“Previsível. A falta do olhar endurece os ouvidos. Sem a presença do outro nossa fala perde o matiz; tudo fica preto ou branco. Por isso muitas pessoas usam a fala “já conheci ele pessoalmente e…”, porque esse contato humaniza o debate. Para as mulheres esse fato é mais dolorosamente verdadeiro. As mulheres têm um sistema de comunicação muito mais sofisticado em função dos milhares de anos traduzindo maneirismos e expressões sutis de bebês para entender suas necessidades. E isso, que sempre foi uma virtude, se torna um fardo num mundo de simplificações.
Pois exatamente porque a comunicação feminina é tão mais complexa e alimentada por sinais não verbais a internet se torna um tormento. Aqui “tome posse do roteiro de sua vida!!!”, ao não vir acompanhado de um abraço, um sorriso, uma lágrima doce ou uma expressão de acolhimento pode se transformar em dureza e grosseria. Para quem sempre viveu por milênios rodeada de informações sutis e subliminares sobre os seus afetos a escrita da internet é de uma pobreza assustadora.
No final sobram discursos carregados de ressentimento com direcionamento errado. Uma palavra mal colocada na tela fria acaba acertando nossa fragilidade e, num gesto impensado e inexorável, tornamos inimigo quem de nós meramente discorda e jogamos nossas dores e frustrações para alguém que sequer nos desejava mal. Usamos sujeitos ocultos do espaço cibernético como fantoches, amortecedores de nossas dores e receptores de nossa angústia.
Fogo, fumaça, carvão e terra arrasada. Depois a tentativa de reconstruir lembrando que, num tempo não muito distante, estávamos todos unidos na mesma dor e nos mesmos sonhos.”