
Curiosamente, no contrafluxo do paradigma individualista, eu não gostaria de um comprar um tênis que fosse único, diferente de todos os outros, com a minha “marca pessoal”, um elemento de distinção no vestuário. Não acho justo colocar tamanha responsabilidade em um item externo, algo que pode ser comprado por alguns dinheiros e que apresenta muitas vezes uma falsa originalidade, pois que os pensamentos que habitam essa roupa “diferente” nada diferem do senso comum, tantas vezes escondendo ideias e posturas conservadoras e preconceituosas.
Pelo contrario; eu gostaria de usar uma roupa – incluindo um tênis – que me deixasse igual a todo mundo, que me fizesse desaparecer visualmente na multidão, que me tornasse igual à massa ao redor, assim oferecendo a oportunidade para que a minha fala e meu discurso fossem os elementos a expressar meu caráter único e distinto. Quando delegamos aos elementos exteriores a função de expor características subjetivas é porque admitimos que o interior se sente frágil ou incapaz para essa tarefa.
Menos roupas únicas e mais ideias originais e corajosas.”
Antoine Marcel-Dupré, “La pensée à la fin de la ligne. Haute couture, idées basses.” (Pensando no fim da linha: Alta costura, baixas ideias) Ed. Parnasse, pág. 135
Antoine Marcel-Dupré é um sociólogo francês escritor de várias obras de cunho didático na área da sociologia. Trabalhou na Ecole Parisienne d´Estudes de Sociologie durante 30 anos, e se aposentou um ano antes de morrer em 2017.