Houve recentemente um questionamento sobre usar o pré-natal para avaliar a saúde dos companheiros, usando sua presença nas consultas como uma “janela de oportunidade” para avaliar doenças, fazer exames de rastreio e tratar transtornos que porventura tenham. Minha posição diante desta proposta foi, como de costume, contra-hegemônica.
Eu acho o contato com médicos extremamente perigoso à saúde. Eu sempre disse isso e sempre aconselhei as pessoas s evitarem check-ups, exames de rotina, avaliações com especialistas e tratamentos químicos para sintomas simples. Jogar os homens no redemoinho do intervencionismo médico é um risco muito grande. Deixem os homens em paz.
Os homens, por força do patriarcado, nunca foram as vítimas mais fáceis para o biopoder médico. Já com as mulheres esta expropriação foi sempre mais facilitada. A violência e os abusos que testemunhamos contra as mulheres no momento de parir nunca acontecem com os homens no seu percurso pela medicina, pelo menos nessa intensidade. Mas engana-se que isso seja negligência ou pânico.
Experimente meter o dedo nos orifícios de um homem sem uma enorme explicação de riscos e benefícios. Experimente “mandar” um homem parar com qualquer um dos seus vícios. Experimente abrir a barriga de um homem sem uma justificativa clara e cristalina. É pura tolice pensar que esta reserva quanto à invasão de seus corpos pode se explicar usando o clichê de que os “homens são medrosos”. Ora, quem enfrenta guerras, frio, risco de morte, tormentas e violência não tem medo de ter o corpo aberto à facão. O que os homens têm é respeito à sua integridade corporal.
Por outro lado, o corpo da mulher é um objeto social, o qual manipulamos de acordo com os nossos interesses. Nesse corpo existem deveres; já no corpo do homem é possível enxergar a autonomia e os direitos que naquele outro não percebemos. São corpos socialmente distintos, muito além da anatomia.
Se o pré-natal pode ser uma janela de oportunidade para os homens que ela seja aberta para que falem, que digam dos seus medos e expectativas. Peça aos homens que abram sua voz, não seus corpos. Não vamos melhorar a saúde dos homens convertendo-os à mesma religião de medo e controle na qual as mulheres foram batizadas desde a mais tenra idade.