Tenho profundo respeito pela temática do aborto e o considero um dos temas mais importantes e emblemáticos no que diz respeito ao empoderamento das mulheres e para a conquista do protagonismo feminino.
Mas debater este tema me produz imenso desconforto…
Desconforto me descreve, por isso nunca debato abertamente este tema. Peço inclusive que as pessoas que são a favor da humanização do nascimento não tragam essa pauta para os debates. Ela é tão poderosa, e mexe tanto com as emoções, que muitas vezes o movimento pela humanização do nascimento fica eclipsado pelo debate da descriminalização do aborto.
É claro que sou contrário ao aborto, mas quem seria a favor?
Prefiro não debater abertamente a questão do aborto, e por isso que peço que as pessoas que são a favor da humanização do nascimento não tragam essa pauta para os debates. Ela é tão poderosa, e mexe tanto com as emoções, que muitas vezes o movimento pela humanização do nascimento fica eclipsado pelo debate da descriminalização. Eu acho que os congressos e os simpósios de humanização do nascimento deveriam evitar discutir uma temática tão arrebatadora como o aborto. Existem fóruns especiais para isso, e quando misturamos estes temas eles geram muita divisão. No movimento de humanização do nascimento existem defensores dos dois grupos: contra e a favor da legalização. Se nós incentivarmos que a humanização do nascimento se vincule a um deles perderemos pessoas que poderiam estar ao nosso lado mas que se afastarão pela questão do aborto.
Nos Estados Unidos, por exemplo, uma parte considerável das ativistas são cristãs. isto é: são pró-vida. Seria desnecessário e contraproducente estabelecer que os partidários da humanização do nascimento tivessem que se vincular a uma das correntes “pro life” ou “pro choice”. Como eu disse, tenho grande admiração por quem carrega esta bandeira, mas este tema é grande demais para nós, e pode produzir uma divisão desnecessária se ocupar tempo demasiado nos nossos questionamentos.
Entretanto, nada impede que cada um de nós carregue as bandeiras que quiser. Eu, por exemplo, defendo a Palestina Livre e o fim da ocupação, mas não aceitaria que esse tema fosse debatido em um simpósio de parto humanizado, mesmo sendo de imensa importância e estar vinculado com a saúde das mulheres que sofrem no cerco a Gaza.
O problema é que sou inexoravelmente a favor da vida e falar de sua terminação é desconfortável, por mais que eu apoie a descriminalização do aborto e tenha esperança de ver as mortes femininas evitáveis diminuírem com a sua implantação. Respeito quem faz do aborto livre uma bandeira feminina, mas não gosto de debater este tema, até porque a maioria dos argumentos de ambos os lados são inúteis e despropositados, em especial quando tentam produzir o convencimento de alguém que não aceita ser convencido. Por isso que insisto que “a luta pela descriminalização do aborto não pode ser religiosa ou ideológica, mas política. Esta é uma luta que se vence pelo convencimento da maioria e não pela conversão dos opositores”.