“O objetivo do espiritismo é a reforma intima e a evolução dos espíritos?“
Não é como vejo. O objetivo do espiritismo é exatamente comprovar a sobrevivência do princípio espiritual, a reencarnação e a lei de causa e efeito. A transformação moral do sujeito – se é que seja possível – é apenas uma consequência do tempo alargado, das múltiplas vivências, da multiplicidade das experiências terrenas e da convivência com o outro. O espiritismo não é (ou não deveria ser) uma doutrina moralista, que estimula as pessoas a fazer o “bem” e o “amor ao próximo”. Nada disso; o espiritismo é uma perspectiva de mundo e de universo que engloba as realidades do espírito; nada mais do que isso. É a compreensão do mundo a partir da imortalidade da alma, mas não tem como objetivo mudar o sujeito, transformar a sociedade, da mesma forma que Newton não criou a lei de gravitação para amarmos ao criador e sermos a ele obedientes. O espiritismo fala de leis naturais, não “leis de Deus”.
Essa transformação só pode ocorrer pela materialidade da vida, pelos choques, pelo contraditório e pela dor. O espiritismo, enquanto se aproxima da carolice religiosa cristã, se afasta de sua essência científica, filosófica e renovadora. Esse espiritismo católico que temos nas Casas Espíritas é apenas uma seita espiritualista que contém os mesmos vícios moralizantes e alienantes de todas as religiões tradicionais. Não é à toa que os espíritas em grande número aderiram ao conservadorismo e ao radicalismo fascista embrionário. Figuras como Divaldo aderiram aos crimes da LavaJato assim como Chico apoiou a ditadura militar, porque seu espiritismo é conservador. O espiritismo, se realmente tiver algo a dizer, será muito diferente do discurso religioso que temos no Brasil contemporâneo.
“Seriam as manifestações espirituais – leia-se mediunidade – casos de esquizofrenia, dissimulação ou falsidade ideológoca?”
Não creio ser essa uma perspectiva justa. Acredito na possibilidade de auto engano, sugestão, wishful thinking ou desejo mascarado de informação. “Safadeza” pode existir, mas jamais explicaria o fenômeno. Existe em pessoas como enganadores profissionais, prestidigitadores, mágicos, etc., mas não em número considerável para ser a razão principal. Psicose e esquizofrenia seriam explicação para um número limitado de casos, mesmo sendo importante levar essa possibilidade sempre em consideração.
A mediunidade pode ser um fenômeno muito interessante a ser estudado. Se aceitamos a possibilidade de manutenção de um princípio espiritual, poderia haver influência entre os planos? Seria possível estabelecer uma linha que parte da mera influência sutil e chega às manifestações mais explícitas? Negar estes fenômenos e tratá-los como falhas morais – tipo safadeza, bandidagem, engodo, dissimulação – não me parece a forma mais adequada de encarar relatos de fatos tão antigos quanto a própria história. Eu prefiro ter a mente aberta para a possibilidade de tais fatos serem verdadeiros e que descortinam uma realidade ainda desconhecida.
Pelo espírito Odracir

