A mesma violência que agora é imposta a Elza Soares por declarar seu amor por Garrincha é direcionada a qualquer mulher que ouse admitir publicamente seu desejo caótico e contraditório, e que tenha a coragem de admitir o amor por seu homem. Pois é esse amor puro (no sentido de selvagem) que irrita as controladoras, monjas defensoras de um modelo velho e anacrônico.
O mesmo discurso é feito até hoje com Frida Kahlo e sua paixão por Diego, a ligação problemática de Ava por Frank, Anjelica Huston e sua paixão por Jack Nicholson, etc.
Para uma pretensa defesa das mulheres exige-se delas a submissão a um catecismo baseado no ódio e no ressentimento. Pior ainda, tratam as mulheres como tolas e infantis, incapazes de fazer escolhas maduras. Destaco essa frase do texto publicado por Fernando Souza Jr. que denuncia a ideia de que as mulheres nunca tem condições de analisar seus desejos sem a orientação daquelas que acreditam saber tudo sobre o sentimento de cada uma delas.
“No caso, tem-se a impressão que Elza Soares foi uma mulher incapaz de conhecer a própria história, as próprias dores, as próprias escolhas. Iludida por algum feitiço patriarcal mui potente, Elza não teria condições, sozinha, de interpretar racionalmente fatos ocorridos em sua própria existência.”