Será possível ainda acreditar que a abordagem sobre as dificuldades sexuais – tanto para homens quanto para mulheres – pode ser de ordem cognitiva? Vejo gente falando sobre “as mulheres não conhecem o próprio corpo,” dando a entender que a “ignorância” sobre ele acarretaria em dificuldades para obter prazer. Quando leio isso eu lembro das opiniões médicas sobre “homossexualismo” de alguns poucos anos que afirmavam que tal “desvio” poderia ser “curado” pela perspectiva racionalista.
Pessoalmente, não acredito nisso. Creio que sexo não mora nos genitais e sequer no neocórtex; para homens e mulheres ele dormita nas profundezas do inconsciente e só com uma abordagem que abra as cancelas que protegem as suas profundezas será possível mudar seu destino. Não há nada que possa ser “ensinado” às mulheres e aos homens que seja capaz de mudar a rota do seu próprio prazer. Buscar na razão esta resposta é como procurar a chave perdida debaixo do poste de luz, mesmo sabendo que ela foi deixada mais abaixo, num ponto escuro da rua.
Para mim afirmar que as agruras da sexualidade podem ser motivadas com cursos ou “informação” tem o mesmo valor que dizer que o vício de fumar pode ser vencido se ensinarmos aos fumantes os os malefícios do cigarro. Ou ainda – na mesma direção e em sentido oposto – se acharmos que um treinamento ou uma “formação” poderiam curar uma compulsão sexual (como uma parafilia, por exemplo). Acho que isso nada mais é do que procurar no lugar errado.
Cursos e vivências sobre a temática da sexualidade podem melhorá-la não pelo que se “aprende“, mas pelo que se “apreende“.
O problema sempre ocorre com abordagens prescritivas, ao estilo “Nunca faça isso“, “faça assim“, “dar prazer sem receber é errado“. Errado para quem? Como podemos julgar a subjetividade nesse nível? Uma compreensão rasa e limitada do que seja prazer pode nos fazer julgar o prazer do outro como “errado“.
A melhor e mais preciosa história que conheço a este respeito vem do filme Manhattan, de Woody Allen, pela voz da personagem de Tisa Farrow (irmã de Mia).
Ela chega na festa e diz para um grupo de convidados:
– Queridas, queria comunicar a vocês que, depois de 20 anos de análise, ontem eu tive pela primeira vez um orgasmo.
As amigas a abraçam eufóricas, mas ela diminui o entusiasmo delas com um olhar condoído.
– Calma, meninas. Infelizmente meu psiquiatra informou que eu tive um orgasmo do tipo errado.
“Ohhhh“, dizem e se apressam em consolá-la.