Super humanas

Quando vejo estas ideias de “medidor de dores” em sempre lembro que a dor não é um processo objetivo como a taxa de glicose no sangue ou a graduação de um hormônio circulante. Dores são percepções e elas são inexoravelmente subjetivas. A sensação de dor vai variar enormemente entre os sujeitos na dependência de inúmeros fatores. Por que, então, ainda insistem nessas “unidades de dor”? Qualquer pessoa percebe que isso é ridículo. “O ser humano só aguenta 45 unidades de dor mas as mulheres durante o parto aguentam 57 dessas unidades”. Isso significa exatamente o quê? Que as mulheres não são humanas? Serão elas sobre-humanas? Isso tem um nome: “desumanização”. Ou seja: as mulheres não precisam ser tratadas ou consideradas como humanas pois são seres divinos – ou, quando assim interessar, diabólicas e bruxas; não fazem parte dessa espécie.

Lembro quando um político populista do meu estado resolveu, durante uma palestra no hospital de clínicas, chamar as enfermeiras de “anjos de branco”. Nem terminou de falar e tomou uma vaia sonora do público, majoritariamente constituído por… enfermeiras. A razão dessa discordância é que chamar enfermeiras de “anjos” sempre cumpriu a função de desprofissionalizar, tratá-las como “religiosas”, espíritos impolutos que cuidam dos enfermos. Pois o que as enfermeiras mais desejavam era perder essa aura de abnegação e serem valorizadas em suas profissões, fugindo do estigma de “seres superiores” ou “luzes a iluminar as trevas da doença”. Não é adequado ou justo desumanizar as enfermeiras quando elas têm necessidades tão humanas quanto reconhecimento, respeito, atenção valorização e pagamento justo. No lugar dessa exaltação, paguem um bom salário, ora…

Com as gestantes o mesmo. Insistem na balela de que as dores do parto são horríveis mas as mulheres, por serem “seres superiores”, são capazes de suportá-las acima dos limites humanos. Pura bobagem!! O parto é tão mais doloroso quanto mais ignorados são seus princípios básicos de segurança, privacidade e intimidade. Todavia, a dor inerente ao processo é suportável por pessoas comuns, por mulheres absolutamente humanas. A ideia de tratar as mulheres de forma diferente não as ajuda e sacraliza a ideia de excepcionalidade.

Lembro da história que um professor de psicanálise me contou durante uma viagem entre Blumenau e Florianópolis que fizemos de carro. Dizia ele da história de uma mãe com problemas para alimentar seu filho com síndrome de Down – o mais novo de 4 filhos e o único com este diagnóstico. Ele costumava brincar com a comida, esmagar com as mãos e jogar longe, o que a irritava profundamente. Logo ao escutar o relato meu amigo já estava se apressando a dizer o quanto é natural esta conduta lúdica com o alimento entre as crianças pequenas quando decidiu perguntar: “Mas me conte, como você agiu com os outros filhos?”, ao que ela respondeu “Ah, com todos eles eu ralhava!!”. Ao escutar essa resposta ele disse: “Pois com este menino faça o mesmo!!”

Diante da minha surpresa, ele respondeu: “Muito pior do que não entender a questão das brincadeiras com a comida é iniciar desde cedo um tratamento diferenciado, excluindo o menor do tratamento que sempre foi dado aos outros irmãos, apenas porque ele é “especial”. Isso reforçaria nele a ideia de que não pertence àquele grupo, que não é tão humano quanto seus irmãos e só por isso não é tratado da mesma forma”.

Com as mulheres penso da mesma forma. Trate-as sempre com a mesma humanidade com que trata os homens, nem mais nem menos. Criar a ideia de que elas suportam mais as dores é tão discriminatório quanto achar que não podem exercer as mesmas funções dos homens. Lembrem apenas que muito do que se sabe sobre o assoalho pélvico feminino foi descoberto por um ginecologista americano chamado James Marion Simms abusando dessa perspectiva. No seculo XIX ele realizou pesquisas com cirurgias para fístulas urinárias sem anestesia e usava mulheres negras em seus experimentos dizendo serem elas “muito fortes para a dor”, portanto capazes de aguentar as dores dos procedimentos cirúrgicos criados por ele.

Ou seja: desumanização, mesmo quando o desejo é exaltar, nunca é algo justo e bom. Trate as mulheres, inclusive e principalmente durante o parto, como gostaria que todo ser humano fosse tratado. Nada mais, nada menos.

Veja o vídeo aqui

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Nutellas

Não são alunos “Nutellas”; o crime deles é serem pessoas normais…. ainda. A reação dos alunos iniciantes ao sangue, aos cortes, à brutalidade e à crueza das cirurgias é porque eles olham para os corpos dotados de alma. Os cirurgiões, por seu turno, conseguem – através de um longo treinamento – produzir um isolamento que lhes possibilita analisar o corpo “real” constituído tão somente de artérias, veias, ligamentos, ossos e tecido conjuntivo.

Fica evidente, pelas imagens, que se trata de alunos do primeiro ano. Minha experiência diz que praticamente ninguém fica impassível ao ver uma cirurgia pela primeira vez; não há como separar a carne cortada da alma que sofre. A dissociação que produz a percepção do “corpo real” do paciente, em contraposição ao “corpo erotizado” com o qual lidamos no cotidiano, é fruto de um lento processo de adaptação, o que leva a um estado de relativa insensibilidade à dor e ao sofrimento alheio. Este mecanismo é fundamental para proteger o psiquismo dos profissionais e permitir uma tomada de decisão mais racional, mas tem como parefeito a conhecida “frieza” dos cirurgiões. Entretanto, sem este tipo de isolamento afetivo toda a ação dos profissionais de saúde seria praticamente impossível, pois que seria danosa para eles.

Robbie Davis-Floyd se ocupou deste tema ao escrever sobre a escola médica como um “rito de passagem”, onde sujeitos comuns (como os garotos e garotas da imagem) se transformam em médicos. Este processo percorre toda a faculdade de medicina, e possui etapas bem conhecidas. A reação deles nada tem a ver com coragem ou com a qualidade dos profissionais que vão se tornar. Existem médicos clínicos, formados há anos, que desmaiam diante de cirurgias, pois nunca se acostumaram (adaptaram) a este contexto invasivo.

Para ser sincero, gostaria que estes alunos tivessem essa reação ao saber dos abusos de cesarianas no seu país, que sacrificam mulheres e crianças para proteger e beneficiar a máfia que controla estas cirurgias.

Veja o vídeo aqui

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Miragem

Esta foto do Mark Zuckerberg e sua digníssima esposa fazendo uma trilha em Kauai’s Awaawapuhi foi apresentada em vários jornais do mundo todo alguns anos atrás. Ela se referia a uma viagem que ele fez com sua esposa Priscilla Chan e tem todas as características de propaganda. Todos aqueles que entendem de semiótica percebem de pronto como estas fotos são usadas com objetivos bem claros. Atentem para os detalhes constitutivos da foto: as roupas são simples, o boné básico, o programa (um passeio na montanha) é de gente comum que ama a natureza, o enquadramento é de quem está fazendo um programa de casal de classe média e a foto é de baixa qualidade, como se tivesse sido tirada por um velho celular da Motorola. Tudo nessa foto é feito para criar uma conexão de Mark & Priscilla com os bilhões de humanos que consomem seus produtos. Entretanto, tudo que há nessa imagem é pura miragem.

Essa foto diz tanto da humildade do dono do Facebook quanto aquelas outras fotos que ficaram famosas durante o governo Bolsonaro que mostravam o presidente devorando um pão com margarina no Palácio do Planalto ou comendo galinha feito um troglodita, todo lambuzado e sujo de farofa. São produções de pura propaganda, criadas para estabelecer empatia entre o povão (todos nós) e os megapoderosos, os donos do mundo, com a clara intenção de esfumaçar a realidade e nos fazer crer que eles são “gente como a gente”. Tentam criar uma imagem de simplicidade e frugalidade par0a pessoas que possuem somas obscenas de riqueza e poder.

Eles não são como nós; eles são políticos corruptos, empresários, herdeiros, gangsters ou donos dos meios de produção. São burgueses, no caso do dono do Facebook; são políticos fascistas, no caso do Bolsonaro e são empresários gananciosos no caso do véio da Havan ou do Leman. Eles não compartem o mesmo estrato social que nós; estão na cobertura de um edifício que não somos sequer autorizados a entrar. Somos proletários, trabalhadores, servidores públicos, profissionais liberais e pequenos comerciantes, mesmo que para alguns ainda sobre um pouco de renda, o que possibilita a compra de um carro ou da casa própria.

Acreditar nessas fantasias é fazer o jogo dos ricos, das elites financeiras e dos poderosos. Cabe a nós desenvolvermos o que estes personagens da burguesia já têm: consciência de classe. Eles sabem o quanto têm de poder e dinheiro; também sabem e exaltam o quanto são diferentes de nós em termos de posses, gostos, status e posição social. Enquanto isso, somos iludimos por artifícios de publicidade e, por falta de consciência, acabamos acreditando que somos semelhantes a eles.

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Os Homens e o Cuidado

A primeira grande briga que tive contra o identitarismo na pauta da humanização do nascimento foi quando afirmei que os homens também poderiam atuar como doulas, desde que a gestante assim o quisesse e aceitasse. Por causa dessa simples afirmação, movida por um desejo de equilíbrio entre os gêneros, fui atacado e cancelado sem dó, acusado de “machismo”. Justificavam este cancelamento afirmando que os “homens estavam invadindo um espaço feminino”. Respondi explicando que nos últimos 50 anos tudo o que vi na sociedade foram mulheres invadindo “espaços masculinos” em todas as áreas da atividade humana, desde médicas até juízas de futebol, passando por pilotos de avião e presidentes da República – o que deveria ser saudado por todos. Não seria justo que os homens também pudessem se aventurar na seara do cuidado? A luta contra o essencialismo não deveria ser uma via de duas mãos – ou uma faca de dois “legumes”?

De nada adiantou minha resposta; fui xingado, ofendido e cancelado. “Como ousa?“, diziam algumas mais furiosas. Pois se há algo que me constitui é a ousadia. Não tenho problema algum em regar inimizades em nome da defesa de ideias honestas e sinceras – mesmo correndo o risco de estar errado. Não levo estas coisas para o terreno pessoal, mas já passados quase 20 anos ainda acho que minha proposta continua correta. A tese contrária à minha era de que “as mulheres foram desconsideradas por milênios, impedidas de fazer tarefas reservadas aos homens. Não seria justo que as poucas coisas reservadas a elas – como o cuidado – fossem agora divididas com quem já controlava quase tudo”.

Respeitosamente discordei. Acredito na lei biológica que diz ser o hibridismo uma característica que fortalece as espécies. Da mesma forma, sociedades com diversidade de gênero nas tarefas comuns aprendem com a diferença de perspectivas que homens e mulheres podem oferecer. A paralaxe que se produz aumenta nossa capacidade de entendimento dos fenômenos e auxilia na resolução de dilemas. Uma mulher que atua em áreas outrora dominadas por homens oferece mais qualidade a este trabalho e ao mesmo tempo aprende com esta nova função. Homens que atuam no cuidado – de doentes, crianças, velhos, gestantes – também cooperam com uma maior diversidade de compreensão do trabalho enquanto se nutrem com o aprendizado que recebem em seu labor.

Quando estive na China havia uma propaganda na TV sobre novas iniciativas de saúde governo. Uma delas era a incorporação de obstetras do gênero masculino na atenção pública ao parto. Na propaganda um marido avançava para atacar um médico quando ele se aproximava para examinar sua mulher. Uma enfermeira intervém e explica que ele é um obstetra, e que não teria nada a temer. Para aquela cultura, a ideia de um homem examinando as partes íntimas de uma mulher era tão estranha quanto o era para o ocidente no final do século XIX. Hoje parece estranho e bizarro um “doulo”, mas talvez sejam barreiras que o tempo vai desfazer. Como saber?

Eu sou testemunha direta desse processo. Vivo ao lado de 5 netos que são constantemente cuidados pelos seus pais homens. As tarefas de cuidado na Comuna são divididas de forma muito equânime, excetuando-se a amamentação. Posso constatar a qualidade de amor paterno que os meus netos recebem e o quanto isso é fundamental na formação ética que recebem. Para um velho, como eu, que foi criado em uma divisão sacrossanta de tarefas domésticas esta foi uma grande revelação. Ver a pequena revolução do cuidado foi um grande presente que a vida me deu. Por outro lado, existem resistências muito fortes, como esta da qual fui vítima. A psicanalista Vera Iaconelli, em um recente artigo, fala da dificuldade de garantir aos homens esta posição:

“A tarefa do cuidado é desprestigiada porque é a menos remunerada, a menos valorizada da nossa sociedade, mas ao mesmo tempo ela serve, paradoxalmente, como um lugar de prestígio para as mulheres, já que se supõe que só elas sabem fazer”, diz.(…) Então a gente tem uma contradição, que faz com que elas sofram nessa posição de exclusividade, mas, ao mesmo tempo, tenham medo de abrir mão de um dos poucos lugares de reconhecimento.”

Para que a sociedade esteja legitimamente no caminho da equidade é fundamental reconhecer esta angústia feminina – e por vezes um rechaço explícito – em relação ao cuidado feito pelos homens com a mesma seriedade que entendemos a relutância destes em assumir a posição de cuidadores, onde será necessário muito mais do que habilidades técnicas e força física – que por milênios foram exaltadas como superiores – mas o desenvolvimento de novas aptidões como paciência, delicadeza, afeto, docilidade, compreensão dos limites, carinho e amor incondicional.

Sim, homens podem ser doulas; mais ainda: podem exercer as funções de cuidado com seus filhos, netos e avós; com os doentes, os acamados, os bebês e todo aquele que necessite da “fraternidade instrumentalizada”. Por mais que a ciência tenha adentrado no âmago das células ela jamais foi capaz de afirmar que o gene do amor se situa apenas no cromossomo X.

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Batalha de La Plata 2

Foi épica a vitória gremista em La Plata contra o Estudiantes de La Plata por um a zero quando já estávamos com um jogador a menos.

O Grêmio tem uma história de jornadas épicas. Acho que o Juremir tem razão: “o Inter é lírico e o Grêmio épico”. É por essas partidas que o Grêmio é sempre o mais temido entre os times brasileiros; nem o Flamengo ou Palmeiras no auge do seus times milionários chegam perto da imagem que o Grêmio tem na América Latina. E essa forma de ver o Grêmio foi construída através de conquistas assim: na casa do adversário, com um a menos, tendo zagueiro ídolo lesionado, jogando a vida, com alguns bagres no time, na raça, na força e na camisa.

Não esqueçamos que o Estudiantes vinha de cinco vitórias seguidas, o estádio estava lotado e o time está prestes a disputar com o Boca a final da Copa da Argentina. Dizem os cronistas portenhos que este é o melhor time argentino da atualidade (o que mostra a crise no futebol deles). Além disso, o Estudiantes é o maior mandante da história da Libertadores. Jogar em La Plata é sempre um drama, um sofrimento que os argentinos conhecem muito bem.

E tem mais: o Grêmio ganhou jogando muito mais do que o adversário. Perdemos muitos gols e merecemos a vitória. Não foi uma vitória conquistada com um “gol achado”; não, foi o resultado de um futebol superior, organizado, com várias chances e imposição, tanto física quanto técnica.

Salve tricolor!!!

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Islamofobia

Resolvi escrever sobre o tema porque vejo o trabalho intenso das identitárias atacando o Irã e fazendo o serviço sujo do imperialismo, o que vem ocorrendo com muita frequência na Internet. Para isso usam fotos retiradas de contexto para disseminar falsidades contra o islamismo, tratando-o como uma “religião do mal”, selvagem, brutal e ofensiva às mulheres. Fazem isso agora, ora atacando árabes, ora ofendendo os persas. Aliás, para estas ativistas, é tudo a mesma coisa.

A foto de cima foi postada em vários sites dizendo se tratar de casamentos em grupo de crianças no Irã. Quem postou foi uma mulher que se diz de esquerda, afirmando que estes países são criminosos e protegem a pedofilia. Quando analisamos a foto e buscamos sua origem (por busca reversa) percebemos que não é no Irã, mas em Gaza e sequer é recente: é uma foto de 2009. E não são noivas na imagem, mas “damas de honra”, um costume milenar que também ocorre no ocidente. São meninas vestidas com o mesmo estilo das noivas para simbolizar a função precípua das mulheres – do presente e do futuro – como guardiãs da vida.

Por certo que esta visão da mulher na sociedade pode ser questionada. Nada nos impede de analisar criticamente costumes sedimentados. Cerimônias, costumes e mitos são transitórios nas culturas; eles refletem os valores sociais e os disseminam. A própria cerimônia de casamento é um reforço dos valores patriarcais, uma celebração da mulher como elemento central da sociedade. No ritual do casamento ela é o centro das atenções e das homenagens, sendo o marido sempre um personagem secundário. Entretanto, ali se estabelece um compromisso deste com aquela, o que forma a base do patriarcado.

Hoje os casamentos são bem diferentes daqueles do início do século passado e antes. Os casais são muito mais velhos, a cerimônia mais curta, a pergunta infame “se alguém souber de algo…” desapareceu e os vestidos são muito mais diversificados. Essas diferenças refletem a mudança de valores: a virgindade não é mais tabu, a submissão da mulher não é explícita, os casais tem múltiplas obrigações, os compromissos e responsabilidades são mais bem divididos, etc.

Todo mundo tem uma antepassada que pariu antes dos 15 anos. Para populações envolvidas em mortes precoces, pestes, guerras e fome não havia como esperar muito; este era um imperativo social, e assim o foi por milênios. O adequado entendimento dos significados e importância da infância nos mostrou que adentrar na maternidade com tão pouca idade era um prejuízo terrível e irrecuperável, em especial para as meninas. Com o tempo fomos abolindo essa prática, até os dias de hoje onde este costume se tornou proibido e até criminalizado.

Os países árabes e os persas também tem essa consciência, apesar de muito dos valores patriarcais mais ultrapassados ainda existirem por lá. Hoje não há como defender a prática de casamentos que envolvem menores de idade, e essa prática precisa ser combatida no mundo todo através da conscientização e da educação. Entretanto, o número de casos de gestação na adolescência no Brasil e nos Estados Unidos (e em todo o ocidente) mostra que este não é um problema exclusivo do Oriente e da Ásia. Nos Estados Unidos, como exemplo, 300 mil crianças menores de idade se casaram entre os anos 2000 e 2018, a maioria delas consistindo de meninas menores de idade casando com homens adultos.

De acordo com a organização Girls not Brides, mais de 2,2 milhões de menores de idade são casadas no Brasil ou vivem numa união estável – cerca de 36% da população feminina brasileira menor de 18 anos. O Brasil é o quinto país do mundo em números absolutos de casamento infantil. Na América Latina, o México fica em segundo lugar, com 1,42 milhão de meninas menores de 18 anos casadas ou vivendo em união estável. Essa situação atinge 26% da população feminina mexicana menor de idade.” (veja mais aqui)

A imagem da festa em Gaza mostra apenas uma cerimônia com meninas fazendo o papel de acompanhantes das noivas, mas o identitarismo busca nesta imagem tratar o Oriente como um lugar onde o abuso é exaltado. Essas imagens são maldosas e oportunistas e seriam tão mentirosas quanto as imagens aqui ao lado, se fossem apresentadas no Irã como o “casamento de crianças no Brasil”, sem apresentar o contexto da cerimônia, onde as crianças ocidentais são apenas “aias” e estão fazendo o mesmo papel das meninas em Gaza. Sobre a foto na Palestina, resta a explicação de quem organizou o casamento coletivo:

“Ahmed Jarbour, o oficial do Hamas em Gaza responsável pela realização da atividade, disse à WND que a garota mais nova a se casar na cerimônia tinha 16 anos. Disse também que a maioria das noivas eram maiores de 18 anos de idade. Jarbour, assim como dois outros oficiais de alto escalão contatados pela WND, se sentiu ofendido pela sugestão de que o Hamas estava financiando o casamento de crianças. Ele explicou que as menores vistas faziam parte da família do noivo ou da noiva. Ele disse que se trata de uma tradição as menores se vestirem de vestidos semelhantes aos das noivas. Disse que as meninas que aparecem no vídeo descendo um corredor com os noivos são membros da família do noivo ou da noiva. Em múltiplas ligações realizadas para os palestinos que participaram do casamento os mesmos afirmaram que as garotinhas não eram elas mesmas as noivas. O Hamas, entretanto, celebrou o casamento como uma vitória. “Nós estamos dizendo ao mundo e à América que eles não podem nos negar a alegria e a felicidade”, Mahmoud al-Zahar, Chefe do Hamas em Gaza, disse aos noivos no evento.”

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Grilhões

Certa vez uma paciente me procurou com um pedido expresso para que eu “curasse seu útero”. Quando perguntei o que ele tinha ela me mostrou uma ecografia onde aparecia um pequeno mioma subseroso, menor do que dois centímetros.

– Estou com anemia, minhas menstruações são volumosas. Conversei com outro médico e ele me disse que o melhor seria tirar fora o útero. A explicação dele me convenceu pois pareceu correta e lógica.

– E qual foi a explicação que ele lhe deu?, perguntei.

– Ele apenas me questionou: “você ainda deseja ter filhos?”. Eu sorri e lhe disse que não, afinal estou quase com 50 anos e tenho filhos adultos. Ele então disse “O útero só serve para abrigar seus filhos ou acalentar um câncer”. Eu concordei; ele me fez ver que estou correndo risco de ter câncer sem ter qualquer vantagem.

Fiquei em silêncio observando minha paciente. Havia na sua expressão uma clara sinalização. Ela estava contaminada pelo medo, instilado pelo discurso do seu médico. Lembrei do famoso axioma sobre as guerras: “Se quiser um povo dócil, deixe-o apavorado. Quanto mais medo tiverem mais eles vão obedecer às ordens de um tirano travestido de salvador, por mais estúpidas que sejam suas determinações”. Da mesma forma, se quiser um paciente manso, obediente, “colaborativo”, deixe-o em pânico. Diga que se não fizer determinados procedimentos, tratamentos, regimes, etc. ele corre o risco de adoecer ou ter uma morte horrorosa, cheia de dor e padecimento.

O médico a quem ela procurou era um cirurgião. Por certo que para um sujeito com esta formação a cirurgia surge quase sempre como a solução para todos os males. “Se você é um martelo, todo problema é um prego”. Ora, nada mais óbvio: se você amputar seu útero – ou sua mamas – por certo que não terá como desenvolver um câncer nestas topografias. Mas seria esta a cura do câncer, ou apenas a retirada de um desconfortável sofá da sala?

O caso não apresentava justificativas para realizar uma histerectomia. O pequeno tumor benigno não estava envolvido em sua anemia limítrofe. O que ela tinha era uma síndrome característica da perimenopausa, um desacerto hormonal que levava à perda aumentada de sangue. Fiz a ela uma proposta simples e aberta: vamos tratar esta anemia, corrigir a menstruação, observar este mioma, usar alguns medicamentos homeopáticos e retornar em 6 meses para uma nova avaliação. Expliquei a benignidade do seu mioma e reforcei a ideia de que arrancar partes do corpo não é a melhor das alternativas, na imensa maioria das vezes. Ela concordou.

Entretanto, o que mais me impressionou foi a facilidade com que as mulheres aceitam a retirada do útero. Quando meu avô fez um tratamento para câncer de próstata, há muitos anos, uma das etapas era a orquiectomia (retirada dos testículos) para diminuir o aporte hormonal para o tumor. Na época ele tinha mais de 80 anos, e sequer lhe foi perguntado antes da cirurgia se “ainda pretendia ter filhos”. Na saída do centro cirúrgico o urologista comentou comigo que no lugar dos testículos foram colocadas duas esferas de silicone para diminuir o impacto emocional da “emasculação” causada pela retirada deles. Ficou claro que, para os homens, um testículo é mais do que um órgão que “faz filhos e câncer”; ele possuía um evidente valor simbólico, o mesmo valor que era sonegado ao útero. Ali estava um aspecto do “machismo” da medicina que era impossível negar.

A cirurgia mais realizada nos Estados Unidos é a cesariana, e logo depois dela, na lista de prevalência, está a histerectomia (retirada do útero), apesar de que estas cirurgias para miomatose terem passado por um considerável declínio nas últimas décadas. A medicina altamente tecnológica americana tem entre as cirurgias mais realizadas intervenções sobre o mesmo gênero e sobre o mesmo órgão. Se acrescentarmos a episiotomia (corte no períneo durante o parto) na equação veremos o quão poderosa é a crença de que o corpo das mulheres é algo que precisa ser monitorado, controlado, melhorado e consertado pela ciência médica, pois acreditamos que este organismo é intrinsecamente defeituoso, problemático, falho e traiçoeiro.

Mais chocante para mim é ver que, além dos interesses de uma cultura médica que desmerece o organismo feminino, existe uma aceitação tácita das próprias mulheres sobre a inutilidade dos seus órgãos. A forma como descrevem a menstruação (algo nojento, ruim, malcheiroso, etc) mostra como as especificidades femininas são mal vistas por muitas mulheres ocidentais. A maneira fácil como minha paciente aceitou a “inutilidade do útero” também foi chocante; como poderia um órgão que é chamado popularmente de “matriz” ou “mãe do corpo” ser tratado com tanta desconsideração. Por seu turno, o testículo é o símbolo da coragem e da determinação – precisa ter “culhão” para enfrentar tantos desafios. Por certo que este fenômeno é um efeito colateral do patriarcado, que desmerece o feminino em nome de uma ordem centrada nos homens, mas acredito que um contraponto muito mais intenso a essa perspectiva deveria ser disseminado entre as meninas.

Minha paciente fez o tratamento pedido, melhorou da anemia e o mioma se manteve estável. Voltou a algumas consultas com clara melhora. Depois disso ela se mudou com a família para o estrangeiro, para viver em outra realidade depois que ela e o marido se aposentaram. Mais de um ano depois da última consulta o marido, em visita ao Brasil, me procura no consultório pedindo um atestado, exames ou um documento dessa natureza. Na ocasião perguntei a ele como minha paciente estava, ao que ele respondeu:

– Ela está muito bem, mas ficou com vergonha de vir aqui. Ela acabou fazendo a cirurgia lá no exterior.

Não há como culpar uma paciente que faz suas escolhas diante da orientação ampla que recebeu. Posso criticar quem realiza cirurgias inúteis, mas não quem faz escolhas informadas. Este caso, entretanto, me ensinou que existem motivações escondidas no fundo da alma que nos levam a ações aparentemente tolas ou inúteis, mas que estão conectadas a elementos simbólicos e inconscientes. Estas pressões internas são, muitas vezes, muito mais fortes e poderosas que as orientações racionais que oferecemos aos pacientes. Ou como dizia meu amigo Max: “estes condicionantes são poderosos exatamente porque estão distantes da razão”. Isso também determina uma posição humilde para qualquer terapeuta: não é justo curar um sujeito para quem um tratamento – por mais justo e correto que seja – é visto como uma violência. É difícil aceitar uma realidade tão dolorosa quanto esta: para muitos sujeitos existe uma paixão inconfessa pelo sintoma. Curar-se significa libertar-se, mas quem de verdade deseja desfrutar de uma vida sem os grilhões que ao mesmo tempo que lhe aprisionam lhe oferecem segurança?

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Um pouco da história tricolor

O time do Hamburgo, vencido pelo Gremio em 1983 na Final do Campeonato Mundial (que colocava frente a frente os campeões da Libertadores e da Champions League), era a base da seleção alemã que jogou o mundial de 1982. Era um time cheio de craques, mesmo que nos últimos anos seja um time apagado na Alemanha. Uma característica das antigas Libertadores (as Libertadores “raiz”) era que, naquela época, apenas dois brasileiros podiam jogar este campeonato – campeão e vice do campeonato brasileiro (a Copa do Brasil só começou em 1989, e foi o Grêmio quem a venceu). O Grêmio entrou nesta Libertadores por ter sido vice campeão do campeonato vencido pelo Flamengo de Zico, Júnior, Adílio, Raul e Nunes em 1982. Compare com hoje: até 9 clubes brasileiros (como em 2022) podem participar de cada edição da competição. Naquela época era  muito mais difícil chegar a uma final mundial.

Lembremos também que o Grêmio foi campeão da Libertadores em 1983 jogando contra o campeão mundial de 1982, o Peñarol de Fernando Morena. Foi campeão depois em 1995 jogando na Colômbia contra o Nacional de Medellin, de Higuita, base da seleção que foi à Copa de 1994. Depois foi mais uma vez campeão na Argentina, em Buenos Aires contra o Lanús, time que desclassificou o poderoso River Plate no Monumental de Nuñes.

Ou seja: ganhamos de grandes times das três maiores praças futebolísticas sulamericanas: Uruguai, Argentina e Colômbia, duas delas fora de casa. A Libertadores que ganhamos em casa foi contra o campeão do Mundo, o Peñarol. Depois disso, disputamos 3 finais mundiais e só perdemos para o maior Real Madri deste século, de Ronaldo e Casemiro. Ganhamos do Hamburgo e empatamos com o Ajax.

Para comparar, o nosso coirmão jogou uma final caseira contra o São Paulo e outra contra um time mexicano, ambas no Beira Rio. Nem de longe se compara à epopeia das Libertadores do Grêmio, que teve até a “Batalha de La Plata”, quando houve derrubada de alambrado pela fúria da torcida Argentina e espancamento de jogador gremista no túnel quando se dirigia ao vestiário. Os colorados jogaram apenas uma final de campeonato mundial, e na outra disputa que participaram perderam ainda na semifinal para um time do interior do Congo, cuja cidade ninguém lembra qual é. Esse time congolês hoje está imortalizado, dando nome a um viaduto de Porto Alegre.

Sejamos justos…. basta comparar as histórias.

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Éfe Agá Ce

Triste a derrocada do “intelectual da esquerda”, o “príncipe dos sociólogos”, o presidente sábio, a grande esperança da esquerda limpinha (branca). Ele representa o grande sonho de Platão de conjugar em uma única pessoa a sabedoria e o poder de transformar a sociedade. Fernando Henrique é a prova (ainda) viva de que boas palavras, uma formação acadêmica robusta, respeito dos pares e boas ideias são instrumentos frágeis, totalmente incapazes de produzir real transformação social. Para uma revolução que retire o Brasil de uma posição subalterna é preciso estar ao lado da classe operária, a classe que constrói a sociedade na qual vivemos; ele fez o oposto disso ao entregar o patrimonio nacional nas mãos do capitalismo predatório e voraz.

Fernando Henrique Cardoso foi o responsável por destruir um partido (o PSDB) e o principal envolvido em sepultar a perspectiva da social democracia como força política viável. Ele demonstrou que os liberais de esquerda (como ele) diante das dificuldades de um mandato ou das vicissitudes no exercício do poder rapidamente entram em conluio e se associam à direita mais radical e fascista, jogando para o alto suas propostas de outrora. Por isso o partido que ele criou para ser a voz da social democracia nos últimos anos se tornou a facção mais furiosa do bolsonarismo. Dória, Eduardo Leite, Marchezan são exemplos claros dessa derrocada.

“Esqueçam o que escrevi” pedia FHC enquanto ainda presidente. Faremos mais que isso, por justo respeito à sua idade: vamos esquecê-lo, sepultar suas propostas e reconhecer nosso erro em acreditar que sua cultura e formação seriam um contraponto ao seu liberalismo privatista nefasto.

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Scrooge

A história do “morto muito louco” que foi manchete no Brasil – e mesmo fora daqui – e envolve uma mulher levando um homem já morto (aparentemente seu tio) ao banco para solicitar um empréstimo, me fez recordar uma antiga história ocorrida na Liga Homeopática, em meados dos anos 90 do século passado.

Naquela época era nosso paciente um sujeito por volta dos 80 anos chamado Joaquim (nome fictício). Sofria de um quadro de DBPOC (doença bronco pulmonar obstrutiva crônica) decorrente de mais de meio século do uso de cigarros. Era um sujeito bem simples, separado, ex-funcionário publico. Sua ex-esposa vivia em uma casa de repouso e estava em estado terminal de Alzheimer, mas ele cobria com sua aposentadoria todas as suas despesas. Teve um único filho que morreu muito cedo de câncer, deixando uma neta adolescente que ele via uma ou duas vezes por ano.

O grande amor de sua vida era sua única irmã, mais moça que ele, uma senhora que também era paciente na Liga Homeopática e que se tornou muito grata pela melhora impressionante que o tratamento havia produzido em seu irmão. Seu Joaquim tratava essa irmã com todo o carinho e a admiração que um irmão é capaz de devotar. Falava dela e das sobrinhas com imenso afeto, admiração e, acima de tudo, gratidão. Durante muitos anos ele era “figura carimbada” nas manhãs de quarta-feira na porta da Liga Homeopática, “lagarteando”, escutando seu radinho de pilhas (sempre sintonizado na rádio Guaíba) e vestindo seu indefectível abrigo amarelo.

Depois de muitos anos de melhoras, inclusive nos aspectos emocionais (“ele deixou de ser um sujeito intragável e insuportável”, diziam os amigos), ele teve uma piora significativa do quadro respiratório e foi internado no hospital. Durante esse período internado fomos visitá-lo, mas as décadas de tabagismo estavam finalmente cobrando seu preço amargo. Depois de algumas semanas de piora crescente ele finalmente veio a falecer. Algumas semanas depois do falecimento do Seu Joaquim a irmã volta a consultar e pergunto como estava se sentindo com a morte do irmão. Ela disse que seu quadro respiratório era mesmo dramático e que sua estada no hospital foi muito desgastante. “De certa forma me sinto aliviada”, disse. Foi então que ela relatou a curiosa história oculta do seu irmão.

Quando estava ainda consciente, apesar da intensa dispneia, Joaquim pediu que chamassem a gerente do banco para criar uma conta conjunta com a irmã e com isso evitar que suas despesas com medicamentos – e até seu funeral – fossem pagos por ela. Disse que tinha um dinheiro reservado que seria suficiente para estas despesas. A irmã disse para ele não se preocupar, que tudo ia dar certo, que em breve ele ia voltar para casa, mesmo sabendo que essa hipótese era pouco provável. Com o correr do tempo o quadro, como era de esperar, piorou ainda mais.

Alguns dias depois dessa conversa, a própria gerente do banco compareceu à UTI do hospital e encontrou a irmã. Disse a ela que o Sr. Joaquim havia lhe pedido para assinar documentos dando à irmã livre acesso aos seus depósitos. A irmã então concordou e pediu para que ambas entrassem no recinto da UTI. Quando lá chegaram encontraram Joaquim semiconsciente, incapaz de entender as determinações e sem condições sequer de segurar a caneta com firmeza para assinar os documentos.

“Seria criminoso fazê-lo assinar qualquer coisa, mesmo que seja para seu próprio bem. Não se preocupe com as despesas; eu pagarei tudo pelo meu irmão”. Essas foram as palavras da irmã à gerente, que apenas respondeu “É uma pena. Ele gosta muito da senhora”.

Depois do falecimento de Joaquim a irmã se tornou a curadora temporária de seus pertences. Foi ao banco com os documentos e foi atendida pela mesma gerente que encontrou no hospital. Ela a recebeu com um sorriso e mostrou a ela a conta que Joaquim tinha no banco.

A irmã tomou um susto: a conta era milionária. Milhões depositados na poupança e outros investimentos. Não lembro do exato valor e até porque os valores nominais de três décadas atrás não fariam sentido hoje, mas na época eu lembro que era algo como o valor capaz de adquirir vários apartamentos. Ela não sabia como o irmão poderia ter tanto dinheiro. Depois disso, junto com seu marido, ela se encarregou de esvaziar o apartamento do irmão. Era um apartamento alugado, um JK simples no bairro Menino Deus, a poucas quadras da Liga Homeopática. Um lugar escuro e bastante bagunçado, com muitos livros, papéis velhos, documentos, móveis em mau estado e pouquíssimas roupas. No meio das gavetas encontrou um envelope pardo contendo papéis. Ao investigarem do que se tratava descobriram que eram letras de câmbio ao portador de uma grande empresa gaúcha, que ele havia comprado há muitos anos e que, depois de investigar, descobriram que valia milhões. Um tesouro escondido num JK escuro e caótico. Seu Joaquim era um homem muito rico travestido de um velho de hábitos simples.

– E o que aconteceu com todo esse dinheiro?, disse eu ainda espantado com a história do seu Joaquim.

Ela contou que foi tudo para a neta, que morava em outro Estado e tinha desprezo pelo avô. Durante anos a garota só o procurava para pedir dinheiro, mas a justiça não quer saber dos afetos: a lei determinou que ela fosse a única herdeira, recebendo os milhões do avô. Seu Joaquim era um personagem de Dickens, inclusive na aparência. Ele era uma versão moderna de Ebenezer Scrooge protagonista de “Um Conto de Natal” de 1843, que mais tarde inspiraria a criação do personagem Tio Patinhas (uncle Scrooge McDuck), por Carl Barks em 1947. Seu Joaquim era um avarento, ranzinza e pão-duro, mas que tinha na figura da irmã sua conexão com a gratidão e o afeto. A irmã foi seu porto seguro de amor e proteção durante os anos em que viveu isolado e contando seu dinheiro. Infelizmente, a fortuna que acumulou não foi deixada para quem mais a merecia mas, como bem o sabemos, a vida raras vezes é justa como gostaríamos.

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