
É impossível crescer sem sentir dor. As dores – tanto as físicas quanto as da alma – são constitutivas dos sujeitos, sem as quais nos tornamos autômatos e insensíveis. Somos formados no espaço que se cria entre nossos traumas e a solução que encontramos para eles.
Imaginar uma vida sem dissabores, perdas, fracassos e derrotas é absurdo e talvez enlouquecedor. É preciso agradecer por nossas tímidas vitórias cotidianas tanto quanto pelos nossos fracassos pedagógicos. Devemos fugir, isto sim, da anestesia, e saudar com sobriedade as dores inevitáveis que nos moldam a alma.
Henry Bouchel, “La vue pour l’avenir”, Ed. Sotero, pág 135
Henry Bouchel é um escritor argelino, nascido em Mostaganem, na costa do mediterrâneo, em 1940. Seus pais eram franceses e trabalhavam na Universidade Central de Mostaganém. Seu pai, Michel Bouchel era professor de literatura francesa e sua mãe Madeleine Bouchel era professora de geografia. Na sua infância foi testemunha dos levantes liderados por Ahmed Ben Bella, chefe da FLN – Frente Nacional de Libertação – que atuava tanto nas comunidades rurais quanto urbanas da Argélia. Muitos de seus livros espelham este respeito pelos sentimentos patrióticos dos magrebinos e sua luta contra a colonização europeia. Cerca de 300 mil argelinos pereceram nesta guerra, e 27 mil soldados franceses não retornaram vivos para casa. Sendo sua família de imigrantes, o medo de um ataque por parte dos argelinos era constante. Apesar disso, Henry desenvolveu uma clara simpatia pelas reivindicações dos argelinos por liberdade e autonomia. Muitos de seus livros espelham este respeito pelos sentimentos patrióticos dos magrebinos e sua luta contra a colonização europeia. Em 1962, quando Henry completou 22 anos de idade, a paz foi assinada por Charles De Gaule, e Ahmed Ben Bella foi conduzido à presidência. Todavia, Henry e sua família já haviam se mudado para a França há alguns anos, temendo algum tipo de ataques à sua família, como ocorreu com mais de 900 mil franceses que tiveram que voltar à França durante e após o conflito. Seu livro “O Perfume do Deserto” (Lódeur du Désert) descreve a saga de um casal de franceses em sua tentativa de fugir da FNL e voltar à França, no livro que posteriormente se tornou uma famosa película estrelada por Yves Montand.