Certa vez reclamei com uma amiga americana dizendo que, apesar dos Estados Unidos serem os maiores consumidores mundiais de café, este produto era servido muito aguado, fraco. Sua resposta foi curiosa: “Nosso café não é fraco, o de vocês é que é excessivamente concentrado”.
Sim, era uma forma interessante de contrapor minha perspectiva. Quem determina a concentração “correta” do café? Por que alguém teria o monopólio sobre o gosto adequado do café, considerando as outras formas como inferiores? Por que insistimos em estabelecer universalidades – valores corretos e certos – em um mundo que cada dia mais nos fala de formas subjetivas de classificar beleza, relevância, significado, valor e até mesmo os sabores de café?
Minha tese é que a raiz da proteção que se dá às comunidades negras se baseia em culpa e preconceito. Ou seja: enfatizamos a proteção porque acreditamos na sua fragilidade, o mesmo que fazemos com as crianças. Camille Paglia ressalta a importância do conceito de “street feminism”, onde as mulheres são criadas para serem fortes, altivas, poderosas, e não protegidas por leis de excessão ou através de punições pífias contra quem as desmerece.
Posso entender a tendência a proteger quem nos parece fraco e débil, mas acredito que acima de proteger é preciso criar um olhar diferente sobre esses grupos, estimulando-os a valorar suas especificidades. Antes de criar uma redoma de proteção é preciso estimular um olhar sobre si mesmos que demonstre sua força, beleza e poder. Sem essencialismos…
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