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Chatos

Tenho grande admiração pelas pessoas que seguem seus projetos e suas convicções mesmo depois da desaprovação da maioria. Esse tipo de persistência – cuja diferença da teimosia se descobre apenas a posteriori – é uma das mais importantes forças motrizes da criatividade e do crescimento.

Por trás de todo ato de genialidade humana encontramos um chato de comportamento obsessivo. Minhas homenagens a todos os inconvenientes e cabeças-duras que mudaram a história do planeta.

Quanto mais os homens ou suas relações parecem perfeitas no exterior e à vista desarmada mais garantido é que demônios habitam em seu interior. Desconfie da perfeição e da excelência, em especial aquelas autoproclamadas. A qualidade é humilde, a sabedoria silenciosa. Quando perceberes um compulsão insuperável ao autoelogio saiba que se trata apenas dos pequenos demônios de dentro querendo se expressar.

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Alteridade

Meus netos dividem o mundo entre o “bem”e o “mal”. Hoje em dia o mais velho pergunta de uma forma um pouco diferente: “esse cara é chato?”, que significa basicamente se ele representa as forças do Mal. O que ele pede quando começa o filme é que digamos a ele “em que lado do espectro eu o coloco?“. Para eles os personagens são benéficos ou maléficos. Para aqueles que representam o bem, só a felicidade poderá ser o prêmio a receber. Para os “chatos”, estes são merecedores dos piores castigos. Tipo o Gastón cair do penhasco na disputa por Belle ou como a “morte” trágica de Ernesto de la Cruz em “Coco”. No merci.

Mas eles tem 7 e 4 anos, e não conseguem vislumbrar matizes. Para eles a essência do sujeito é vil ou luminosa. O mais velho agora começa a entender que as pessoas são complexas; as vezes são más mas tem coisas boas dentro de si. Isso é desafiador para a cabecinha dele, mas faz parte do aprendizado da vida afastar-se das certezas e mergulhar corajosamente nas dúvidas.

Crescemos com essa perspectiva, pois libertar-se dessa visão de mundo é muito complicado. “Como ele pode defender o oposto do que defendo e mesmo assim encontrar nele qualidades morais?”. “Como posso enxergar virtudes em alguém tão diferente de mim quanto é possível entre dois seres?

O mais fácil é enclausurar-se no maniqueísmo e desreconhecer as semelhanças que nos unem a todos os outros seres humanos, mesmo que as circunstâncias e os contextos nos coloquem em posições políticas e sociais antípodas. O horror que nos faz odiar os diferentes é ver que nossas ações são quase iguais àquelas que tanto criticamos nos outros.

Meu neto mais velho diz: “e esse aí vovô, é chato ou é do bem?” e eu só de sacanagem respondo: “São que nem a gente, um pouco bons e um pouco maus”. Ainda acho que é de cedo que se planta a semente da alteridade

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