
Nesta foto aparece uma charmosa esquina de Porto Alegre durante a famosa enchente de 1941 – Ladeira com Rua da Praia. Esse fato dramático produziu a coisa mais feia da história dessa cidade: o muro da Mauá, que separou o centro de Porto Alegre do seu rio.
Conta-se que nessa enchente algumas grávidas ficaram ilhadas pela alta das águas do Guaíba e, assim incapacitadas de chegar aos hospitais durante o trabalho de parto, tiveram seus filhos sem assistência. Daí surgiu a expressão tipicamente porto-alegrense “abobadinho da enchente”, que homenageia as crianças nascidas durante o período em que o Guaíba invadiu a cidade. Sabemos hoje o preconceito que essa expressão carrega: mulheres sem assistência de médicos (homens) não conseguem parir bebês saudáveis. O tempo mostrou que é esta assistência que, quando abusiva e despregada das evidências, resulta em violência institucional e riscos aumentados para mães e bebês.
Hoje, os “abobados da enchente” são aqueles que negam as evidências e se mantém numa prática violenta e misógina, contrariando os preceitos de uma atenção centrada na mulher e no bebê. Curiosamente, depois da construção do muro nunca mais tivemos uma enchente das proporções daquela de 1941.
Quatro anos depois…
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