O problema é que as críticas feitas aos governos Lula e Dilma foram em muitos aspectos injustas porque seus críticos – em especial aqueles da esquerda – não quiseram entender que para governar é necessário que haja um parlamento capaz de oferecer as condições para a aprovação de leis. No parlamentarismo isso é automático: o primeiro ministro é o RESULTADO de um parlamento favorável. No Brasil o presidencialismo não permite isso, e os governos do PT sempre foram grandes composições de um partido à esquerda com seus parceiros fisiológicos, entre eles o PMDB. Assim, o PT nunca governou pelas suas vontades e planos, mas para garantir uma maioria suficiente com elementos até da direita em nome da governabilidade. Eu compartilho com o assombro de tantos quando dizem que o PT fez uma grande revolução social sem possuir uma maioria garantida.
Esse mesmo tipo de problema existe nas críticas à Obama, sem levar em consideração uma casa parlamentar fortemente republicana que sempre foi muito contrária aos seus projetos, em especial o Obamacare. Por outro lado, essa crítica NÃO SERVE ao alcaide golpista e traidor que ocupa a presidência com 88% de apoio dos parlamentares, num golpe jurídico-midiático que atravessará a história como uma das grandes vergonhas desta nação.
O PT nunca governou por suas ideias e projetos: governou no limite do que podia suportar a tênue aliança com partidos, a maioria deles sem ideologia e sem projetos, mas que sempre sobreviveram como rêmoras no entorno dos tubarões. Sim, o PT fez uma grande revolução social sem ter uma maioria garantida.
O preço da governabilidade era esse. Quisesse governar por suas próprias ideias, sem fazer concessões e conchavos, e ainda teríamos o PSDB governando o país para os interesses internacionais, não teríamos revolucionado o ensino e não teríamos oferecido aos pobres e miseráveis a dignidade que alcançaram com os governos do PT. Se os acertos espúrios precisam ser criticados e condenados, é também necessário entender que na encruzilhada da esquerda ela se colocava entre a pureza virginal do PCO e do PSTU e a possibilidade de, entrando no jogo sujo da política, construir mais do que palavras, e fazer do Brasil um país em que os menos favorecidos pudessem ter dignidade e orgulho de nascer aqui.
Essa tese, da pureza doutrinária, eu me lembro muito bem nos primórdios do PT, e ela foi derrotada no processo de amadurecimento do partido. Sabia-se que, a continuar com o maniqueísmo que ainda contamina uma parte considerável da esquerda, o partido jamais teria a possibilidade de chegar ao poder. Na verdade, esta é a arte da política: engolir ou beijar “sapos barbudos”.
