Arquivo do mês: setembro 2015

Pra não dizer que não falei de flores

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Doula NÃO é uma profissão, e talvez nunca seja. Uma profissão envolve regras, modelos, controle externo, conselhos de classe, punições, etc… Não sei se a “fraternidade instrumentalizada”, no dizer de Max, se adaptaria a este tipo de regramento. Seria possível a profissão de “amigo”? Poderíamos fazer cursos para que a amizade fosse mais sólida, mais honesta, consistente? Podemos regrar a compaixão e o carinho? “Olha, recomendamos massagens na região lombar até cinco minutos, em séries de no máximo cinco insistências. As evidências nos dizem que…”. Não acho que a subjetividade de um parto possa se adaptar a este tipo de protocolo.

Bem, se a doula não é uma profissão, ela é o quê?

Ao meu ver a doula é uma FUNÇÃO, que pode ser exercida por muitas pessoas e por várias profissões. A mãe pode ser, a irmã, a cunhada e até o marido. Todos os grandes estudos internacionais que atestam a importância e a qualidade da assistência prestada por doulas foram feitos com pessoas que exerciam essa função sem nenhum preparo prévio além da sua ligação afetiva com a gestante.

Ok, mas o marido pode ser doula? Sim, até o marido. Entretanto, mesmo sabendo que ele “pode” exercer a função de doula eu sempre digo que não é justo com ELE pedir para que tome conta dessa tarefa. E isso ocorre porque os maridos também estão diante de um processo transformativo difícil e penoso que é tornar-se pai. Existe para eles uma tensão muito grande, junto com medo, apreensão e angústia. Pedir a eles que exerçam essa função pode ser desgastante e complexo. Em outras palavras, os maridos também precisam ser “doulados“, em muitas circunstâncias.

Se a doula é uma função ela pode ser exercida por qualquer pessoa que tenha o desejo de ajudar e que tenha consciência dos LIMITES de sua atuação. Mas é claro que os LIMITES são as questões mais tensas no debate sobre as doulas.

Entender limites é olhar através de uma descrição do que a doula não é, a partir do que ela NÃO faz.

Uma doula não é uma profissional de saúde. Ela NÃO realiza nenhuma ação de enfermagem ou médica.

NÃO verifica pressão,
NÃO avalia apresentação ou dilatação do colo uterino,

NÃO verifica batimentos do bebê,
NÃO mede a barriga da paciente,
NÃO avalia bem estar materno ou fetal,
NÃO atende parto; atende gestantes em suas necessidades emocionais e físicas.

É claro também que uma médica obstetra, uma obstetriz ou uma enfermeira podem exercer o papel de doulas. Entretanto, se elas estiverem nessa função OUTRA PESSOA deverá estar ocupada com a assistência ao parto, sob pena de sobrecarregar a(o) profissional que presta o atendimento. Uma das características mais importantes das doulas é a possibilidade de que os profissionais se ocupem exclusivamente da atenção técnica do parto, deixando as ações de relaxamento, tranquilização, alimentação, movimentação etc.. com as doulas.

Para além das doulas nós temos os profissionais que são regulamentados para a atenção ao parto: médicos obstetras, médicos de família, enfermeiras e obstetrizes. São os “skilled attendants” que tanto exaltamos. As funções deles são razoavelmente claras: somente os médicos podem atender desvios da normalidade, as patologias e as cirurgias, e aos enfermeiros e obstetrizes cabe a atenção ao parto “eutócico”, sem anormalidades perceptíveis.

Doulas exercem uma função para a qual existem muitas técnicas no sentido de facilitar o bom posicionamento fetal, assim como acupressura, hidroterapia, massagem, ritmicidade etc, mas a excelência do seu trabalho está na transferência afetiva que ela pode oferecer às gestantes com a sua presença. Mesmo sem qualquer técnica ou qualidade especial a doula, ainda assim, terá uma grande ação para facilitar o trabalho de parto e o parto. As trocas emocionais que são produzidas pela presença da figura amorosa e carinhosa da doula são a chave para entender os resultados positivos da sua utilização. As técnicas, todas elas, vem como um valioso acréscimo.

Desta forma, não há porque confundir as ações das doulas com a de qualquer profissional da saúde na atenção ao parto. Doulas não fazem trabalho redundante e não tiram o lugar de ninguém. Elas vem se somar às equipes médicas e de enfermagem para que a paciente se sinta acolhida em TODAS as suas necessidades.

“Doulas são como flores de cactus brotando da aridez desértica da tecnocracia” (Max)

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Empatia

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Sem a construção única, invisível e essencial da conexão nenhum regramento será possível para o contato terapêutico. Não é possível dissimular o vínculo mediado pelos sentimentos de empatia. Quando o gesto se contrapõe ao coração, o primeiro se plastifica, e o segundo desaparece.

Maria Mercedes Ortega, coluna do Jornal Jalisco Hoy, jan/1982

Maria Mercedes Ortega, foi uma psicanalista e escritora mexicana, que durante muitos anos foi presidente da Associação Mexicana de Escritoras. Nasceu em Temixco em 1926, vindo a falecer em Jalisco em 1990, de insuficiência cardíaca. Escreveu vários livros sobre o tema da sexualidade numa abordagem psicanalítica e manteve uma coluna semanal no jornal “Jalisco Hoy” por mais de 25 anos, onde abordava temas como sexualidade, costumes e atualidades. Foi casada com o deputado do PRI Javier Domingos Palacios, e teve dois filhos: Jacinta e Juan.

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Testosterona

Sei que sou odiado por isso, mas concordo com a visão crítica que Camille Paglia tem do feminismo contemporâneo. Sua visão ácida e contra hegemônica me atrai por oferecer um contraponto ao lugar comum da visão feminista corrente. Entretanto, existe um outro aspecto que considero importante, apesar de não ter sido tratado por ela nesta breve entrevista: a marginalização dos meninos na escola, prensados entre as dificuldades da formação da identidade masculina e uma educação feminina, gerenciada por mulheres e para meninas. Veja a entrevista em Entrevista com Camille Paglia – “As Mulheres Venceram”

Quem é homem, e sobreviveu à escola, sabe que nossas válvulas de escape eram as aulas de educação física, os combates épicos no futebol de “areião“, os gracejos desafiadores nas aulas, as brigas “na saída” e a baderna. O resto era o estímulo incessante a um comportamento feminino, dócil, cooperativo, educado e submisso aos poderes e autoridades. Não se constrói uma sociedade que almeja mudanças colocando estes valores acima de todos os outros. Existe algo da insaciabilidade testosterônica que falta na educação tradicional. Há uma falha em reconhecer e trabalhar com a impetuosidade desafiante dos meninos, o que gera ressentimentos e inconformidades.

Se o seu filho nunca causou confusão na escola talvez você precise saber qual a razão de tanto conformismo.

A escola sempre ofereceu uma educação de mulheres e para meninas. E sempre foi machista. Portanto, dizer que a escola é “machista” e é para “mfundaseninas” é um falso dilema. Se as mulheres são oprimidas por uma educação machista (e o são, aparte da proteção que também recebem) isso não invalida que essa educação é para elas, levada a cabo por mulheres em sua imensa maioria, e que desconsidera as características masculinas. O mundo não se explica apenas pela ótica da opressão feminina.

Esse modelo obstruir EM ESPECIAL a natural inserção testosterônica masculina, emasculando a sua força criativa.

A escola oferece uma educação em que os valores da feminilidade são exaltados e os da masculinidade reprimidos. É isso apenas o que digo, e nesse ponto estou de pleno acordo com a autora. Quem é MAIS prejudicado não é objeto da minha análise. A escola sofre as mesmas constrições do patriarcado como qualquer outra instituição humana, mas é – ao contrário de outras como a Igreja ou a medicina – supressora das características masculinas. E os meninos se ressentem por não terem uma educação que auxilie na resolução de seus conflitos e que não os valorize pelo que são. Não é à toa que a evasão escolar é MUITO maior entre meninos do que entre meninas. Eles vão “procurar a sua turma”.

Camille Paglia fala de masculino e feminino. Fala da cultura gay também. Essas generalizações são didáticas e procedem. Quando se diz que a competitividade é mais masculina também generaliza, mas está correta. A educação, insisto, é demasiado feminina e não precisava ser assim. Vale a pena comentar este ponto em particular das ideias de Camille porque acho que ela está correta. O isolamento feminino que ela aponta – pelo desaparecimento dos grupos de mães nas tribos e comunidades – é ainda mais marcado e cruel no parto e maternagem. O círculo de apoio feminino que as mulheres sempre receberam terminou com a “emancipação” feminina. Agora é “cada uma por si mesma”. As tarefas tradicionalmente femininas ficaram ainda mais pesadas, como gestar, parir, amamentar e maternar.

Os meninos são vítimas de um modelo que tem a educação feminina como paradigma. E também concordo que a performance superior das meninas na escola é uma “vitória de Pirro“, pois não se traduziu até agora em uma equalização nas relações de gênero. Ainda há muita coisa a ser feita nesse sentido.

Quanto a “ajudar” nas tarefas domésticas… ora, sejamos maleáveis. Estas foras as funções tradicionais das mulheres até duas gerações atrás. A ideia de dividi-las é muito recente. Entretanto, nada ouço sobre a divisão de tarefa dos lixeiros, operadores de britadeira, estiva, mergulhadores de profundidade e frente de combate. Se vamos exigir equidade, é para todos os lados. O que Camille salienta é que as mulheres venceram neste aspecto ideológico, mas é fácil perceber que o mundo ainda é regido pelo patriarcado, mesmo cambaleante e decadente. É disso que o texto dela trata, e não da necessidade de proteger as mulheres contra a violência.

Os homens querem mais participação das mulheres nas tarefas que matam milhares de homens todos os dias, como a polícia e o exército. É muito pesado para eles. Trocamos tal peso pela limpeza da louça suja e pela arrumação da casa. Para debater a questão dos valores do masculino e do feminino você precisa concordar com a existência de valores culturalmente associados ao feminino. Caso contrário o debate torna-se estéril. Cooperação, docilidade, aceitação, afetividade em contraposição à competição, disputa, imposição, firmeza e luta.

As mulheres nascem nesta posição delicada no jogo de poderes porque ficam gravidas e frágeis. Só agora é que podemos igualar isso, através da tecnologia. O Velho Testamento, em especial, marca o surgimento teológico do Patriarcado. Entendam que isso está escrito na Bíblia para marcar uma sociedade com a “virtude varonil“. Podemos achar errado ou estranho tais conceitos hoje, mas há 5 mil anos os povos que assim se organizaram – através da força inegável do patriarcado – foram os vencedores, e foram esses povos que geraram mulheres de quem VOCÊ MESMA é descendente. Os povos mais igualitários, foram TODOS dizimados ou subjugados.

O patriarcado era uma necessidade vital para um mundo que acabava de ser apresentado à posse e ao sedentarismo. Suas descendentes que viviam naquela época JAMAIS aceitariam um mundo IGUAL !!!!! Elas precisavam de filhos e maridos fortes para protegê-las para que, assim seguras, pudessem parir seus filhos. Não há nenhuma superioridade moral em não fazer guerras. Se isso fosse verdade os paraplégicos seriam moralmente superiores, pois nunca vi um assaltando bancos ou matando gente. Ora… no mundo em ebulição na virada do neolítico era fundamental esta divisão de tarefas para garantir a posse da terra. Achar que a Bíblia desejava “oprimir” as mulheres por pura misoginia não encontra respaldo na ciência. A misoginia é a consequência de um mundo que precisa ser regido pela FORÇA, e não pela graça, charme ou beleza.

Com este tipo de entendimento mais abrangente do sistema de poderes sociais fica claro entender que as mulheres não nascem submissas, e nem os homens opressores. Elas nascem mais frágeis por causa do ciclo gravido-puerperal, e ISSO (e não a maldade dos seus maridos) as torna mais suscetíveis às ameaças. Todavia, como são importantes matrizes, as sociedades sempre as protegeram. O patriarcado se organizou nesse sentido: manter a terra e proteger as mulheres. A opressão é a consequência disso, e não sua origem. Mais uma vez convido a todos que se interessam pelo tema a ler os últimos achados antropológicos que confirmam esta ordenação clara sobre os modelos patriarcais, inclusive no que diz respeito às culturas primitivas pré-agriculturais, que não eram opressoras mesmo na vigência da superioridade física dos homens.

E você sabe por quê? Porque os homens amam suas mulheres e são amados por elas. É por isso que o patriarcado vai acabar, pelo amor que eles sentem uns pelos outros. De nada vai adiantar o discurso de ódio contra os homens, e nem a misoginia violenta e degradante: a natureza é sábia e vai equalizar a sociedade baseando-se nesse princípio de desejo e amor.

O que me deixa triste é ver que as agressões contra as mulheres recebem o justo e firme combate da sociedade, mas o ódio aos homens e o desprezo pelos valores masculinos – explícito ou implícito – é considerado normal e mesmo exaltado como algo positivo e construtivo. Ódio não constrói nada, mas quando é que vamos incorporar essa verdade na nossa prática?

Falsa Simetria” é um mantra feminista. Ele equivale ao “holocaust card” que eu falei anteriormente. Quando se reclama que Israel mata, despedaça e humilha covardemente os palestinos, imediatamente um oportunista aparece com a “cartinha do holocausto” e coloca na mesa, imaginando ter em mãos as cartas definitivas que terminam qualquer debate. “Mas como queres falar de massacre contra mulheres, crianças, escolas e hospitais na Palestina, se os judeus foram massacrados na segunda guerra mundial em mais de 6 milhões. Isso é uma falsa simetria. Essas mortes em Gaza não são NADA comparadas ao que sofremos”. Com esse discurso QUALQUER arbítrio, assassinato e barbárie fica automaticamente justificado e perdoado.

Algumas feministas sempre usam esta retórica vitimista (mas que lucra com sua posição sofredora) para justificar o ódio e o preconceito contra o masculino e os homens, usando o fato (verdadeiro e digno de ser combatido ao extremo) de que muitas mulheres são discriminadas, mortas, abusadas e sofrem preconceito. Usam esse fato horroroso não para angariar simpatizantes – inclusive os poucos homens verdadeiramente dispostos a combater as amarras do patriarcado – e combatê-lo, mas para JUSTIFICAR os SEUS PRECONCEITOS (contra os homens serem doulas, contra homens terem guarda compartilhada, para exercer a nojenta alienação parental, etc…) dizendo que “isso é mimimi de macho, quem sofre mesmo somos nós”.

No campo do trabalho existem tarefas MORTAIS (o que faz com que a expectativa de vida dos homens seja MUITO menor do que a das mulheres em, qualquer lugar do mundo) que historicamente os homens realizaram, mas que as mulheres ainda continuam achando que “é natural que eles carreguem esse peso, afinal, eles são homens“. Quando uma mulher diz para o marido ir ver “que barulho foi esse na garagem“, isso é natural, afinal nesse EXATO momento (de perigo) ele é (oportunisticamente) o “homem da casa“. Mas experimente ver um marido dizer para uma mulher ir lavar a louça, afinal, essa é a “tarefa da mulher da casa“….

Ah, é mimimi de macho, não é? Mas… se as  verdadeiras defensoras da igualdade  de gênero (ou da equidade, se preferir) deveriam combater os preconceitos em TODAS as frentes, e não apenas naquelas que lhes oferecem vantagens.

Por último, eu acho que o diferencial biológico feminino torna as mulheres psicologicamente e culturalmente distintas dos homens, pois cultuam valores e modelos diferentes na tradução do mundo. Como dizia meu colega Max, “Carregar um filho no ventre não é uma tarefa impune“. Há um preço a pagar (e isso nada tem a ver com tarefas domésticas) e uma consequência: o surgimento da dor, da angústia e do amor.

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Slow Medicine

Marco Bobbio

Faz algumas semanas eu publiquei uma série de mensagens sobre um autor que eu havia recentemente conhecido chamado Marco Bobbio e que liderava em seu país, a Itália, uma campanha semelhante a um movimento que existe nos Estados Unidos chamado “Choosing Wisely” que tem como mote principal a ideia de que “Fazer mais não é fazer melhor“. A proposta, que agora percebo se espalhar pelo mundo todo, é a “suavização” da prática médica diminuindo os exames, pesquisas e procedimentos em todas as áreas que não se mostram positivos e que podem inclusive induzir ao erro ou produzir dano.

Por uma coincidência maravilhosa o professor Bobbio esteve palestrando hoje ao anoitecer para um seleto grupo de não mais de 15 pessoas no hospital que eu atendo. Depois de uma maratona de 3 partos e mais de 24 horas sem dormir, fazendo “plantão” no hospital, ainda tive energias para escutar as suas palavras.

O que eu mais senti na palestra do Dr Marco Bobbio, além da necessidade urgente de modificar o modelo de atenção à saúde no mundo inteiro, foi a importância que ele – um cardiologista – percebe na atenção ao parto como um dos exemplos mais gritantes do uso excessivo de exames, diagnósticos e tratamentos. Ficou claro que o parto – pelas questões de gênero envolvidas – é um dos campos da medicina mais evidentemente afetado pela tecnocracia. Por outro lado, outro sentimento se apossou de mim. Eu senti um orgulho muito grande do movimento de Humanização do Nascimento no Brasil que faz “slow medicine” (termo que está sendo difundido para uma medicina “low tech – high touch”) há décadas através dos nossos movimentos sociais. Entretanto, entre o discurso histórico da ReHuNa e os propagadores da “Choosing Wisely” existem diferenças marcantes e que são muito evidentes quando se observa a origem, percurso e visão de futuro que cada uma dessas proposta carrega e divulga.

O que se percebe no modelo proposto pelo Dr Marco Bobbio é que o “Choosing Wisely” americano ou a sua vertente italiana “Fazer mais não é fazer melhor” é que ainda são propostas medicamente centradas, iatrocêntricas e que ainda se baseiam em um modelo autoritário mesmo quando a proposta é produzir uma “horizontalização” da atenção. Muito se fala em MBE – Medicina Baseada em Evidências – como condutora principal das ações, mas ainda não é tão marcante a ênfase sobre os paradigmas, as mitologias contemporâneas (como a transcendência tecnológica) a pressão econômica e a violência das grandes corporações farmacêuticas como condutoras de ações na área da medicina. As ideias desses movimentos até abrangem a “medicina defensiva”, e o medo dos processos como propostas de hipermedicalização, mas não tangenciam de forma marcante e clara as outras forças sociais que impulsionam os tratamentos e a diagnose para um caminho diverso da excelência.

O que nós no Brasil temos como grande virtude é que a Humanização do Nascimento, durante os últimos anos, nunca se deixou engolir por um discurso positivista, medicalizado e organicista. Pelo contrário: a Humanização do Nascimento iniciou como um movimento social e até hoje se mantém assim. Este discurso jamais foi cooptado pela Medicina, nem por outros ramos do saber, até porque é da sua origem entender que as verdadeiras mudanças só podem ocorrer pela base, e não por deliberações determinadas por notáveis profissionais da saúde, portadores de verdades inquestionáveis. A característica única e marcante das nossas pautas – que mescla a Saúde Baseada em Provas com a ideia de um movimento social de consumidores, parceiros(as), gestantes, psicólogas, médicos(as), enfermeiras(os) etc – é o que nos oferece singularidade e força.

Tive uma breve oportunidade de conversar com o Dr Marco Bobbio após a sua brilhante exposição, e pude lhe dizer da satisfação de ver este movimento crescer no mundo inteiro. É fundamental observar o momento de crise – ética, profissional, econômica – da Medicina para elevar a sua qualidade. Falei-lhe por poucos minutos da ReHuNa e seu compromisso com partos humanizados e recebi dele a chancela de que estamos no caminho correto. Disse-lhe ainda: “Sem que procuremos uma mudança paradigmática profunda na sociedade, este movimento não irá a lugar algum. O abuso de procedimentos não é uma crise médica, é uma crise da sociedade capitalista, e é sobre ela que devemos agir de forma mais intensa e decisiva“.

O professor concordou com minhas palavras, apertou fortemente minha mão, e sorriu…

Arrivederci maestro!!!“, disse eu. Um dia para ficar na memória.

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Imigrante

Imigrante

Imagine a seguinte situação hipotética. Em função de erros na condução da minha vida pessoal e familiar, por culpa minha e do contexto em que vivo, sofro uma perda financeira catastrófica e fico incapacitado de manter-me no local onde sempre vivo com minha família. Essa é uma “pequena” tragédia familiar muito comum no mundo contemporâneo. Felizmente meu irmão, apiedando-se da minha situação dramática, me convida a morar em sua casa. Para lá me dirijo contrariado, levanto minha família e minhas frustrações, pois se pudesse desejaria continuar na minha casa. Infelizmente isso não é mais possível. Ela foi vendida, perdida, confiscada ou nem existe mais, e no seu lugar restam escombros.

Na casa do meu irmão é tudo limpo e chique. O ônibus para na porta. Próximo de lá existe uma boa escola para os meus filhos. O bairro é seguro e tranquilo. Meu irmão e minha cunhada me tratam bem; minhas sobrinhas idem. Tudo parece bom.

Os moradores do prédio não falam comigo, mas apenas porque não me conhecem. O porteiro pediu para que eu subisse pelo elevador de serviço, mas expliquei que estava morando ali, no apartamento do meu irmão. Ele parece ter entendido, mas depois eu soube que ele ligou para confirmar com minha cunhada. Ele é uma boa pessoa, apenas se enganou.

Ontem meu irmão ralhou com sua filha por ela ter comido todo o doce que estava na geladeira, mas ela explicou que foi meu filho quem o comeu. Fiquei em silêncio e constrangido, mas meu irmão tentou dizer que se enganou e que, afinal, não havia problema algum. Meu filho chorou envergonhado. Minha mulher também ficou triste ao ouvir um comentário de que a conta de luz está mais alta ultimamente.

Precisei ligar para conseguir um emprego e, como meu irmão e minha cunhada não estavam em casa, pedi licença para a minha sobrinha de 7 anos para usar o telefone . Depois me senti envergonhado por ter feito isso. Humilhado seria um termo melhor.

Sou bem tratado aqui, pelo menos na minha frente todos são gentis e educados, mas sei que as pessoas falam pelas minhas costas. Os serviços são bons, e a escola é próxima. Minha mulher está bem adaptada. As crianças estão seguras. Como poderia ousar reclamar?

Entretanto – sei que é complexo entender – aqui eu sou convidado e minha presença é tolerada, pelas circunstâncias. Sou bem recebido no prédio, mas algumas mulheres mais ricas de lá simplesmente viram a cara para mim no elevador.

Se eu pudesse abriria mão de todas as aparentes vantagens que tenho para ter minha casa de volta. Não queria ter o constrangimento recidivante de não ser dono de nada, de não ser igual às pessoas com quem convivo no lugar onde moro. Ter autonomia e liberdade, ser reconhecido como um igual e com os mesmos direitos, não tem preço.

É possível que isso seja uma especial sensibilidade minha. “Frescura” diriam alguns, dizendo ser imoral reclamar com a barriga cheia. Já ouvi dizer de muitas pessoas que dão de ombros quando escutam “vá para sua casa”, “você não é bem vindo“, mas isso para mim tem uma sonoridade destrutiva.

Eu sei a dor de não ser dono do chão em que caminho.

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Uma Crítica à Veneração

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(Um elogio à iconoclastia sistemática)

Será mesmo que podemos abrir mão da iconoclastia?

Serão realmente desnecessários os franco-atiradores que tentam solapar as “verdades” que com tanto amor nos aferramos?

Veja bem, não tenho nenhum gosto especial em ler os escritos difamatórios contra personalidades ou ideias. Entretanto, não serão eles apenas remédios muito amargos que necessitamos tomar para a depuração de uma doença insidiosa chamada “veneração”? Não serão eles importantes elementos para a cura da nossa credulidade cega nas personalidades e descobertas do passado? Não serão fundamentais tais críticas para que possamos enxergar o que de humano havia por detrás de figuras mitificadas da ciência, filosofia, artes e do conhecimento em geral?

Sei que a busca insana pela iconoclastia é aparentemente obsessiva, talvez até doentia. Mas e daí?

Entendo que a iconoclastia pode trazer prejuízos à sanidade de quem a professa ao apresentar um viés mais obscuro aos fatos, para contrastar com o nosso, que é suave e brando com as falhas de nossos mentores. Entretanto, a insanidade do nosso irmão pode ser de ajuda para se chegar mais perto de uma verdade límpida.

Seria lícito impedir críticas a Einstein, provando a falsidade de algum dos seus experimentos, apenas porque ele “não está aqui para se defender“? Ora, nenhum físico realmente sério desprezaria FATOS em nome do culto à personalidade do mestre de outrora. Se tais fatos forem mentiras, cairão por terra com o passar do tempo. Se forem, entretanto, verdades é importante que estejamos preparados para assimilá-las.

Repito: não há porque eleger figuras intocáveis nas ciências e nas artes, como de regra em nenhum ramo do conhecimento humano. Os gurus são paralisantes, e sua existência depende do esvaziamento de seus seguidores. Eliminar indivíduos “acima de qualquer suspeita” é humanizar o conhecimento e a “verdade”.

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Mônica

mônica

Nas histórias de Maurício de Sousa a personagem Mônica batia nos meninos da rua, e esta era a característica que fez sua fama e sua imortalidade. Ela era protagonista e poderosa, figura central da trama (era a “Turma da Monica”) mas sua forma de reação diante das contrariedades era através da violência física explícita.

Seria ela a personagem a anunciar uma nova mulher que abandonava os estereótipos femininos (candura, docilidade e submissão) desde a mais tenra infância, mas para isso tendo de mimetizar as estratégias de dominação violentas masculinas? Seria Mônica o protótipo da nova mulher que – assim como Batman anunciara o homoerotismo na cultura – nos trazia a nova postura feminina para o século XXI? Ou podemos achar que se trata de uma coincidência, apenas histórias sem um objetivo e sem ter uma conexão com o campo simbólico por onde circulavam?

No creo en coincidéncias. ..

Monica era uma personagem baseada na filha de Maurício de Souza, inclusive nas suas principais características. Hoje a filha é executiva das empresas. Mas se é baseada ou não na realidade é o menos importante, até porque ele poderia escolher outras qualidades dela como exemplares e definidoras, mas preferiu destacar sua força bruta e violência.

Batman também. O criador disse que jamais pensou em Batman como um personagem gay, mas aqui cabe a pergunta: por que a solteirice, a amizade com Robin, a criação especial (sendo mimado pela tia), a figura paterna frágil de Alfred e o sofrimento brutal, cuja indignação o leva a ser o “paladino da justiça“, sublimando sua dor (a constrição sexual) através da luta contra o crime?

Mas a Mônica era violenta. Espancava os meninos. Não era apenas protagonista das histórias, mas além disso usava os recursos masculinos de subjugar através da violência, os quais são naturalmente masculinos, por isso tão universais. Isso existe antes mesmo da cultura: tem a ver com a testosterona, a estatura, a configuração muscular e a fragilidade imposta pela gravidez às fêmeas da espécie.

Mas aqui me refiro, evidentemente, à violência explicitamente física. A violência moral é igual para ambos (apesar de eu achar que é maior nas mulheres, pela supressão da sua vertente física). A escolha da estratégia de fazer Monica FISICAMENTE violenta é que me fez pensar na questão.

Para subjugar, por certo, não é necessário utilizar violência física. Ela pode ser moral, e essa capacidade os homens a tem tanto quanto as mulheres. Muitas mulheres más subjugaram pessoas e nações sem jamais terem cometido uma mínima ação fisicamente violenta.

E não é vergonhoso reconhecer que os homens são fisicamente mais fortes e rápidos que as mulheres.  A”virilidade” é mesmo um atributo masculino, e essa palavra vem de “viril”, “varão”, etc. Força é outra coisa. Mônica batia com e sem coelho. Ela usava seus músculos e sua força para maltratar e subjugar. Por isso mesmo a pergunta: por que Mônica foi mostrada como uma menina que imitava os homens em suas características mais masculinas (pelo menos no que a cultura assim definiu) como a violência física? Por que não reclamamos que Monica usa seus atributos “para dominar quem não os possui.

Fosse Cebolinha um “macho alfa” da história e teríamos um escândalo. Ele seria o opressor, o sujeito que comete bullying, que maltrata, que destrói e que humilha seus amigos através da força. Mas de Mônica suportamos sua violência contra os amigos, e Mônica é perdoada… por ser mulher. Fazemos vista grossa à sua prepotência e à sua violência. Nas histórias acabamos convencidos que as surras que Cascão e o Cebolinha recebiam era, no fundo, “merecidas”.

Não é curioso? Quando as “vítimas” cometem os mesmos erros e pecados dos algozes sempre temos boas desculpas a dar.

E é exatamente por essa razão que eu julgo essa personagem rica e interessante. Ela parece demarcar a virada de uma consciência feminina. Na época em que ela surgiu o feminismo tinha essa cara: “vamos fazer o mesmo que eles“.

Monica era MUITO mais forte que eles, por isso eles apanhavam. Mas era menina, e por isso estava perdoada. A condescendência com a Monica é que me parece o novo. Ela batia, espancava, maltratava os amigos, mas era a protagonista e nós a víamos com bons olhos. Nunca havia pensado muito nessa questão e sempre gostei das histórias, mas Zeza me falou hoje que ficou espantada com a quantidade de violências que ela pratica contra seus “amigos”. Zeza não conseguiu ler uma história até o fim para o meu neto Oliver, pois teria que pular os espancamentos. Não lhe pareceu adequado ou pedagógico contar essas partes.

As pessoas davam MUITA bola para as surras que ela dava nos meninos, pois essa era sua MAIOR característica, lembrada por TODOS. Ela era uma espancadora. Usava a violência como arma e como estratégia de dominação. Entretanto, era perdoada por ser mulher, pois naquele período da cultura era isso que as mulheres ensaiavam: a revanche contra as violências historicamente sofridas. Neste tipo de retruque os excessos são perdoados, as surras têm sua dimensão diminuída, porque é como a tentativa “justa” de equilibrar um placar de abusos francamente desequilibrado.

Cebolinha era esperto e malévolo, pois tentava sempre ludibriar sua opressora. Como todo oprimido usava a fofoca, a maledicência e a dissimulação como armas. Cascão as vezes o ajudava em seus planos, mas era o “sujo”, o que sofria para tomar banho. Mas a característica mais chamativa era o poder superior de Mônica conquistado através da força. Ela não era esperta, ladina, curiosa, vivaz ou bonita. Era forte e, por isso, poderosa. Os meninos apanhavam e a gente sempre tinha a impressão que eles haviam merecido; a surra havia sido bem dada. Por isso é interessante: como julgamos as mulheres que apanham AINDA hoje? “Ah, vai ver que mereceu, que pediu para isso, que usou roupas curtas“. Parece que Maurício fazia uma crítica reversa, mostrando a forma como a sociedade enxerga os …. homens!!! Mas no corpo de uma menina abusadora.

Creio que Mônica é anacrônica hoje, com sua violência explícita, tanto quanto as belas adormecidas o são quando retratam a mulher que é beijada sem autorização, ou que fica em um castelo esperando seu “salvador” para lhe resgatar de uma vida encarcerada. Por outro lado, eu ainda gostaria de ver um filme – ou animação – que fizesse uma releitura de Monica a exemplo que fizeram com “Malévola”, que faz a releitura da “Bela Adormecida”. Queria mesmo ver Mônica se ferrar, sofrer, perder os amigos, ser abandonada e ficar solitária agarrada com seu coelho, enquanto os meninos teriam vidas produtivas apesar das marcas dos abusos que receberam durante toda a infância. Não acredito que o criador de Mônica agiu através de um “radicalismo”, porque sequer acredito que tenha sido consciente (assim como o homoerotismo implícito em Batman), mas suas histórias hoje me parecem o retrato fiel (mas codificado) de um momento de mudança importante na cultura.

Sim, pode ser essa uma boa leitura da obra de Maurício de Souza. Cebolinha e Cascão eram as mulheres da trama, sempre apanhando e tratadas de forma inferiorizada.

É essa a leitura que fiz.

A Mônica agredia porque era agredida” (mas não fisicamente, que fique claro) pelos seus amigos. Bem, há um problema aqui. Tal “explicação” pode justificar todas as guerras e todas as matanças. Todavia, como eu mesmo já falei, Mônica continua sendo perdoada por ser… mulher. No contexto histórico em que ela surgiu essa vingança brutal por parte das mulheres era tolerada e até valorizada. Tínhamos que empatar o jogo da violência. Chega de só o “nosso lado” apanhar. Nessa época uma imigrante latina cortou o pênis do seu marido (supostamente) agressor e não apenas foi absolvida, mas exaltada como heroína por algumas feministas radicais dos Estados Unidos. Não se tratava de uma luta contra a violência aplicada às mulheres, mas uma luta contra os homens violentos, e nessa luta a violência era apenas mais uma arma (O marido tinha o curioso nome de John Wayne).

O problema de justificar a violência física de Mônica é que muitos maridos descrevem EXATAMENTE assim as pancadas que dão em suas mulheres. Vejam que Cebolinha e Cascão agiam como “mulheres” que menosprezavam, humilharam, desmereciam, agrediam verbalmente o “marido” e acabavam sendo espancadas(os). Os homens (Dado Dolabella) que assim se comportam chamamos violentos e espancadores. Para pessoas assim agimos com dureza, punimos com a lei e fazemos doer no bolso, o que para mim está ABSOLUTAMENTE correto. Homem que espanca, em especial as mulheres, merece o rigor da lei, e para isso não há desculpa. Cadeia e multa.

Mas para Mônica, bem, ela sofria na mão deles, era vítima de bullying, era debochada, era humilhada (numa intensidade parecida com a humilhação de um homem enganado), era maltratada por ser dentuça. Nada mais JUSTO que espancar, maltratar, agredir, desmontar e fazer valer seus argumentos através da força superior e da violência.

Pesos e medidas cujas diferenças só podem ser entendidas (mas não justificadas) pela cultura dos anos 70 e 80. Para entender Mônica há que se mergulhar nos valores e no próprio feminismo de décadas passadas. Foi pelo choque de novos valores que Zeza ficou impedida de ler a história até o final, e foi pela sua surpresa que resolvi interpretar o universo de valores que se escondiam por detrás dos desenhos de Maurício, numa exegese obviamente superficial, mas que pode levar a um entendimento mais criativo do fenômeno.

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Contraditório

Discutir

Se você não suporta o contraditório não deveria entrar em controvérsias. Precisa saber que, ao expor seu ponto de vista, encontrará pessoas que pensam o oposto de você (ou de forma muito diversa) e que, até determinação nem contrário, podem se manifestar. Minha opinião é apenas isso: uma mera opinião carregada de intenção. Não se pretende “A Verdade” como alguns podem insinuar, mas tão somente meu ponto de vista sobre determinado tema ou questão.

Isso não deveria ofender ninguém, pois as visões discordantes deveriam ser sempre bem vindas. Se discordar de uma opinião através de argumentos ofende quem diverge da minha, peço desculpas.

Mesmo correndo o risco de não ser entendido e de aumentar cada vez mais a legião de pessoas que nutre por mim aversão e antipatia, ainda acho que é do choque de ideias e propostas que construímos um mundo mais plural.

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Holocausto

refugees

“Enquanto os alemães erguem faixas celebrando a fraternidade e o acolhimento de refugiados do oriente médio, bombas Israelenses cruzam os céus da Palestina abreviando a vida dos sitiados de Gaza. Tudo indica que o holocausto do século XX ensinou os algozes, mas as vítimas não aprenderam tão bem a lição.”

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Refugiados

A foto acima apressou o fim da guerra no Vietnã, o que fará a que se encontra no fim desse texto? A foto do menino morto na praia nos despertou para a tragédia dos refugiados. As imagens das execuções sumárias e das mais de 500 crianças mortas no último massacre de Gaza por Israel nos despertam lentamente para a barbárie, com a qual ainda somos coniventes.

Não reclamem das imagens; questionem a realidade estúpida e desumana.

Você não vai orar por algo ou alguém que desconhece. Faria uma oração pelos desabrigados e vítimas de bombas terrestres no Curdistão? Não, não faria isso sem ter o conhecimento dessa crueldade. A foto do menino sírio serve para nos despertar, nos mostrar o drama humano dos refugiados. Nos obriga a refletir e questionar. Nos mostra a crueza da morte de uma criança. E nos obriga a tomar posição diante dessa tragédia. A foto cumpriu seu propósito de nos sacudir.

Aylan Kurdi 01

Eu acho que a imagem da criança sem vida na praia tem a capacidade de nos despertar. Por mais cruel que seja, pode ter uma função pedagógica. Ele tinha 3 anos e se chamava Aylan Kurdi. Não conseguimos nos mobilizar sem estabelecer identificações, e a cena nos leva a pensar nos meninos que nos cercam e que poderiam estar com seus pequenos corpos gelados em uma praia abandonada. Enquanto seres humanos forem apenas números nada faremos para mudar esta realidade crua.

A imagem forte e cruel nos oportuniza despertar do nosso sono de insensibilidade. Se não fosse a fotografia do menino na praia estaríamos debatendo a tragédia dos refugiados sírios?

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