A minha tese é que o capitalismo se mantém exatamente por seduzir milhões a serem voluntariamente controlados por ele. Ou seja, uma servidão inteligente e civilizada, que dispensa os grilhões. O frisson atual pela Barbie usa a estratégia de questionar os valores da Barbie para, ao fim, valorizá-la, torná-la ainda mais rentável, vender ainda mais e, quiçá, até transformá-la em um ícone feminista. É possível até imaginar que a gente veja em um futuro próximo mais garotas ostentando camisetas da “Barbie Empoderada” do que usando as manjadas Madonna e Frida Kahlo.
E para quem acha que as mulheres sofrem porque estão sempre tentando se adaptar às exigências do patriarcado, pensem na pessoa que elogia Pablo Vittar e assiste o filme da Barbie só para não correr o risco de ser chamado de transfóbico e machista. É duro manter as aparências, viu gente?
Aliás, a sacada mais genial do marketing do filme foi criar o factoide de que “os evangélicos estavam se mobilizando para boicotar o filme”. Ou seja, tentaram transformar o filme sobre uma boneca anatomicamente bizarra em uma arma cultural. Mas sabe o que é pior que o mi-mi-mi de gente chata que não aceita o conteúdo e fica reclamando do filme da Barbie? Resposta: Gente que não suporta que se critique o filme da Barbie e dá xilique público.
“Se não gosta, não veja o filme. Se não suporta a crítica, não leia”. Ou, alternativamente, veja o filme e leia as críticas. Seja… forte.
