente medo ou está sob ameaça, se abraça nos fascistas e nos golpistas. Não esqueçam que “um liberal é um fascista que ainda não foi assaltado”, ou ainda, alguém que carrega o fascismo como colete salva vidas, para vestir sempre que a água bater na bunda.

Boa sorte aos envolvidos.

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Atlantíades

O Estado Sionista de Israel voltou a violar o cessar-fogo e atacou Gaza mais uma vez, levando ao assombro um total de zero pessoas. Ora, este país é conhecido por desrespeitar todas as normas internacionais, invadindo, destruindo, aprisionando menores de idade, usando armas proibidas e matando crianças e mulheres (68% dos mortos em Gaza nos atuais ataques), sem qualquer preocupação com as consequências, por saber que sempre receberá respaldo do imperialismo americano. E faz essas barbaridades com a desculpa de estar tentando atingir o Hamas. Em face de tantas atrocidades, torna-se evidente que Israel é o maior risco à segurança da comunidade judaica em todo o mundo. Por esta razão, deveria partir dos próprios judeus – como já o faz o Jewish Voices for Peace (JVP) – a linha de frente nas críticas severas às ações genocidas do governo de Israel. Mais ainda, seria essencial ver a comunidade judaica unida na luta contra o fascismo sionista, até pela sua histórica vinculação com os movimentos socialistas do século passado. É importante desfazer a ideia de que todo judeu é apoiador dessa carnificina e sempre lembrar que nem todo judeu é sionista e a maioria dos sionistas não são judeus – como são os evangélicos fundamentalistas.

Outro aspecto importante é o crescimento vertiginoso das manifestações populares contra Israel em todo o mundo. Há poucos dias mais de 100 mil manifestantes lotaram as ruas de Glasgow na Escócia. Londres também teve novas passeatas, enchendo as ruas da cidade com palavras de ordem pela liberdade da Palestina. O Iêmen está bloqueando navios com bandeira israelense que passam pela sua costa e trabalhadores dos portos em várias partes do mundo boicotam o carregamento de armas para Israel. O mundo inteiro se insurge contra o morticínio dos opressores na Terra Santa.

Aqui no Brasil é necessário incrementar a participação popular nas ruas. É na rua que faremos pressão, não em gabinetes ou através dos lentos e intrincados corredores frios da diplomacia. É com o calor e a voz do povo nas avenidas, exigindo ações do governo Lula, que romperemos relações diplomáticas com Israel, dando início a uma reação de indignação internacional em cadeia que, por fim, levará ao isolamento total de Israel, tornando-o um país pária na comunidade das nações.

Guardadas as proporções e diferenças geopolíticas, foi através das ações de bloqueio e sanções internacionais que o Apartheid sucumbiu na África do Sul. Também foi pelas manifestações de rua que os Estados Unidos se retiraram da Guerra do Vietnã. Israel precisa sofrer boicote total nos esportes, no mundo acadêmico, no comércio internacional e na ciência. Desta forma, é absolutamente inaceitável que Israel venha a participar de qualquer atividade esportiva no âmbito mundial, como serão as Olimpíadas em Paris em 2024. Se um país que bombardeia escolas e hospitais, mata crianças e destrói uma cidade inteira vier a participar das próximas Olimpíadas (onde a Rússia será vetada) então não haverá legitimidade alguma nessa competição. Melhor chamar de “Atlantíades“, a competição exclusivamente “otanista” e subserviente aos interesses imperialistas.

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Mecenas

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Tchê, que coisa humilhante essa eleição do internacional. Cada uma das chapas em disputa apresenta seu bilionário de estimação, com os candidatos rastejando e posando para fotografia ao lado deles. Essa subserviência genuflexa ao capital é uma miséria. E não me acusem de clubista; esse não é um problema do Inter, nem do nossos Estado. Atlético de Minas há anos tem seu mecenas (Menin do BMG) e o Grêmio está no mesmo caminho.

Daí se inventam esses apelidos fofos tipo “tio do arroz”, que não passa de um bilionário ruralista e bolsonarista ligado ao agronegócio e conectado com o que existe de pior na burguesia nacional… e o clube fica puxando o saco sem qualquer pudor.

No Inter o bilionário da oposição é o Sonda, dono de uma rede de supermercados. Já o da situação é o Maggi, que é a sétima fortuna do país e é aquele que pagou um milhão de reais para o Rodinei poder jogar contra o Flamengo em 2020. A dominação econômica desses bilionários, verdadeiros “sheiks brazucas” é um escárnio.

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