Ciclos abertos

Para quem já passou por uma tragédia – grande ou pequena – a falta de um fechamento é a dor que mais machuca a alma. Sou da geração que procurava o Carlinhos, um menino carioca que desapareceu (provavelmente sequestrado e morto). Juntos acompanhamos a dor de uma mãe que se martirizou aguardando uma ligação e um reencontro que nunca veio. Isso me marcou. Comecei a entender a importância de, em uma guerra, enterrar seus mortos. Os ciclos precisam ser encerrados para que o sujeito possa ter paz e seu luto respeitado.

Para quem sofre por uma notícia que não chega a dor é renovada a cada noite, pois não permite ao espirito descansar. Pior ainda foram as centenas de crianças, adolescentes e até adultos, que por loucura ou oportunismo, diziam ser Carlinhos. Imagine a dor de quem, após surgir uma esperança, despenca de volta para a desilusão. Não há tormento maior….

O livro do Marcelo Paiva, que deu origem ao filme “Ainda Estamos Aqui”, também traz a perspectiva de uma família da classe média alta sobre a questão dos desaparecidos. Aqui ainda não se dá importância devida às mortes dos Amarildos e de todos os pobres que são executados pela polícia militar. De qualquer modo, o depoimento de pessoas que passaram pelo horror das ditaduras, em especial os que sofreram nas mãos desses militares medíocres, precisa ser contada, e os torturadores, sequestradores e assassinos expostos. Só assim para não repetirmos os erros tantas vezes cometidos.

Quem é da minha geração viu essa foto milhares de vezes…

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