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Barbie

A minha tese é que o capitalismo se mantém exatamente por seduzir milhões a serem voluntariamente controlados por ele. Ou seja, uma servidão inteligente e civilizada, que dispensa os grilhões. O frisson atual pela Barbie usa a estratégia de questionar os valores da Barbie para, ao fim, valorizá-la, torná-la ainda mais rentável, vender ainda mais e, quiçá, até transformá-la em um ícone feminista. É possível até imaginar que a gente veja em um futuro próximo mais garotas ostentando camisetas da “Barbie Empoderada” do que usando as manjadas Madonna e Frida Kahlo.

E para quem acha que as mulheres sofrem porque estão sempre tentando se adaptar às exigências do patriarcado, pensem na pessoa que elogia Pablo Vittar e assiste o filme da Barbie só para não correr o risco de ser chamado de transfóbico e machista. É duro manter as aparências, viu gente?

Aliás, a sacada mais genial do marketing do filme foi criar o factoide de que “os evangélicos estavam se mobilizando para boicotar o filme”. Ou seja, tentaram transformar o filme sobre uma boneca anatomicamente bizarra em uma arma cultural. Mas sabe o que é pior que o mi-mi-mi de gente chata que não aceita o conteúdo e fica reclamando do filme da Barbie? Resposta: Gente que não suporta que se critique o filme da Barbie e dá xilique público.

“Se não gosta, não veja o filme. Se não suporta a crítica, não leia”. Ou, alternativamente, veja o filme e leia as críticas. Seja… forte.

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Joaquin Phoenix, soberbo

Queria deixar aqui o meu voto para o premio de melhor ator para o Oscar 2013. Vi todos os filmes com os atores concorrentes ao Oscar desse ano: Denzel Washington (Flight), Daniel Day-Lewis (Lincoln), Bradley Cooper (Silver Linings Playbook), Hugh Jackman (Les Miserables) e Joaquin Phoenix (The Master), e todos com interpretações muito boas (inclusive Hugh Hackman cantando). Entretanto, nenhum dos outros quatro chega perto do desajustado e sequelado Freddie Quell interpretado por Joaquin Phoenix. O filme, ambientado no período de pós-guerra nos Estados Unidos, mostra o jovem Freddie, com problemas de adaptação depois de passar por experiências traumáticas na família, com um amor do passado (Doris), na guerra e com uma pessoa que ele “talvez tenha matado”. Alcoolista e inadaptado, acaba por encontrar-se com Dodd Lancaster, o “Mestre”, que comanda uma seita baseada em reencarnação, conhecimento de vidas passadas, cura de doenças e hipnotismo. O encontro desses dois personagens gera uma forte ligação de dependência entre eles, que é o centro de onde emerge toda a dramaticidade da história.

O filme me tocou de uma maneira especial e significativa por abordar a influência dos gurus, dos “mestres” dos “escolhidos” e dos “iluminados” , desnudando a alienação patrocinada por essas figuras carismáticas, que desemboca na anulação do desejo de um sujeito. A aversão sistemática à racionalidade, mesclada com o obscurantismo dos pressupostos defendidos, nos apresenta um “Mestre” – protagonizado pelo oscarizado Philip Seymour Hofman – humano e bondoso, ao mesmo tempo que tem um comportamento sedutor, manipulador e despótico.   Um desempenho espetacular de Joaquin Phoenix na personificação de um jovem consumido pelo álcool, dramas do passado, dívidas emocionais e carências afetivas. Um grande filme para quem se preocupa com a liberdade e com o desenvolvimento de uma das mais complexas virtudes: a capacidade de criticar as suas crenças mais profundas, mais arraigadas e sólidas.

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