Arquivo do mês: abril 2022

Cura

Existem coisas que só aprendemos com o passar dos (muitos) anos e uma delas é a dura tarefa de entender o papel do curador. Lacan, em uma famosa manifestação, dizia que “A Medicina a única forma terapêutica que trata o sujeito a despeito do seu desejo“. Isso ficou marcado para mim durante muito tempo, pois eu percebia que agir no tratamento de doenças sem questionar o desejo do sujeito, sem contextualizar seu sofrimento, sem observar de perto as escolhas que fez no processo de adoecimento e sem analisar os caminhos tortuosos que o trouxeram a uma consulta, estaríamos apenas exercendo uma espécie de violência, negando ao outro a oportunidade de curar-se através do próprio mal que o aflige.

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O Mínimo

No grupo que participo sobre “Minimalismo” o pessoal insiste em fazer perguntas ao estilo “ter carro novo é contra o minimalismo?”, “posso ter ar condicionado?”, “comprar IPhone é contra os ideais minimalistas?” Fazem estas perguntas como se minimalismo fosse uma religião, para a qual questionam seus “dogmas”, como quem pergunta ao padre se “flertar na Igreja é pecado“. No fundo estão atrás de ideologias e líderes para seguir, já que decidir por si mesmo implica muita responsabilidade.

Minimalismo é essencialmente uma atitude e uma proposta de vida. Não tem regras, mas princípios. Parte da ideia da otimização dos recursos do planeta, para não gastamos mais do que necessitamos, deixando os outros em falta. É um estímulo à solidariedade entre os povos. Porém, é mais do que isso: em um planeta de recursos limitados o minimalismo é uma proposta de sobrevivência global.

Também significa retirar dos objetos uma parte do desejo que os contamina, tentando fazer da obtenção das coisas uma ação mais racional, mais útil e menos perdulária, questionando nosso egoísmo e nossa propensão acumulativa.

Sem regras rígidas, sem catecismo, sem culpas, sem cobranças, apenas olhando as necessidades acima dos desejos.

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Os amores

Mas… quem poderia imaginar que sexo, entre humanos, seja algo “natural”? Precisa ser ingênuo para pensar que existe algo de natural em nós. Lacan já dizia há mais de 50 anos que “a palavra matou o real”.

Somos construções das palavras, não mais de moléculas e átomos. Desde que levantamos para comer a fruta da razão o sexo não seguiu mais as regras da biologia e da reprodução, mas da teia intrincada surgida da ruptura bizarra da ordem cósmica a qual chamamos amor.

Este só surgiu do despejo abrupto do feto distópico, incompetente massa amorfa, rodeado de espaço sufocante e carente de afago. Foi ali, no desamparo, na perda angustiosa do idílio perfeito, que a treva se produziu pelo brilho intenso das duas estrelas que, piscando, lhe dizem “meu filho querido”.

E dessa conexão se fez o amor, pois que se ele existe foi aí semeado, e de tanto amor todos os outros amores são desse princípio derivados.

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Dores e sons

Essa imagem é de um debate ocorrido em um grupo de Whatsapp – de esquerda!! – a respeito de um artigo que escrevi sobre a necessidade dos partidos marxistas se engajarem na luta pela humanização do nascimento e pelo fim da violência obstétrica, mas se afastando dos discursos identitários de viés individualista.

O primeiro comentário diz respeito ao aborto, mas fala que assim como ele a cesariana também não é crime. Bem, do ponto de vista da humanização do nascimento a cesariana é uma cirurgia maravilhosa e capaz de salvar vidas. Todavia, isso apenas ocorre quando esta cirurgia de grande porte é bem indicada, sem os abusos que presenciamos cotidianamente quando seu uso ocorre para satisfazer as necessidades dos profissionais e das instituições – e não das mães e dos seus bebês. Criticar o abuso de cesarianas não significa desmerecer sua importância e validade. Parece incrível ainda ser necessária oferecer este tipo de explicação.

O segundo comentário – que elogia a anestesia – é uma visão largamente disseminada na cultura ocidental. Desde o dia 16 de outubro de 1886, quando John Collins Warren – o velho e empertigado cirurgião – retirou um tumor da boca de Gilbert Abbot sob anestesia por éter sulfúrico, conduzida por um tal Thomas Green Morton, que a humanidade exalta a possibilidade do uso das drogas para exterminar o sofrimento e as dores. Nada mais justo este entusiasmo, visto que desde a aurora da humanidade a dor nos acompanha como sombra mórbida a nos fustigar e torturar.

Todavia, do entusiasmo inicial e o nascimento da moderna cirurgia, vieram também como consequência muitos questionamentos: até quanto é possível isolar os sujeitos da experiência da dor, e quais as consequências de uma vida sem ela? E se para as dores físicas temos os múltiplos analgésicos (e os anestésicos para as cirurgias), como lidar com as dores da alma? Serão elas igualmente passíveis de extermínio? Ou serão estas dores um alvo para aqueles ávidos por descobrir novos mercados?

É minha visão que as dores são constitutivas dos sujeitos e que é impossível viver sem elas. Também creio que as dores de parir produzem seus efeitos não apenas na mulher que as suporta, mas também no sujeito que nasce. É claro que para isso as dores precisam de sentido, significado e função, e não ser apenas o sinal corporal de uma disfunção onde a tecnologia pode ajudar e produzir alívio. Há que discernir para não abusar e tornar ruim algo que é, em essência, bom.

A terceira manifestação, foi feita por um médico, que acredita no mito do “culto ao parto normal”, que seria produzido por uma “seita de identitários avessos à tecnologia e aos recursos cirúrgicos”. Sua aversão à humanização do nascimento se sustenta no “recurso do espantalho”: a criação de um adversário fictício que facilitaria nossas críticas ao direcioná-las a uma mera caricatura das opiniões e posições que se opõem às nossas.

Não restam dúvidas de que existem identitários na humanização do nascimento. Por certo que muitas ativistas abusam de recursos espúrios como cancelamentos, silenciamentos, ataques sexistas, essencialismos e preconceito. Entretanto, apesar de serem por vezes vocais, são uma minoria nesse movimento. Este se estrutura na garantia do protagonismo à mulher, na visão interdisciplinar do parto e na atenção baseada em evidências, e não em misticismos ou revanchismos sectários. Tratar um coletivo pela imagem de uma parcela diminuta é desonestidade.

Em verdade, a ideia de que o objetivo dos humanistas seria tornar a cesariana ilegal é tola e apartada da dura realidade do parto, porque é exatamente o oposto que acontece: é o parto normal que lentamente desaparece do horizonte das mulheres, expropriado pela tecnocracia médica que possui nas mãos o mapa único, a versão de uma realidade que insidiosamente evapora. Se existe nobreza neste movimento é a tarefa de lutar para que um processo fisiológico como o parto não seja exterminado pela arrogância cientificista.

Hoje em dia, nos países colonizados pela medicina drogal e intervencionista, é o parto normal que em breve precisará “habeas corpus”. Sim, “que tenhas o teu corpo” é a melhor definição para o desejo de uma mulher que pretende ter seu filho em paz, sem ser interrompida ou incomodada. É o fluxo normal e fisiológico da vida que está em perigo de extinção; é o parto que corre o risco sério de desaparecimento.

Repito a pergunta que fiz há 20 anos: o que será da humanidade quando os gritos lancinantes primais que constituem nossa estrutura psíquica mais primordial forem substituídos pelo som duro e metálico dos instrumentos cirúrgicos de uma sala gelada e repleta de luzes? Se a música é realmente feita da reverberação infinita desse som, que se repete indefinidamente em nossa memória mais precoce, que humanidade será essa onde não haverá mais nenhuma canção a nos aliviar as inevitáveis dores de viver?

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Messianismo

Muitos ainda cultuam uma visão messiânica da medicina, cuja crise na área da obstetrícia poderia ser explicada pelo fato de estar sendo “atacada por hordas de bruxas que odeiam a ciência”.

Mal sabem eles que a atenção ao parto oferecida pelas enfermeiras obstétricas e obstetrizes é ciência de ponta, enquanto o parto atendido pela tecnocracia médica é um resquício autoritário que ainda se mantém pela força do poder econômico e da propaganda.

A assistência ao parto realizada por parteiras profissionais é a verdadeira revolução sexual feminista que, ao mesmo tempo em que exige a autonomia e o protagonismo garantido às mulheres, não se permite abrir mão das especificidades femininas de gestar e parir, encontrando nestas funções fonte de realização e empoderamento

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O Comuna da Galileia

E no meio da multidão Tadeu e Josias debatem sobre os ensinamentos recém recebidos. Junto com tantos outros eles se aglomeraram na pequena vila na Palestina para escutar as palavras de Paulo, o Apóstolo dos gentios.

– Jesus? Não sei, nunca confiei. Mania de andar com pobre e puta. “Divida o pão e o peixe”? Qualé rapá? Achei dinheiro no lixo? Se ele acha mesmo que tem que dividir, por que não dividiu a túnica dele? Que ande pelado, aí sim quero ver. E viu como ele chegou em Jerusalém? Montado num burrico. Agora diga… comunista de burrico? Queria ver chegar a pé, cheio de bolha nos dedos. Vai pra Galileia!!! Depois que foi pra cruz e ressuscitou virou esquerdalha, mas tinha que ver o vinho que eles tinham na última ceia!! Coisa boa, importado. E tu acha que chamar Leonardo da Vinci pra pintar saiu barato? Esses caras cobram o olho da cara e só trabalham prá meia dúzia de riquinhos. “É arte moderna” dizem eles. Tudo comuna rabanete; vermelho por fora branquinho por dentro. Explica essa mané: se Roma é tão ruim assim por que todas as estradas levam pra lá? Agora diz aí quantos romanos querem vir morar na Palestina? Tem gente que se joga no Mediterrâneo pra chegar lá a nado e morre afogado no meio, mas me diz onde está o pessoal que prefere vir para cá, comer areia em Nazaré.

– Cara, são perspectivas, pontos de vista. Tenha calma antes de julgar. Agora fique em silêncio que o palestrante principal vai falar.

– É quem é?

– Não sei, mas é um operário sem dedo. Jesus costumava chamá-lo de “meu garoto”.

– Hummm, da pra sentir daqui o cheiro da mortadela. E essa multidão aí, tudo pago. Todos mamam nas tetas. Pode apostar que essa mamata vai acabar.

– Rapaz, você nunca vai entender, nunca…

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O Café e o Cocô

Nos Estados Unidos da América o dono do Twitter ameaça oferecer liberdade total de expressão no seu novo brinquedo de poder o Twitter. Curiosamente, a esquerda americana – os leftists – não estão reclamando com a devida veemência contra a concentração obscena de poder na mão de um sujeito egocêntrico e paranoico como Elon Musk, mas centram sua artilharia na possibilidade de que possamos escrever, a partir de agora, sem censura. Sim, a esquerda americana – que na verdade é uma direita identitária – teme que muitas mentiras serão disseminadas sem qualquer filtro. “O que será dos gays, dos negros, das trans, etc”.

Ora, esse tipo de vigilância de costumes não poderia perdurar muito mais tempo. Ninguém mais aguenta patrulha de expressões, de vocabulário e de sentimentos ofendidos. Ninguém suporta mais essa infantilização que se criou nas relações – em especial na Internet – e que trata a todos como crianças frágeis que não aguentam piadas ou críticas fortes.

Para piadas ruins conte outra melhor. Para ofensas, use ironia – ou ofenda também, se não lhe resta mais nada na sua caixa de ferramentas. O que não é mais admissível e o espetáculo constrangedor de correr sempre para a mamãe – seja ela o estado, o Twitter, o Facebook, o Instagram, etc – e fazer queixa para que uma instância de poder venha nos proteger. Um dia as pessoas teriam que crescer e enfrentar por si mesmas estes desafios.

Uma pena que a esquerda raiz, socialista e marxista não teve força para liderar a luta pela liberdade de expressão. Somos poucos a lutar contra os desmandos autoritário e da censura. Enquanto isso a esquerda liberal foi invadida por identitários que são os primeiros a pedir cancelamentos, silenciamentos, censura e cerceamento da liberdade de expressão. Uma lástima que essa nova onda veio de um bilionário Ancap, representante da direita mais perversa e concentradora de riquezas.

Bem, dizem que o melhor café do mundo é o Kopi Luwac, feito com grãos retirados do cocô da Civeta. Quem sabe essa metáfora sirva para a gente lembrar que em longo prazo a liberdade é sempre melhor do que qualquer censura, e que a gente pode consegui-la mesmo que tenha que separar seu valor da bosta que a envolve.

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A Sedução do Totalitarismo

Em relação à compra do Twitter pelo bilionário “dandi” Elon Musk, não se trata abolir a responsabilidade sobre o que é publicado. Aliás, NINGUÉM fala sobre isso. Todos concordam que mentiras, falsidades, injúrias e difamações precisam ser punidas quando comprovadas. O que se fala – e com toda a razão – é da censura, bloqueios, silenciamentos e controle moral sobre o que se escreve e pública. O que não me permito aceitar é que as pessoas sejam bloqueadas pelo autoritarismo dos proprietários de um bem de comunicação. E mais: as plataformas digitais NUNCA respeitaram as leis dos países, e sim a sua lei interna, adaptada às leis locais. Um exemplo claro são as fotos de amamentação proibidas por aqui pelo Facebook, pelo seu código moral próprio.

Deveríamos estar falando do fato de que Washington Post, Twitter, Facebook, Instagram, Google e WhatsApp, que atingem quase toda a humanidade – a China conseguiu se livrar disso antes de ser impossível – pertencem a três mega bilionários, que se tornaram proprietários de toda a comunicação do planeta. Essa é a verdadeira obscenidade, e não as diatribes e as fake news de Trump ou Bozo.

Aliás, minha convicção é de que as pessoas, com o tempo, vão aprender a lidar com mentiras da internet. Vão parar de acreditar em qualquer coisa e desenvolverão um senso crítico mais apurado. O remédio para as mentiras nunca será o silêncio, e muito menos a aprovação por um “conselho de notáveis” que decidirão por nós o que podemos ou não ler e ver.

“Censura do bem” não existe, assim como não há “ditadores de bom caráter”. Em longo prazo censurar é sempre um desastre, pois esta estratégia jamais conseguiu soterrar boas os más ideias, pois que elas, na escuridão, vicejam com mais força.

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O bolor do pão

Igor Sidorov, preso na brutal prisão siberiana de Tobolsk pela recusa em pagar os pesados impostos que ameaçariam a própria sobrevivência de sua família encontrou seu companheiro de cela Fiódor Vasilev, um dos presos mais antigos de Tobolsk. Este era um homem.de feições rudes, cabelos e barba negra, testa olímpica e nariz bem desenhado. Seu encarceramento foi causado por assoviar a Internacional Socialista durante uma parada marcial da Guarda prussiana, considerado como um desrespeito e uma atitude conspiratória contra o Czar e sua família.

Igor puxou a cadeira à frente de Fiódor parecendo angustiado. Este manteve-se atento ao pedaço de jornal que tinha à sua frente.

– Tovarish Fiódor, sabe das notícias do “salão”?

“Salão” era como se referiam os presos à sala contígua ao escritório do diretor, um amplo ambiente de parede de pedras cortadas, escuro e frio, onde o diretor recebia de forma ameaçante os recém chegados na famosa prisão czarista.

– Nada me foi dito, Igor. Se tens algo na me falar, desembuche ou me deixe desfrutar o jornal e o bolor deste pão azedo, cortesia de Nicolau.

– O diretor Petrov foi deposto, tovarish. Demitido. Afastado por ordens diretas do Czar. Dizem que essa atitude tem a ver com o escândalo das bebidas e a relação disso com Viktor Gruchenko. Corrupção, troca de favores. Nicolai me disse que do setor norte é possível observar as carruagens e a guarda postada em frente ao portão principal. Nosso martírio pode estar chegando ao fim, Fiódor. As torturas, os espancamentos, as mortes terão um fim!!

Com os olhos marejados de emoção, agarrou os braços do amigo e os sacudiu, imaginando ser possível injetar-lhe ânimo através dos dedos descarnados que seguravam a roupa suja e puída do companheiro.

Fiódor, tomou a última gota de chá e retirou com a ponta dos dedos a mancha esverdeada que cobria seu pedaço de pão. Olhou seu amigo no fundo de seus olhos negros e falou com voz pausada:

– Esse pão não fica menos infectado apenas por tirar o bolor que o cobre; isso apenas diminui nosso nojo do visível, mantendo intacto o universo invisível de impurezas que o contaminam. Tirar um diretor corrupto apenas nos oferece a ilusão de um benefício, o espaço de alívio entre o horror de agora e o próximo espancamento. Porém, a dura realidade é que mudam-se as moscas para que a merda permaneça intacta.

Cruzou as mãos sobre a mesa de madeira escura e, ainda olhando firme nos olhos de Igor, completou:

– Não se deixe enganar pela ilusão dos sentidos mais grosseiros, tovarish. Somente teremos paz quando não houver mais prisões e não houver mais injustiça, e não apenas por melhorarem a índole dos nossos carrascos.


Levantou-se e saiu a caminhar em direção à porta. De longe Igor ainda pode escutar a música que Fiódor assobiava. Sem dúvida, a Internacional.”


Bóris S. Gregoriev, “ночь волков” (A Noite dos Lobos), ed. Vostok, pág. 135

Bóris Sergueievich Gregoriev é um escritor russo dedicado aos romances históricos, em especial aos acontecimentos do final do século XIX que culminaram com as revoluções proletárias de 1905 e 1917, a queda do Czar e a execução de sua família. O livro “A Noite dos Lobos” trata da prisão de fuga de prisioneiros da famosa prisão de Tobolsk, onde esteve também preso o escritor Dostoiévski. No livro um grupo de prisioneiros políticos, liderados por Fiódor Vasilev fogem da prisão para criar uma brigada de conspiracionistas anarquistas para a derrubada do Czar. Esta intentona anárquica recebeu dos historiadores a alcunha de “A Noite dos Lobos”, que acabou de forma fatídica no “massacre da Catedral de São Basílio”, com a morte de todos os participantes, mas com o desaparecimento de seu líder, Fiódor Vasilev. Sua figura mítica de revolucionário suscita dúvidas até os dias de hoje, e para muitos historiadores sua reaparição no cenário das disputas teria sido constatada por várias testemunhas durante a revolução de 1917, existindo a forte suspeita de que ele se tornou um dos principais conselheiro militares de Trotsky. Boris Gregoriev nasceu em Petrogrado em 1942, escreve em várias revistas culturais e é casado com Olga Gregorieva, com quem tem dois filhos, Ivan e Natália.

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Xerifismo do STF

Três perguntas:

1Quantos anos de cadeia cada cidadão brasileiro se arriscaria a pegar caso o ministro Alexandre de Morais tivesse a mesma rigidez que teve com o bombadão fascista a respeito das postagens nas suas redes

2O que impediria a justiça de fazer isso com qualquer pessoa, na dependência apenas do humor de um super poderoso juiz que não gosta das suas palavras?

3Desde quando está valendo o crime de opinião no Brasil?

Realmente poucos teriam a coragem enfrentar um STF acovardado, que deveria mesmo ser suprimido, exterminado, pois que é um poder abusivo que age autoritariamente sobre os outros poderes democraticamente constituídos e que atua politicamente, de forma descarada, para fazer valer a vontade das elites e da pequena burguesia.

Só não vale reclamar quando o STF prender um amigo ou quando impedir o seu presidente predileto de concorrer; claro, nosso apoio só vai se expressar quando esses velhos medíocres atacarem um bombadão idiotizado pelos anabolizantes por dizer tolices em rede social. Nove anos de prisão por fazer gracinhas em redes sociais – e vamos deixar bem claro que “atacar” um poder constituído é um conceito bem diferente do que foi dito pelo réu, de que tinha “um sonho”. Ora, esse sonho de acabar com o STF até eu tenho, pois que esta instância é uma mistura de autoritarismo e xerifismo com o mais abjeto punitivismo.

Estamos cavando nossa própria cova. Esses julgamentos são absurdos, ou no mínimo exagerados e o caso do Daniel é emblemático. Quem agora comemora deve pensar que muito em breve este tipo de ação autoritária dos Ministros que julgam em causa própria vai se voltar contra um parlamentar da esquerda. Ontem, milhares de votos foram cancelados, e de novo através do autoritarismo do STF.

Aplaudir o ministros punitivistas, que agem como perfeitos xerifes de um filme de bang-bang, é pura estupidez, comparável a ficar feliz com os editoriais lidos pelo Bonner contra Bolsonaro. Não importa que o personagem da bolha fascista de agora seja um perfeito idiota, fascista e golpista, estamos abrindo uma porta que não seremos capazes de fechar. Anotem…

Precisamos com urgência de um órgão mais democrático, não vitalício e com pessoas realmente comprometidas com o cumprimento da constituição. Uma suprema corte que diz “O STF precisa escutar a voz do povo” (e não das leis!!!) deveria ser extinto no dia seguinte. Mas quando o STF faz algo que, circunstancialmente nos agrada, muita gente (inclusive da esquerda liberal) coloca a cara do Ministro Alexandre como wallpaper do celular e o transforma em herói da nação. Realmente, muitos preferem ser complacentes e servis com as diatribes de cortadores de pé de maconha e evitam críticas aos venais que agem como se a constituição fosse algo que pudesse ser criada a todo momento, na dependência de suas vontades, dos momentos e das oportunidades propícias para a autoproteção e a defesa dos interesse do mercado.

Cito aqui 5 exemplos de abuso obsceno de poder bem recentes protagonizados pela suprema corte:

1) golpe de 64 sancionado pela suprema corte, tratado como algo feito para o “bem da democracia”;
2) impedimento de Lula assumir como ministro de Dilma (o que poderia obstaculizar o golpe em marcha);
2) prisão inconstitucional de Lula,
prisão violando o artigo 5o da constituição, impedindo-o de concorrer; talvez para estes a prisão de Lula “era do jogo”, mesmo…
3) “impeachment” da presidente Dilma sem crime de responsabilidade – conforme amplamente comprovado, e até aceito por Temer, que reconheceu que o impeachment foi deflagrado porque Dilma não quis aceitar a “ponte para o futuro”. Pois também esse crime foi validado pelo STF;
5) a prisão arbitrária e absurda por 9 anos de um idiota que teve atitude de fanfarrão e boquirroto em rede social.

Uma breve pesquisa adicional e seria fácil achar outras centenas de atos autoritários para se somarem a estes. Com a adoção do “crime de opinião” ninguém está livre de ser perseguido por ter expressado sua opinião e sua perspectiva política sobre o país.

Muitos argumentam como se as leis fossem feitas de ferro, e bastaria se apoiar nelas para fazer valer o que é justo, ético e correto. Não… a lei não é feita de ferro, talvez de uma borracha maleável. Pensando bem, esta não é a melhor imagem; as leis são feitas de “slyme” e o STF faz o que quer com elas, moldando-as de acordo com os seus interesses intestinos e espúrios. Não apenas as leis regulares, mas a própria constituição, que é usada de acordo com as vontades desse colegiado medíocre. “Não tenho prova cabal contra José Dirceu, mas vou condená-lo porque a literatura jurídica me permite” lembram dessa pérola da ministra Rosa Weber? Sabe quando uma aberração como essas seria aceita num tribunal europeu? Jamais…. mas por que continuamos a aceitar estes absurdos jurídicos por aqui?

A resposta é óbvia, porém triste: é porque esse país é cheio, repleto, transbordante….. de gente comportada.

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