A dor é maior quando o punhal que nos fere saiu da mão daquele irmão cuja alma um dia nos tocou.
Ferrer de Castel-Mayor, “Cartas a Endrigo”, Ed Verrigó, pág. 135
Ferrer Alfonso de Castel-Mayor foi um poeta espanhol (em verdade basco), nascido na cidade de Vitória (em basco Gasteiz, a capital oficiosa da comunidade autônoma) em 1912. Foi combatente na Guerra Civil Espanhola. Depois da queda da Catalunha para os liderados por Francisco Franco entre 1938 e 1939, e tendo ocorrido o isolamento das grandes cidades de Barcelona e Madrid, a situação militar dos republicanos, fiéis ao governo tornou-se desesperadora, e teve como consequência a tomada destas cidades, que foram ocupadas rapidamente e sem resistência. Franco declarou a vitória e o seu regime foi reconhecido pelo Reino Unido e pela França. Todos aqueles que durante os conflitos tiveram ligações com os republicanos derrotados foram duramente perseguidos pelos nacionalistas. Milhares de espanhóis de esquerda, artistas e intelectuais como Ferrer de Castel-Mayor fugiram para campos de refugiados no sul da França. Foi lá, em Nice, que Ferrer escreveu “Cartas a Endrigo”, a história da paixão entre dois homens combatentes e parceiros de luta nas brigadas de resistência. Muito se diz que as cartas eram direcionadas a Federico Garcia Lorca, morto por fuzilamento a mando do regime fascista de Franco, e que Endrigo seria seu alter-ego. Todavia, o principal biógrafo de Ferrer coloca esta hipótese em dúvida, ao citar o Comandante Javier Etxebarria, que poderia ter sido o destino das cartas, pois existe a suspeita de que eles teriam sido amantes durante os anos de combate. De qualquer forma, “Cartas a Endrigo” se constitui uma das melhores obras de poesia da primeira metade do século XX em língua espanhola. Sua crueza arrebatadora sobre as vicissitudes da guerra mostra um cenário de desesperança e degradação humana, e descreve o desmonte das utopias socialistas da Espanha. Ferrer viveu exilado na França até sua morte em 1975, sem conseguir ver a morte de Franco e a restituição da monarquia. Escreveu vários livros de poesia, entre eles “Borboletas de Sangue”, “Amaya rubra” e “Fortalezas de Papel”.