Fiquei sabendo agora de um “estupro coletivo” no Rio de Janeiro que, não bastasse a violência absurda e desumana, ainda serviu como objeto de espetacularização pelas redes sociais. Não por acaso, numa sincronicidade diabólica, Alexandre Frota faz uma visita ao Ministro da Educação levando a ele propostas para o ensino no Brasil. Lembrem que o “muso do impeachment” é também responsável por uma performance num programa de TV (de Rafinha Bastos, o mesmo que “comeria ela e o bebê”) em que relata um estupro a uma mulher Mãe de Santo que o estava atendendo. Depois disse que se tratava de um número de Stand Up, mas isso é irrelevante diante da gravidade de tratar estupro como brincadeira, banalizando a violência.
Eu ouso pensar que o estupro cometido tem a ver com o profundo mal que o golpe produziu no imaginário do país. A sensação que tenho é que as pessoas perderam a confiança na justiça e no judiciário. A mesma justiça que perde meses (e milhões) investigando barquinhos de lata e negligencia investigar a fundo um helicóptero cheio de pasta de cocaína não pode exigir que confiemos nela. O STF foi acusado de participação EFETIVA e DIRETA no complô para a derrubada do governo. As gravações comprometendo Jucá, Renan e Sarney estavam em sua posse desde março; foram escondidas para permitir o golpe. O juiz Moro mostrou dureza e inexorabilidade seletiva, e apenas contra o PT, durante todo o curso da Lava Jato, e quando da queda de Dilma pediu o “desarmamento dos espíritos”.
Quando o povo se dá conta que os magistrados são indignos de confiança percebem que não há valor algum em se comportar dentro da lei. Por isso a sensação de impunidade de quem comete atos hediondos. “Se o Alexandre Frota pode contar isso na TV como brincadeira, por que não podemos também?”
As mulheres, foco do desejo masculino e signo de poder para quem as possui, sempre serão as primeiras sacrificadas em um mundo sem lei. No livro “Ensaio sobre a Cegueira” do escritor português José Saramago, a primeira coisa que ocorre quando se instala o caos de um mundo às escuras e sem controle foi o domínio sobre as mulheres, que leva naturalmente à violência e ao estupro.
Quando se destroça a força simbólica da lei os mais frágeis são os primeiros a sucumbir.
Não, eu me nego a ver como coincidências estes eventos. Quando a LEI se apaga e a justiça não parece se fazer, surge em todos o espírito da selva, onde a ordem é matar ou morrer.
Os estragos sociais de uma quebra jurídica abjeta e criminosa como a que testemunhamos vão se estabelecer em todos os níveis das relações pessoais, pois que os valores que foram desrespeitados são da ordem básica das relações sociais.
Triste dia em que apologistas do estupro tem voz na educação de um país. O resultado é a banalização do crime mais antigo, mas ainda presente na comunidade humana.