Tiro uma calça pendurada no calceiro e visto apressadamente antes de sair para o trabalho. Coloco a chave do carro no bolso da frente, a carteira no bolso posterior direito e, quando estou ajustando a calça, percebo um papel no bolso do outro lado.
Coloco a mão no bolso chapado de trás e mexo delicadamente o papel. Sinto a textura e o tamanho. O som do papel especial produz um barulho característico e inconfundível. O papel dobrado em dois roça em si mesmo sob a pressão dos meus dedos e sinto as pequenas irregularidades de tinta em sua superfície. Meu coração dispara e penso que hoje deve estar reservado um grande presente do universo.
Fecho os olhos e volto minha cabeça para o alto, enquanto minha mente em profunda oração silenciosa diz para si mesma: “cinquenta, senhor, cinquenta…”
Chega o momento da verdade e minha mão sai do bolso trazendo a pequena folha dobrada. Trago para a frente dos olhos, que se mantém fechados, em profunda conexão espiritual com as forças que comandam a prosperidade cósmica.
As pálpebras se abrem lentamente e a cor do papel se mostra com vagar.
Mas…. é azul o que o destino me ofereceu. Não é cinquenta; é dois.
Eu pergunto aos crentes e crédulos: Onde está Deus agora? Depois de todas as minhas preces é mesmo meio cafezinho a totalidade do meu merecimento?
Que papelão, meu Deus. Depois reclama quando fazem marchas por Satanás..
