Talvez reste como única infidelidade aquela que parte do engano da alma. Eu costumava brincar com meus amigos fazendo-lhes uma pergunta capciosa, apenas para analisar (e me divertir) com os malabarismos lógicos para se adaptar a uma ou outra alternativa.
Sei que essa é uma pergunta muito mais dramática quando feita aos homens, até porque sua sexualidade objetual lhes oferece uma possibilidade muito maior de exercer a posse sobre o corpo da mulher, o que é respaldado pelo machismo contemporâneo. O domínio sobre o corpo alheio, resumido a objeto, é muito mais uma questão masculina do que feminina. De qualquer forma, respondam, mesmo que apenas em pensamento.
– Diante destas duas opções, e sendo obrigado a escolher uma delas apenas, qual seria a menos dolorida e cruel? Saber que sua mulher lhe foi infiel, mas sempre o amou e desejou OU saber que sua mulher SEMPRE lhe foi fiel, mas passou toda a vida ao seu lado desejando, sonhando e fantasiando com alguém que não era você?
O que os homens me disseram variou no tempo. Quando eu fazia essa pergunta há 30 anos os amigos diziam que o corpo precisava ser só deles; esse era o acordo, e a mente delas era impossível de controlar. Hoje em dia os homens tendem a falar mais da alma, e eu atribuo isso à lenta degradação dos valores do patriarcado. Não só o tempo social mudou, produzindo mais limites sobre o desejo de posse sobre o outro, mas a idade do interlocutor também parece ser um fator importante. Quanto mais jovem mais importância se dá ao controle do prazer alheio; conforme a idade avança mais significativa é a fidelidade afetiva, aquela que vem da alma e não do corpo.
Qual das fidelidades lhes é mais cara, a do corpo ou a da alma?
