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CPFs “cancelados”

Nada me fará pensar diferente: uma sociedade está muito doente quando celebramos a morte de quem quer que seja.

Eu entendo a indignação com os assaltantes e outros criminosos. Ninguém é obrigado a ficar impassível diante da violência. Entretanto, a solução NUNCA será o extermínio simples. Para cada criminoso morto outros mais surgem para ocupar essa vaga. A sociedade não fica mais segura apenas porque matamos estas pessoas. Vivemos em uma sociedade que PRODUZ criminosos de forma industrial por causa de um modelo econômico excludente e cruel. Matar gente, usando uma lógica higienista, não produz benefício algum.

Isso explica porque um país rico e excludente como os Estados Unidos têm mais de 2 milhões de pessoas presas enquanto a Suécia – inclusiva e igualitária – está fechando suas prisões por falta de demanda. Isso também fica óbvio ao vermos que a aceleração do encarceramento promovida nos últimos governos não foi capaz de diminuir a criminalidade e nem a sensação de insegurança.

Criar um estado policial – mortal e matador – só piora a indignação e o ressentimento dos excluídos. E não esqueça… quem morre é SEMPRE o pessoal preto e pobre das vilas e periferias, e nunca o branco criminoso de sapatênis dos bairros ricos.

Nosso sistema jurídico faz parte desse apartheid social que criminaliza e extermina os pobres

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Vítimas

“Aprendi a duras penas que não se dialoga com as vítimas. Cabe a nós apenas escutá-las e apoiá-las para a cura de suas feridas. O diálogo – onde dois escutam – é via de regra impossível para quem está passando por um trauma, pois a dor entorpece o raciocínio e bloqueia o entendimento.

Tudo que a vítima quer é se livrar da dor e do remorso, e não encontrar soluções plausíveis para problemas recidivantes. É muita dor, um salto excruciante no deserto das esperanças. Em casos públicos e espetacularizados de assalto, com armas, ameaças e medo, TODOS NÓS SOMOS VÍTIMAS e, portanto, nossa razão fica embaçada pela fumaça das emoções flamejantes.

Pedir ponderação e equilíbrio é uma tarefa dura, mas necessária. Sem a porção mínima de consciência – que nos torna humanos – como o necessário o verniz de intelecto que cobre nossas crenças e nossos medos ancestrais, não passamos de animais cuja forma de justiça se esgota nos linchamentos e execuções sumárias.

Olhar o trabalho da policial e fazer sobre ele uma crítica – positiva ou negativa – não deveria nos impedir de olhar de forma panorâmica e menos emocional para o caso. Se a segurança das crianças e das mães estava em primeiro lugar isso não significa que a gênese do mal que ali se expressava não possa ser avaliada.

Mais um negro pobre foi executado pela nossa sociedade racista, mesmo que admitamos que a policial agiu certo. Quanto tempo e quantas mortes de jovens negros serão necessárias para que a gente se dê conta da miséria de nossa estrutura social?

Para mim nada pode ser mais atual do que Terêncio: “Sou humano e nada do que é humano me é estranho”.

Nenhuma tara, insânia, crueldade, violência, racionalidade, virtude, loucura e transcendência está fora do alcance dos meus braços e dos meus olhos. Sou tudo aquilo que vejo nos outros; o que me assombra e o que me enleva.”

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