Acabo de ver meu neto Olizinho fantasiado para participar de uma festa infantil de carnaval e fico pensando que talvez ele consiga alcançar algo que nunca fui capaz: o gosto pelo Carnaval.
Entretanto, a minha não gostância em relação à “festa da carne” não se baseia em qualquer critério moral (é uma falta de pocavergonha essas mulher pelada!), de saúde pública (são esperadas centenas de mortes no trânsito e nas estradas, ocasionadas pela bebida) ou o descritério econômico (tanta criança sem escola e o governo gastando com carnaval!). Não, pelo contrário. Eu acho o Carnaval extremamente importante do ponto de vista da cultura, pelos seus aspectos democráticos – todo mundo brincando e se fantasiando como quiser – pelo turismo que ele atrai e pela economia que gira, principalmente nas classes mais baixas.
Minha questão tem a ver com uma obliteração emocional, a mais pura falta de conexão com este tipo de alegria exuberante e extrovertida que se exige do folião. Vejo as pessoas cantarolando as velhas marchinhas, sentindo a letra em seus corações, dançando e pulando sem parar, bebendo cerveja de forma irrestrita… mas não consigo ver nenhuma graça, nenhuma alegria, mesmo reconhecendo (e invejando!!!) a inequívoca felicidade que os foliões experimentam durante as festividades de Momo.
Tenho a mesma impressão com o álcool e as drogas. Sei o quanto elas podem ser agradáveis para quem fuma ou bebe, mas não consigo sentir isso em mim. Sou obrigado a imaginar a sensação de prazer que elas percebem, mas neste caso pelo menos não me martirizo invejando.
Sim o Carnaval tem múltiplas formas de expressão, mas infelizmente nenhuma delas me atrai: blocos, carnaval de rua, carnaval de clube, trio elétrico, escolas de samba, pagodes na esquina, frevo de Recife, Galo da Madrugada, da noite ou da tarde. Nada disso me diverte, e fico esperando que isso tudo passe e a vida volte ao normal depois da quarta-feira. Todavia, longe de mim criticar quem gosta do Carnaval; adoraria que, com um passe de mágica, eu pudesse escutar as músicas que bombardeiam meus ouvidos e extrair delas algo feliz e grandioso, que meus pés pudessem sambar livremente ao som dos tamborins, e que a alegria inequívoca das folias pudesse encher minha alma do prazer inebriante que as pessoas descrevem.
Sou um deficiente carnavalístico, e não acredito que haja prótese ou cura. Sinto muito.
