Arquivo do mês: novembro 2018

Cortes

Prá não dizer que não falei de partos…

Há 30 anos minha briga era debater com os neonatologistas a falta de sentido em cortar imediatamente o cordão após o parto. Meu argumento já naquela época era: “Se essa fosse uma necessidade imperiosa, como explicar o parto humano em bases evolucionistas? Como admitir que a natureza, para ser completa, precisava do surgimento de atendentes de parto com instrumentos cirúrgicos sofisticados? Como justificar esse corte imediato, usando a ideia de livrar o bebê dos perigos do “excesso de sangue”, se estamos cortando o suprimento do sangue FETAL extra que se encontra estocado na placenta?”

Pois nas 3 últimas décadas as evidências foram se acumulando no sentido de comprovar que a natureza não esqueceu destes detalhes. O corte prematuro e extemporâneo se mostra perigoso e deletério para o bem estar fetal, não oferecendo nenhuma vantagem para aquele que nasce. Pelo contrário: privar o bebê desse aporte extra de oxigênio e hemácias só poderia produzir resultados funestos. Esta prática não embasada sobreviveu apenas como ritual (repetitivo, padronizado e simbólico) para dar sustento ao controle dos profissionais sobre o fenômeno do parto sob a capa falaciosa do cuidado.

Para dar sentido a esse procedimento equivocado é preciso antes disso produzir a ideia socialmente construída de que a natureza é falha e não confiável, enquanto a mulher e seu mecanismo de parto são incompetentes e defectivos para garantir a segurança de mães e bebês.

Segundo Robbie, o modelo obstétrico contemporâneo só pôde ser estabelecido dentro do patriarcado e na visão profundamente arraigada da incompetência essencial da mulher, onde a tecnologia assumiria o papel de protagonista na tarefa nobre de resgatar mães e recém-nascidos de uma “natureza insensata e cruel”.

A introdução de tecnologias e personagens estranhos aos processos fisiológicos só pode ocorrer depois de uma análise muito criteriosa exatamente porque, depois de sua instituição, os sistemas de poder que a elas aderem dificultam sobremaneira a sua retirada.

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“The cord continues to act as the baby’s only oxygen supply until the baby starts to breathe, before the placenta becomes detached. So, even when a baby needs help to breathe, the cord should ideally remain intact as the baby is resuscitated at the bedside. If the umbilical cord is cut too early, the baby can be deprived of oxygen, 20-30% of its blood volume and 50% of its red blood cell volume.

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