Prefiro não exagerar nos adjetivos, mas creio que os espíritas do Brasil deveriam se preocupar com as diretrizes políticas que o movimento tem tomado, em especial após as declarações de alguns de seus expoentes. Acho difícil encontrar uma palavra branda para definir médiuns que, usando de sua influência no universo espírita, promoveram delinquentes como Moro, chamando-o de “Espírito de luz”. Essa afirmação, vindo de onde veio, nos coloca diante de um claro dilema: uma possibilidade seria que o referido médium emitiu sua opinião política pessoal a um público espírita para emprestar seu prestígio a um grupo criminoso de juízes e promotores da Lava Jato, o que por si só seria uma usurpação de suas funções como divulgador do espiritismo e um erro histórico. Lembrem que Deltan e Moro, os líderes dessa facção, estão sendo processados pelos crimes cometidos.
A segunda possibilidade é de que sua manifestação foi inspirada pelos espíritos “de luz” que o acompanham, mas isso coloca a clarividência desse grupo de “espíritos assessores” em cheque. Agora que sabemos todas as ligações da turma da Lava Jato com interesses imperialistas – o DOJ e a própria CIA – é provável então que estes “conselheiros” sejam apenas palpiteiros do plano espiritual, imbuídos do mesmo caráter reacionário, punitivista e individualista de tantos iguais a eles que habitam o plano terreno. Ou seja: para que serviriam as mensagens mediúnicas se os espíritos que as manifestam têm os mesmos vícios e a mesma carência de consciência de classe que os encarnados? Qual a sua utilidade se sucumbem ao mesmo punitivismo que desreconhece a dinâmica social na gênese da iniquidade e da injustiça?
Assim sendo, prefiro ficar com as manifestações das personalidades vivas, pois que estas, no mínimo, são obrigadas a suportar o contraditório, podem ser pressionadas a comprovar suas teses e mostrar suas fontes. Mais ainda, deveríamos derrubar essa aura falsa de infalibilidade que surge quando a opinião vem de “espíritos superiores”, o que nos faria testemunhar a debacle de suas teses quando as evidências despontam no horizonte. Onde estão os espíritos que exaltavam a “coragem” do “conje” e sua postura magnânima e viril na luta pela justiça? Provavelmente estão encolhidos com vergonha de se manifestar.
É curioso como os espíritas de direita criticam o apoio da esquerda à Cuba e a ligação com nosso maior parceiro comercial, a China, mas nada falam das visitas dos governos anteriores às ditaduras declaradas da Arábia Saudita ou de Israel, que comanda um sistema racista de Apartheid na Palestina. Onde está o “fora da caridade não há salvação” quando dão suporte a países racistas? Afinal… os espíritas também vão embarcar nesse apoio à Israel? Vamos fechar os olhos para os massacres que se iniciaram há 75 anos? Vamos nos associar na sustentação desses crimes através do “sionismo evangélico”?
O movimento espírita, que deveria estar à frente das manifestações pela paz, deveria se manifestar em nome das crianças palestinas que estão morrendo em nome da ganância imperialista.
