Arquivo do mês: janeiro 2023

O Troll da Comuna

Eu procuro selecionar bem os filmes que vou assistir com meus netos. Geralmente escolho filmes de aventura, com crianças como protagonistas, onde podem ser observadas inúmeras agressões às mais elementares leis da física, mas procuro evitar coisas que dão medo, como acidentes ou mortes, ou cenas que contenham situações absolutamente nojentas, como…. beijos.

De qualquer forma, o neto do meio, que recentemente fez 7 anos, ainda faz muitas observações engraçadas durante as nossas sessões de cinema. No filme que vimos esta tarde o pai da protagonista – um velhinho cientista, genial e incompreendido – acaba morrendo, mas fica provado que sua tese estava certa desde o princípio (claro). Quando ele morreu meu neto disse:

– Ele está de olhos abertos, vovô. Nos filmes quando as pessoas morrem elas fecham os olhos. Acho que ele não morreu.
– Bem, neste caso, ele morreu mesmo… sinto muito. Mas gente velha morre, isso acontece frequentemente quando a gente envelhece.
– Morreu? Hummm, mas só no filme né?
– Sim, só no filme. Eles normalmente não matam os atores durante os filmes, só quando o ator é muito ruim. Aí, quando tem muita reclamação, eles fazem prá valer.

Ele para e olha bem sério para mim. Leva uns 4 décimos de segundo e percebe a comissura direita dos meus lábios se retorcendo, o que sempre denuncia uma mentira.

– Ahhh vovô, para de mentir. Claro que eles morrem só no filme. Imagina que as pessoas iam morrer…. de verdade!!

Seria um egoísmo brutal de qualquer ser humano, mas eu confesso que adoraria muito que o tempo congelasse e eu pudesse conversar com os meus netos assim por toda a eternidade.

(Filme “O Troll da Montanha”)

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Lágrimas na Chuva

Esta é uma experiência corriqueira, ainda que eu creia que este drama é compartilhado por milhões de viventes como eu. Acordo de um sonho espetacular no meio da madrugada e penso demoradamente no que ocorreu na trama da qual sou espectador e protagonista ao mesmo tempo. Analiso seus mínimos detalhes, recordo as falas, os personagens e, quiçá, a própria música incidental que delineia e acompanha os movimentos de câmera com seus acordes envolventes. Interpreto suas múltiplas facetas segundo vários autores, Freud, Klein, Skinner, Lacan chegando até Pedro de Lara. Nada resiste ao escrutínio profundo da análise.

Dou risadas das incongruências lógicas do sonho, um humor involuntário que surge da tentativa do Ego em tomar as rédeas em um território que não lhe pertence. Finalmente faço um resumo mental da trama e dos significados psicológicos de cada tomada de cena e, já comprometido com a ideia de colocar o enredo no papel pela manhã, volto a dormir.

Ao acordar só o que me vem à mente é… “Eu vi coisas que vocês, humanos, nem iriam acreditar. Naves de ataque pegando fogo na constelação de Órion. Vi Raios-C resplandecendo no escuro perto do Portão de Tannhäuser. Todos esses momentos ficarão perdidos no tempo, como lágrimas na chuva. Hora de acordar”. E aí, tudo vira poeira, fragmentos dispersos de luz perdidos no infinito cósmico.

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Mentiras

Afinal, o que é uma mentira?

O conhecido aforismo de Friedrich Nietzsche, em um fragmento de 1887, onde afirma que “não existem fatos, apenas interpretações”, deve ser entendido como a submissão do real ao simbólico, a ideia de que a verdade não existe como um ente absoluto e positivo e, acima de tudo, como um alerta crítico de que a verdade não é definitiva, muito menos imutável, e que o que consideramos verdade hoje merece ser criticado e sofrer o devido contraditório. Muitas vezes estas verdades sólidas se desmancham no ar, necessitando para isso apenas a passagem do tempo. Afinal, o que é uma mentira? Se houvesse uma Verdade Absoluta – e portanto mentiras definitivas – quem decide sua essência e como ela se configura? Quem são os vestais, acima do bem e do mal, que podem objetivamente decidir o que é verdadeiro e o que não é?

É disso que se trata agora, quando tantos afirmam serem favoráveis à censura para barrar as mentiras disseminadas pelas redes sociais. Quanto mais você retira essa decisão do povo e a coloca sob o escrutínio das instituições do Estado burguês – um sistema de poder criado para calar as ambições populares – mais a esquerda será penalizada, mesmo que circunstancialmente a extrema direita possa estar sofrendo seu ataque.

A censura sempre vai favorecer os poderosos, e negar isso significa não compreender a origem e a estrutura da própria democracia liberal. Estimular a censura (mesmo quando maquiada de democracia e até quando bem intencionada) é uma estratégia conservadora, que fatalmente acaba se voltando contra as aspirações do povo. A lei anti terror, a lei da ficha limpa, a lei contra fake News…. todas elas foram aparentemente bem intencionadas e chegaram até ser usadas para punir membros da direita, mas todas – mais cedo ou mais tarde – acabaram sendo usadas para atacar as forças políticas populares e de esquerda. Lula, por exemplo, foi atacado, punido e impedido de concorrer às eleições de 2018 pela lei da ficha limpa. Poderíamos pensar que, talvez, desde o início ela foi pensada para, eventualmente, ser usada contra a esquerda em uma situação limite – como a volta de um líder popular ao governo do Brasil.

Não podemos ser vítimas dessa farsa… mais uma vez.

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Modelos e mensagens

Quando eu era adolescente escutei durante uma aula de inglês uma lição com uma frase motivacional na forma de um ditado, que por meio século se manteve em minha cabeça: “There’s more to clothes than to keep warm” (existe mais nas roupas do que simplesmente se aquecer). Esta noção do corpo como veículo da sexualidade – e das roupas como sua moldura – custou a se configurar como certeza, mas bastou atingir a adolescência para que ela caísse como um meteoro sobre minha cabeça. Por entender o quanto nossas roupas são mensagens é que, vez por outra, eu me espanto ao escutar ou ler algumas frases especialmente engraçadas sobre as razões para usá-las:

“Eu não me importo com roupas. Uso qualquer coisa e não me interessa se os outros gostam ou não. Eu me visto apenas para me sentir bem”. diz a jovem de jeans rasgados e tênis da “Balenciaga” que custam o mesmo que um trabalhador da construção civil leva três meses para ganhar de salário.

Acho engraçado porque este tipo de afirmação dá a entender que “as pessoas se bastam”, são ilhas de autossuficiência, como entes impenetráveis à opinião alheia. Nada me parece mais arrogante que isso. Uma vez meu filho, aos 12 anos, me confessou “tudo que eu faço é para me exibir, para oferecer algo aos outros”. Rara sabedoria.

Em verdade, essas coisas que nos empacotam como produtos na prateleira da vida importam sim, e muito. Não por outra razão as indústrias da moda e da maquiagem são dois dos mais poderosos empreendimentos do mundo. A moda mobiliza 2.4 trilhões de dólares por ano e, se fosse um país, seria o sétimo mais rico deste planeta, movimentando somas astronômicas para cobrir nossa nudez, ao mesmo tempo que, sedutoramente, nos convida a desvelá-la. A indústria de cosméticos já atingiu 571 bilhões de dólares anuais e está em franco crescimento, prometendo esconder defeitos, ressaltar virtudes e estancar a sangria do envelhecimento.

Além disso, existem os terríveis efeitos colaterais que estas iniciativas promovem. A indústria do vestuário é a segunda maior poluidoras do planeta, atrás apenas do petróleo, e a que mais enriquece pelo trabalho escravo. São cerca de 100 milhões de toneladas de fibras processadas em nível global. Nesse setor, o Brasil é responsável pela 5ª posição mundial, e somente aqui são produzidas cerca de 100 mil toneladas de lixo industrial cada ano, segundo a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit). Tudo isso é gasto para deixar as pessoas mais atraentes e mais desejáveis, com mais pontos no mercado da atração sexual. Portanto, não é justo imaginar que toda essa fábula de dinheiro é gasta e as pessoas “não se importam” com o impacto que as roupas produzem no sexo oposto (ou no mesmo).

Outro problema está relacionado com as questões éticas de muitas empresas da moda e sua invasão sobre temas extremamente delicados como a sexualização da infância. A empresa Balenciaga está sendo atacada severamente pelo tipo de publicidade que usa para seus produtos usando modelos infantis. Eu acredito ser abominável qualquer exploração da sexualidade infantil produzida por roupas e cosméticos. Se a roupa é realmente isso – uma mensagem e um convite – a exploração da moda infantil que erotiza crianças é algo criminoso e perverso. A infância é curta demais para ser desperdiçada com adultização precoce.

Eu não seria tolo o suficiente para acreditar que o dinheiro gasto em aparência é mal gasto e não há nada de errado em gostar de roupas e do que elas representam, e isso é algo que se estabelece na primeira infância – como tudo que é significativo e persistente em nossas vidas. Eu só acredito que imaginar que as roupas que vestimos são desimportantes ou que sua intenção não é – em última análise – erótica, é um grave erro. Se a mola propulsora do mundo é mesmo o sexo e a manutenção dos nossos genes no pool planetário, qualquer ação que nos aproxime desse objetivo é válida. Entretanto, há que se entender que o desejo justo de aparecermos apetitosos aos olhos do mundo pode ter um preço alto demais para as outras vidas do planeta e, em última análise, a nossa própria.

Talvez seja o momento adequado para rever nossa compulsão em “renovar o armário” e passar a ter um consumo mais adequado para a capacidade de renovação do planeta. Visitar um brechó é um bom começo.

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Quem nunca?

Ouvido por aí…

“Não amor, você entendeu errado. Eu adoro você, mas como amigo. Entenda, não me sinto preparada, sabe. Sei lá, talvez eu também tenha confundido. Um beijo (as vezes até uma transa, não?) nem sempre significa que a gente está apaixonada, né? Amar é uma coisa mais espiritual, menos do corpo e mais do Espírito. Você consegue me entender? As vezes essas coisas acontecem assim… ahhh… sei lá, é uma coisa de momento. Aliás, um momento lindo que ficará para sempre como uma memória que nós compartilhamos. Não há porque estragar essa lembrança, não lhe parece? Vamos começar do zero. Aconteça o que acontecer, seremos amigos para sempre, certo. Ra ra ra…. lembra aquela música dos três tenores? Não? Ok, não importa, o que vale é essa nossa amizade, que ela fique sempre forte, sem barreiras. E veja, você é até gostoso sabia? Hummmm, safadinho!! Hi hi hi. Mas saiba que nada do que estou falando significa que eu não gostei. Pelo contrário, bebê!!! Foi o máximo, foi super … mas foi. Como uma poeira de estrelas que o vento sopra e se mistura com as outras partículas do universo. Não sei se você me entende, ou se ficou confuso. Eu sou assim; falo pelos cotovelos, sabe? As coisas vem na cabeça e acabam saindo de uma maneira meio bagunçada. Não, é claro que a culpa não foi sua e você sempre foi o máximo comigo, inclusive aquela noite. Vou lhe confessar: você tem pegada. Pode acreditar, desde já estou com inveja da mulher que um dia vai lhe conquistar. Infelizmente, não serei eu. Sou leve demais, não me apego, sou solta como uma folha ao vento. Por favor, não me queira mal. Digo isso pelo seu bem, seu gostoso.”

Pedir para alguém detectar os “sinais sutis” do outro e interpretá-los como eles “verdadeiramente são” é retirar de nós o que nos configura como humanos.

Quem nunca?

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Leftismo

Acho curioso que, ao ser perguntado, sempre informo que sou um sujeito de esquerda. Mas isso acontece apenas quando estou no Brasil; se estivesse nos Estados Unidos eu jamais poderia sequer imaginar me associar aos movimentos da esquerda americana. Apesar de entender a dicotomia da política americana – onde um partido único de direita se separa em dois, sendo um chamado “right” e outro “left” – ainda acredito que não existe nada mais reacionário do que ser um “leftist” do partido liberal (democrata) de lá.

Nos Estados Unidos ficou muito evidente a aposta no “fim da história” preconizada por Francis Fukuyama. No ano de 1989, quando o mundo viu caírem os muros que separavam Berlim, o cientista político e economista americano Francis Fukuyama publicava seu famoso artigo com o provocativo nome de “O fim da história?” na revista The National Interest. Nele o economista antevia que a disseminação sem contraposição das democracias liberais e do capitalismo de mercado eram os sinais inequívocos de que estávamos dando um passo definitivo para o progresso econômico e cultural da humanidade, sendo o modelo disseminado pelo Império Americano aquele se seria o fim da nossa busca por um sistema global de justiça social. Três anos mais tarde, Fukuyama publicaria o livro “O fim da História e o Último Homem”, onde explorava com mais profundidade essas ideias.

Por esta razão, o bipartidarismo americano se assenta sobre essa premissa: nenhum dos partidos tem necessidade em debater a estrutura liberal da sociedade, pois se trata de um debate morto, solapado pelo tempo e pelo fracasso do socialismo real. Todavia, para manter a face enganosa de “duas propostas” políticas, dividem-se pelas questões de costumes como aborto, direitos para gays, negros, transexuais, imigrantes, etc. Para qualquer observador atento, fica claro que se trata da mesma proposta capitalista e imperialista que está presente no “ethos” de ambos partidos, o que se pode ver facilmente pela política externa, onde o imperialismo, o apoio a Israel, o incentivo à guerra e o controle do planeta com mãos de ferro são inequívocos pontos de confluência.

Aqui no Brasil é possível ver muitos reflexos do “leftismo” importado dos americanos no debate político contemporâneo. Partidos ditos de esquerda estão apostando muito mais do debate identitário do que no combate ao capitalismo, no imperialismo e suas mazelas. A exemplo do que ocorreu com o partido Democrata, parecem que apostam em pequenas reformas e na representatividade de setores ditos oprimidos para que a base da injustiça social não seja tangenciada. Aqui, suas pautas se expressam no identitarismo e no wokismo que, infelizmente, contaminaram setores significativos dos seus militantes. Para levar adiante suas propostas e sua visão de mundo não se envergonham de estabelecer contatos profundos e íntimos com instituições imperialistas e golpistas, como a CIA, USAID e NED. Os focos principais são as instituições em defesa das mulheres, do antirracismo, as que oferecem apoio à comunidade gay e aos transexuais, financiados pelas onipresentes “Fundação Ford”, “Gates Institute”, “Open Society” e aquelas ligadas aos irmãos Koch.

Se Lula não conseguir se livrar dessa armadilha o seu governo será inexoravelmente controlado pela esta direita mascarada de progressista, da mesma forma como estes grupos controlam o governo americano agora.

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Indignação Seletiva

Parte da esquerda festiva do Brasil agora debocha das solicitações que os bolsominions presos na Papuda e na Colmeia fazem sobre as péssimas condições dos presídios. Usam a mesma retórica da direita punitivista e repetem a frase infeliz do Imperador Alexandre quando este diz que “cadeia não é colônia de férias”, dando risadas dos pedidos que alguns prisioneiros fazem sobre sua dieta – determinada por condições médicas. Outros, entre gargalhadas, insinuam que os golpistas “apodreçam na cadeia”, atitudes que demonstram que boa parte da esquerda nada mais é que uma direita de sinal trocado, incapaz de oferecer uma perspectiva civilizatória, não revanchista e progressista.

Eu prefiro olhar de outra forma. Talvez essa seja uma rara oportunidade, um momento especial para o Brasil branco e de classe média sentir na pele a dureza e a crueldade do sistema prisional medieval que vigora no Brasil. Agora, aqueles que davam risada da prisão injusta e ilegal de Lula, tem a chance de entender o quanto é indigna a vida no cárcere e porque é urgente para a sociedade debater a perspectiva do encarceramento em massa que este país emprega. Muitos relutam em aceitar que não existe justificativa para a desumanidade, e nenhuma desculpa há para o tratamento cruel, violento e degradante oferecido aos detentos nas masmorras brasileiras.

Se a melhoria das condições das penitenciárias e cadeias precisou da entrada abrupta dessa gente branca e limpinha, que assim seja. Desejar que eles sejam mal tratados – da mesma forma como a população preta e pobre sempre foi – é nivelar por baixo ao imitar a crueldade que tanto acusamos, perdendo a oportunidade histórica de mudar as condições de todos os brasileiros presos, inobstante a cor, o gênero, a religião ou o crime cometido.

Não cabe ao Estado ser uma instância de vingança e veículo para nossos instintos mais baixos. Os direitos humanos representam a conquista das sociedades contra a violência do poder absolutista sobre os cidadãos. Jogar fora estes avanços é mergulhar num medievalismo suicida.

Chocar-se – com justiça!!! – pela miséria dos Yanomamis e ao mesmo tempo fechar os olhos para a indignidade dos presídios é hipocrisia ou indignação seletiva, acreditando que alguns sujeitos são mais dignos de direitos humanos básicos do que outros.

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Advogado

Daniel Alves contrata para defendê-lo um dos mais prestigiados advogados criminalistas da Espanha, que atende pelo inusitado nome de Pau Molins. Cara, é muito bizarro, mas também muito triste se pensarmos que, se ele estivesse com Pau Molins naquela fatídica noite, nada disso teria acontecido.

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Castidades

Sula Miranda, que já foi considerada durante muitos anos como a Rainha dos Caminhoneiros, declarou recentemente que não faz sexo há cerca de 14 anos. A cantora de 57 anos, irmã de Gretchen, é evangélica e adepta à ideia de se relacionar apenas se estiver comprometida em um casamento. “Eu quero compromisso e, hoje em dia, ninguém quer. As pessoas só querem ficar. Essa coisa de dorme na minha casa, depois durmo na sua… Estou fora! Para mim, tem que ser à moda antiga”, disse em uma entrevista recente

A história dela me faz lembrar a chacrete Rita Cadillac, que antes de aceitar a proposta de estrelar um filme adulto declarou que estava sem fazer sexo há muitos anos. Na época fiquei chocado ao perceber que a “deusa do sexo”, Rainha dos Detentos, era de uma castidade monástica.

Ou seja, a fama e a fortuna não são garantias de uma vida sexual ativa e feliz. Pelo menos não para muitas mulheres. Para quem acredita que o dinheiro é capaz de dar acesso a estas regalias parece que a realidade desmente nossa fantasia.

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Pacientes

É por essas razões que esse personagem se chama “paciente”, a mesma raiz de “sofredor”, derivada do latim patiens, de patior, que significa “sofrer”. A palavra paciente também contém o significado de “aquele que aguarda”, uma pessoa que necessita cuidados com seu bem-estar, cuidados médicos, mas que o faz de forma passiva e submissa.

De uma forma abrangente, a posição subserviente e secundária dos pacientes no encontro com os médicos sempre me intrigou, mas por outro lado eu também pude perceber o gozo existente na submissão às determinações de um “Outro poderoso”, que supõe saber sobre nós mais do que nós mesmos sabemos. Por ser tão rico em nuances, o contato com o médico é cercado de mitologias e fantasias, o que lhe garante uma aura de inegável mistério e suspense.

Esse encontro, desde as mais remotas lembranças da espécie humana, é um dos mais fascinantes da história, porque congrega vida, morte, saúde, doença e magia na troca de saberes e afetos entre dois sujeitos. Poucos contatos sociais são mais carregados de emoção quanto esse.

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