
Essa frase de Paulo Freire sempre me perseguiu, e durante muitos anos. Infelizmente, não somos dados a conhecer saberes alheios, visões diferentes e encarar paradigmas desafiadores. Muito é perdido quando nosso conhecimento impõe viseiras que nos impedem de olhar para fora da nossa caixa de conhecimentos.
Para mim, um dos mais vibrantes ensinamentos foi o contato com as parteiras tradicionais mexicanas, convidado por Robbie a conhecê-las em suas viagens por Temixco, Tepostlán, Cuernavacca, San Miguel de Allende, Oaxaca, San Cristóbal de las Casas e o “DF”, a Cidade do México. Com elas pude ver que era possível enxergar o parto de uma forma “diferente”, nem pior e nem melhor, mas diversa daquela que eu havia aprendido na escola médica.
Curiosamente, mas não de forma surpreendente, muitas destas parteiras olhavam para mim como “el doctor“, aquele que trazia o “conhecimento autoritativo“, que seria superior ao saber acumulado em décadas por elas, com suas “sobadas“, o uso de ervas, do rebozo mexicano e, em especial, a abordagem emocional do parto e as divisões sutis e quase diáfanas entre os ambientes privados e públicos no seu trabalho.
Jã na minha perspectiva elas eram professoras e eu apenas um médico inseguro cuja única virtude era saber que havia outras formas de traduzir o nascimento para além do que eu havia aprendido.
Paulo Freire nasceu há quase 100 anos e, seja pelos seus ensinamentos diretos seja pelas mensagens e ideias que ficaram, ele é um grande marco na educação e na pedagogia para o mundo todo. Eu espero que a ideia democrática de respeito aos saberes, de forma livre de hierarquias, siga como um farol a iluminar sua obra.