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Sentido da Vida

No dia seguinte à minha morte o sol vai nascer e se pôr sobre esta colina, pequena Neesha, inobstante o fato de que eu não estarei mais aqui para admirar sua curva graciosa na abóbada celeste e seu mergulho glorioso no horizonte. Este será, sem dúvida, o maior ensinamento que o universo dará à minha arrogância: as coisas não precisam de mim, e tudo continuará girando sem que eu perceba.

Joseph Blaszczykowski, “Za górami słońce nie zachodzi” (Além da Montanha o Sol nunca se Põe), Ed. Zvedia, pág. 135

Joseph “Blatsch”, como assinava suas obras, nasceu na Breslávia em 1926 e morreu na mesma cidade em agosto de 2024 aos 98 anos. Na juventude lutou na União da Luta Armada (posteriormente Exército da Pátria) em ações de sabotagem contra as forças nazistas. Nesse período, junto com seus irmãos, auxiliou na interrupção das linhas de abastecimento alemãs para a Frente Oriental, danificando significativamente os transportes ferroviários das tropas alemãs. Com apenas 16 anos ficou conhecido como um forte e destemido guerrilheiro antinazista. Foi um dos homens mais procurados pelo exército de Hitler no período da ocupação, ficando conhecido por muitos como o “Lobo da Cracóvia”. Quando a guerra terminou, voltou para sua cidade natal Breslávia, onde ingressou no curso de história, graduando como mestre em história europeia. Seu primeiro livro foi sobre a formação do povo polonês. Neste livro “Formacja narodu polskiego” (A formação do povo polaco) ele explica que os germânicos migraram da área por volta do ano 500 da nossa era, durante a chamada idade das trevas. As áreas com florestas mais densas situadas ao norte foram ocupadas pelas populações bálticas. De acordo com estudos arqueológicos, os grupamentos de origem eslava ocupam a região da atual Polônia por mais de 1500 anos. Em 1952 ele escreve seu primeiro livro de ficção histórica, “Buty Führera” (As Botas do Führer) onde relata o encontro e a longa conversa de um sapateiro de Varsóvia com Adolf Hitler, durante a ocupação da Polônia, na ocasião em que este foi chamado para consertar as botas do chefe do III Reich. O livro alcançou um grande sucesso e foi vertido para o teatro em 1960. Seguiram-se vários livros de ficção sobre a temática da guerra, mas também da solidão, da pobreza, da ascensão da direita polonesa com Walesa, sobre a decadência capitalista, a guerra e por fim seu canto do cisne, “Além da Montanha o sol nunca se põe”, onde o tema é a velhice, a senectude e a morte. Neste livro ele conta a história de um velho vendedor de livros usados chamado Krzysztof Goralski que compra um livro antigo de uma garota indiana chamada Neesha. Folheando suas páginas ele encontra uma nota manuscrita, e a partir deste momento, profundamente impactado por seu conteúdo, ele fecha sua loja e empreende uma busca insana e obsessiva para reencontrar a garota. O conteúdo da nota jamais é revelado em todo o transcorrer da epopeia, mas fica claro que a busca de Krzysztof é pelo sentido de si mesmo, de sua vida e seu significado mais profundo. O livro, apesar de ter sido escrito a partir de 1980, foi publicado somente em 2023 a pedido do autor, para que esta fosse sua derradeira obra, e para que pudesse acrescentar ao personagem central da trama, o livreiro Krzysztof, os detalhes do espírito e a visão de mundo de um idoso, algo que só o trânsito pela velhice lhe garantiria. Joseph Blaszczykowski era viúvo de Maria Kristeva e teve 3 filhos: Piotr, Fiódor e Pavlev e 7 netos. Está enterrado em Cmentarz Grabiszynski, na Breslávia.

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