Arquivo do mês: janeiro 2017

O Carnaval das Classes

Uma amiga foi visitar pela primeira vez o Carnaval da Bahia e resolveu comprar um abadá – uniforme especial do Carnaval baiano – que permite a ela brincar dentro do encordoamento que separa os que pagam (bastante) para ficar próximos ao trio elétrico dos “pipocas”, que por nada pagarem seguem a folia do lado de fora. Não saiu barato, mas suas economias do ano anterior foram suficientes para garantir essa extravagância colorida de verde e amarelo.

A festa corria solta e animada até que algo inesperado aconteceu. Quando o trio elétrico se aproximava da Praça Castro Alves, e a banda começava a cantar a música de Caetano em sua homenagem, todos os cordeiros (seguranças que controlam as cordas de separação) foram acionados para conter uma confusão próxima, e com isso muitos “pipocas” invadiram a parte exclusiva da turma do abadá. Como a invasão foi muito abrupta, rapidamente a área reservada se viu pintada de muitas cores, em especial a dos soteropolitanos mais pobres e escuros que se misturaram aos sulistas e aos turistas estrangeiros de pele avermelhada pelo sol da Bahia. A banda torpedeava “A Praça Castro Alves é do povo, como o céu é do avião” enquanto uma súbita democracia de raças, credos e castas tomou conta da rabeira do trio elétrico. Enquanto o povo se divertia na mistura inesperada a cantora abria o grito, alheia ao que estava acontecendo.

Aos poucos a alegria genuinamente popular que ocorreu com a invasão deu lugar a um crescente desconforto. A entrada do povo na parte restrita às elites começou a desagradar aqueles que se sentiam invadidos. Não que estivessem perdendo algo (já haviam pago mesmo), até porque nada lhes foi retirado. Sequer era espaço o que lhes faltava, pois antes já estava bastante lotado. Não, a inconformidade se dava pela invasão de um espaço que consideravam seu, o qual estava sendo usurpado por aquelas pessoas mais pobres. Não era nenhuma perda objetiva, mas a sensação desagradável e subjetiva de dividir espaço com aqueles a quem não julgavam como iguais. Afinal, tinham pago; portanto, tinham mérito. Tinham, por esta razão, direito a um lugar exclusivo.

A nenhum deles ocorreu, no meio da folia, das músicas, dos beijos roubados, da dança frenética e dos goles de cerveja questionar porque uma festa popular dividia o povo entre os que podem mais e os que podem menos. Muito menos ocorreu a qualquer um dos que vestiam abadá se perguntar as razões e as circunstâncias profundas que lhe permitiram estar do lado de cá da corda. Não, não havia clima para estas perguntas incômodas. A solução encontrada foi uma chamada conjunta de todos que vestiam o abadá verde-amarelo para que os seguranças jogassem todos os penetras para fora. “Voltem para o seu lugar”, gritavam. “Eu tenho o direito de estar aqui, você não”, diziam outros. “Eu paguei, não tenho culpa se você é pobre”.

Em alguns minutos, após a intervenção violenta dos seguranças, a ordem foi restaurada e mais uma vez só havia abadás verde-amarelos entre as cordas. “Eles que façam um carnaval só para eles”, disse o alemão barrigudo que segurava a mulata pela cintura. “Esse aqui é nosso”, completou. O trio elétrico parado na Praça chacoalhava os vidros dos sobrados centenários de Salvador e fazia as ondas do mar próximo quebrarem no ritmo dos atabaques. No centro da praça, impávido e pétreo, Castro Alves recitava em solilóquio alguns versos que surgiram em seu pensamento. Talvez – como saber? – fosse uma lembrança que, sem perceber a razão, lhe ocorreu naquele exato instante de euforia máxima e frenesi apoteótico.

“Existe um povo que a bandeira empresta
Prá cobrir tanta infâmia e cobardia!…
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!…
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?
Silêncio.  Musa… chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto! …”

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Crise médica

A crise de objetualização dos pacientes ocorre em todos os campos da medicina: em todos eles se percebe a tendência para uma relação impessoal, fria, objetual e mecânica. Isso ocorre porque nos dias atuais a tecnologia intermedeia nossa relação com os pacientes. Nossa troca não é mais direta, entre seres humanos e iguais; ela passa a ser comandada por uma força maior e mais poderosa: a promessa redentora e teleológica da tecnologia. Com isso nossos pacientes não são os receptáculos diretos de nossa ação, mas os subprodutos dos arranjos entre nosso saber e o diálogo que estabelecemos com os recursos tecnológicos.

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Punitivismo

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A “doutrina da segurança”, que protege a vida e o patrimônio de pessoas brancas e bem nascidas, é um dos mais vívidos resquício da escravidão. Os seus defensores são a prova de que a luta contra a exclusão e o racismo precisa ser levada a sério e como uma política de estado. A emergência de fascistas no cenário político internacional e nacional deve nos alertar sobre os perigos que estas ideologias racistas e excludentes representam à própria sobrevivência do planeta.

Já o punitivismo do judiciário é sua máscara autoritária e tem suas raízes num entendimento ultrapassado sobre os perigos da impunidade. Os modelos punitivos aplicados no mundo real, como os “Three Strikes” usados na “Guerra contra o Crime” nos Estados Unidos foram uma tragédia sem precedentes no ocidente, que multiplicaram os custos do encarceramento, criaram 2.3 milhões de prisioneiros e não produziram nenhuma mudança substancial na segurança pública ou na obediência às leis.

É preciso avançar o debate e reconhecer que a obediência ao pacto social ocorre apenas na vigência de uma sensação de confiança na legitimidade do sistema, e não no temor de ser punido. Isso não significa a ausência de punição ou mesmo de reclusão – mesmo sabendo de sua ineficiência em recuperar delinquentes – mas o abandono da ideia ingênua de que esta é a solução do problema.

Quando o crime avança em todo o país como causa direta da ruptura das instituições democráticas, pela inquestionável falta de confiança de todos nós na polícia, nos políticos, nos empresários e na mídia os governantes acenam com …. a construção de novos presídios!! Isso não significa que eles não sejam uma necessidade – assim como, na velha piada, o sofá também poderia necessitar reparos – mas acreditar que a solução é MAIS encarceramento é um retrocesso injustificável e que terá resultados pífios, como sempre ocorreu onde essa ideologia foi aplicada.

Sem criar confiança na legitimidade das leis e regras sociais nenhuma punição poderá criar um estado de respeito e convivência pacífica em uma sociedade – ou mesmo no planeta.

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Pesos e Medidas

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“O responsável pelo procedimento é o médico xxxxxxx. Familiares de sete pacientes de xxxxxxx alegam que os parentes morreram em decorrência de complicações da cirurgia, e outras sete declaram ter ficado com sequelas graves. O MPF (Ministério Público Federal) e o CFM (Conselho Federal de Medicina) receberam as reclamações e pedem que a técnica seja proibida até que estudos científicos comprovem a eficácia e segurança do procedimento.” (www vejaagorabrasil. org)

Imaginem se esse médico, ao invés de fazer cirurgias bariátricas questionáveis (em termos de segurança), estivesse atendendo partos domiciliares em sua cidade da mesma forma como países democráticos estimulam e estabelecem como alternativa segura nos seus sistemas públicos de saúde. Como se comportaria o Conselho de Medicina? Sete pacientes já morreram e outros sete estão severamente incapacitados mas é ÓBVIO que este profissional tem TOTAL APOIO e suporte da corporação. Fazer cirurgias com fins fúteis, meramente estéticos, e colocar em risco a saúde dos pacientes NÃO desafia os poderes médicos. Pelo contrário, exalta a medicina como elemento social transformativo e curativo, e o médico como seu condutor por excelência.

Entretanto, o parto domiciliar, ao estabelecer a paciente como participante ativa e PROTAGONISTA do evento retira do médico sua importância capital e diminui sua relevância. Os médicos que dão suporte a estes partos sabem que sua função é outra, e se estabelece como uma vigilância silenciosa sobre os fatos que possam acarretar riscos acima do normal. Não se trata mais de “fazer partos” mas de os “acompanhar respeitosamente”. Essa nova postura dos profissionais ofende a velha guarda da corporação, que não aceita que médicos desafiem a hierarquia secular na atenção à saúde que os coloca acima de todas as outras considerações, inclusive os próprios desejos expressos do paciente.

As formas como a corporação julga estes casos NADA tem a ver com a segurança ou o bem-estar dos pacientes. O critério é sempre a proteção da categoria. Procedimentos que ameacem o valor profissional são atacados impiedosamente, enquanto aqueles que exaltam a sua posição na sociedade tem seus riscos desconsiderados ou despudoradamente negados.

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Bandidos

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“Qualquer texto que contenha a frase “nós que trabalhamos e pagamos impostos” (para se contrapor aos “pretos molengas e vagabundos que se sustentam do estado”) vem da mesma origem: a classe média ressentida que vestiu verde amarelo e agora vê o Brasil se destroçado por obra da MESMA elite escravocrata que defende a falácia da meritocracia e que falsamente combate a corrupção. A mesma classe que não enxerga um presídio com 80% de negros e continua acreditando que as oportunidades são iguais, “basta querer”. Esse é o mesmo grupo que, sem conseguir se recuperar adequadamente do golpe sofrido com a Lei Áurea, pretende que pobres e negros sejam eternamente cordiais, conformando-se com a desigualdade que sua condição social e racial lhes impõe por viverem no país mais desigual e cruel do mundo.

Bandidos são também – e principalmente – vítimas de uma sociedade cuja engenharia perversa produz a marginalidade e a exclusão como subprodutos inevitáveis.

A Casa Grande jamais aceitou, e jamais aceitará, um país para todos.”

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Dona Zilá

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Dona Zilá (apenas um nome fictício) foi atendida por mim na Venezuela, apesar de nenhum de nós dois jamais ter visitado este pais. Dizia-se um pouco tonta e vomitava . “Não para nada no estômago, nada mesmo” dizia ela, apertando seus pequenos olhos castanhos por detrás dos óculos de aro dourado. Disse ter 81 anos e mais de 20 de viuvez. “Agora um cólica violenta me retorce por dentro, doutor“. Suas mãos estavam trêmulas assim como seu corpo inteiro. A pressão estacionara em 140 x 100, mas trazia na sua bolsa inúmeros remédios para todas as afecções que lhe cabiam por direito.

Estava acompanhada da nora, “um anjo que Deus colocou em minha vida”. Dona Zilá me disse: “Eu tive 9 abortos, doutor, mas pari 4 filhos. No dia seguinte aos partos eu já fazia toda a lida da casa. Nunca me entreguei a nada. Não havia frescuras no meu tempo“.

A nora me mostrou as medicações que ela dispunha dentro da bolsa. Remédio para pressão, ansiedade, falta de sono. Verifiquei mais uma vez a pressão e estava mais alta, mas o braço rígido tremia cada vez que eu verificava. Difícil saber os valores exatos.

A nora me conta que os vômitos começaram ao ser impedida de sentar ao seu lado quando entraram no avião. Pela disposição dos assentos precisariam ficar distantes, até que todos estivessem acomodados e uma troca fosse viável.

Foi então que ela começou a tremer e vomitar. Ela  indignada com a comissária e com medo de viajar sem minha o presença constante ao seu lado. Acho que é dos nervos, o senhor não acha?“.

A conexão entre os fenômenos da alma e aqueles do corpo é mais facilmente identificada pelas pessoas comuns do que pelos profissionais da saúde. Disse à ela que provavelmente isso era verdade, mas que a prudência mandava ficarmos atentos. Afinal, sua idade assim determinava.

Expliquei às comissárias de bordo do que se tratava, até para deixá-las mais tranquilas. Pedi que trouxessem a caixa de remédios de urgência, mas só vi utilidade na velha metoclopramida. Solicitei à enfermeira, a qual também atendeu o chamado das comissárias e veio acudir dona Zilá, que aplicasse o medicamento; afinal estávamos trabalhando em equipe. Ela ficou bem feliz em ajudar. Os tremores continuavam, mas era evidente que diminuíam à medida que conversava comigo. Enquanto me contava sua história as cólicas foram parando e não se preocupou mais em vomitar.

Meu marido morreu cedo. Era um homem rico e nos deixou uma indústria. Depois de sua morte ela foi vendida e dividida entre todos. Eu, meus 4 filhos e a outra mulher que ele tinha, e mais seus três filhos, os quais só descobrimos depois de sua morte.” Ela me contou esse detalhe com absoluta naturalidade, sem nenhum sinal de ressentimento. “No tempo que eu fui pobre não tinha nem luz elétrica na minha casa. Criei quatro filhos trabalhando duro. Criei ainda mais um neto, que nunca se deu com os pais. Infelizmente ele fez direito e entrou na policia, mas eu não gosto de polícia e nem de ladrão“.

Rimos todos, até as belas aeromoças que nos cercavam. O tremor estava visivelmente menos intenso à medida em que desenrolava como um longo fio sua narrativa de vida. “Meu marido morreu falando comigo. Virou a cabeça para o lado e fim. Infarto fulminante. Muito pesado, estressado, fumante.

Resolvi usar um medicamento sublingual que estava em sua bolsa pois a pressão chegou a 170 x 116. Apesar da rigidez dos braços achei melhor diminuir um pouco esses valores. “Ela adora remédios“, disse a nora angelical. “E quem não enxerga nos remédios um substituto para o contato humano que a vida nos retira com o tempo?“, pensei eu.

Perdi o café da manhã no voo, mas dona Zilá precisava de alguém para lhe oferecer ouvidos e ajudar a acalmar sua alma aflita. Verifiquei mais uma vez a pressão só para me certificar que estava baixando. 160 x 100 já me deixou satisfeito.

Olhei no mapa ao lado da comissária e vi que nosso avião se aproximava do Brasil. Era hora de me retirar e voltar para meu lugar. Faltavam algumas poucas horas para o pouso mas deixei claro que estaria à disposição se ainda precisassem. Ela me abraçou e perguntou meu nome. “Ricardo“, respondi.

Ela então sorriu pela primeira vez e disse: “O nome do meu filho e do meu neto!! Viu como foi Deus que o mandou aqui?

Como duvidar? Voltei para meu assento e vi o ponto dourado no mapa atravessar a linha que separa o Brasil do resto da América. Faltava pouco para chegar em casa.

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Confiança traída

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Na minha infância e juventude a parte dos filmes que mais me assustava era quando se revelava que o policial – algumas vezes o juiz – era uma figura corrupta e maligna. Manipulava com seu poder pessoas e circunstâncias durante toda a trama, e nunca era possível pegá-lo; afinal, ele era o poder. Ver pessoas com tal nível de poder abusarem de sua autoridade em benefício próprio – seja por dinheiro ou vaidade – me oferecia uma sensação aterrorizante de fragilidade. As figuras de poder que corrompem a sagrada função de nos proteger, por razões mesquinhas e egoísticas, desafiam até nossa capacidade de perdoar, tamanha a violência psicológica de burlar nossa confiança.

Escrevo isso porque a mesma sensação tenho quando vejo médicos escrevendo textos violentos, agressivos, desrespeitosos, homofóbicos, sexistas ou simplesmente cruéis nas redes sociais. A mesma sensação de fragilidade diante dos poderosos e a tristeza de ver uma função social tão delicada sendo deturpada. Como admitir que os profissionais que nos acolhem nos momentos mais delicados, de dor e sofrimento – mas também de alegria e júbilo – possam expressar tanto preconceito e arrogância, distribuindo julgamentos sem nenhum constrangimento? Pior, sem sequer tentar entender os contextos e circunstâncias que levaram pessoas tomar atitude e fazer escolhas sobre sua saúde.

Médicos, juízes, policiais e políticos precisariam estudar filosofia e psicologia desde muito cedo em sua formação, muito antes de aprender as leis ou a anatomia humana. Sem estes conhecimentos fundamentais, e a atitude ética que se produz a partir deles, podemos criar monstros e algozes brutais.

Alguns deles já são facilmente encontráveis em nossas redes sociais.

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Travesseiro

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Compassiva, ela sofria por tudo e por todos. Bastava ver uma tristeza alheia que logo a tomava para si. O mundo era uma fonte inesgotável de dissabores. Tanta pena tinha que à noite colocava sua cabeça sobre um travesseiro cheio delas.

James Elwood McCormick, in “The bright shade of the Moon“, Ed Palmarinca, pag 135.

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Wish you were here

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Eu sempre soube que tinha uma mente infantil, mas Freud me ensinou que não devo me culpar (muito) por isso. Quando viajo, em especial, relaciono coisas, lugares e objetos com pessoas. Acho que é a solidão, mas até quando viajo acompanhado tenho essa mania. As pessoas ao meu lado não tem a obrigação de se encantar com as mesmas coisas que eu, fazer as mesmas associações ou se ater àquele específico aspecto de um fato ou acontecimento que atraiu minha atenção. Não há como pedir a elas que se adaptem ao meu giro mental ou emocional.

Por isso penso em pessoas. Vejo algo e penso: “Fulano gostaria de ver isso e tenho certeza que ele teria uma ótima observação a fazer“. “Fulana gosta desse escritor, a adoraria mostrar esse livro para ela“. “Sicrana gosta de sentar diante de uma paisagem assim e simplesmente contemplar enquanto fuma um cigarro. Gostaria que ela estivesse aqui“. (essa última é Robbie)

Isso me faz pensar que nenhuma experiência para mim tem valor absoluto, por si só. Ela precisa ser contada, descrita, desenrolada como um sonho, que se constrói e organiza na medida em que se conta, usando o material onírico bruto e disforme que sobrou em nossa mente.

Agora mesmo, sozinho num banco de metal em frente ao Starbucks já passaram à minha frente mais de uma dúzia de amigos com quem gostaria de dividir um comentário ou fazer uma pergunta.

Ou somente olhar para as árvores em volta sem dizer coisa alguma. Ou dizer bobagens; também serve

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Bobagens

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No que estou pensando?

Penso em muitas coisas mas a maioria é bobagem. Não tem sentido nem direção. Tipo uma diversão mental em solilóquio.

Por exemplo, quando escuto alguém dizer que tomou banho numa Jacuzzi eu sempre penso no Emile Zola, gordo, descabelado, com bigode apontando pra cima e com o dedo em riste dizendo “J’accuse!!!”. Também olho para o símbolo do Carrefour e digo mentalmente “Care  for” (me importo). Eu rio. Sempre que alguém me convida para fazer compras no Leroy Merlin eu digo para mim mesmo o nome em francês  (lerroá merlã), só porque acho mais chique.  Quando não tem nenhum lugar aberto para jantar eu digo “Só nos resta ir no Osmar”. Sempre um incauto pergunta: “Que Osmar?”, e eu respondo “Osmar Kidonald”.

Engraçadinho? Não… é um sintoma.

É por estas e outras razões que não sou convidado para festas desde 1963.

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