Estive em San Cristóbal de las Casas – México, há uns 15 anos, onde passei por uma experiência curiosa. Para sair do hotel até o local do congresso de parteiras tradicionais mexicanas chamei um táxi. O motorista, mexicano do Chiapas, me explicou um pouco do culto ao Subcomandante Insurgente Marcos, mas me disse para tomar cuidado com os guatemaltecos que se aglomeravam na praça central – o zócalo. “Eles são desocupados, alguns deles bandidos. Nao dê conversa a eles, pois só querem atrapalhar nossa cidade. Deveríamos impedir que entrassem ilegalmente em nosso país!!”
Achei surpreendente, mas didático. Bastou mudar só um pouquinho a latitude para fazer os invasores se tornarem invadidos, e o discurso xenófobo rapidamente mudar de lado. “Nosso mundo ainda é cheio de fronteiras” pensei. Nossas cidades ainda estão lotadas de imigrantes, forasteiros, deslocados e perseguidos, porque nos dividimos artificialmente em países, estados, crenças, grupos, raças, credos, etc. Entretanto, quando aproximamos o olhar, percebemos que nossa essência é muito parecida, variando apenas com os contextos e circunstâncias.
Como diria meu amigo Max, “se um viajante do espaço sideral chegasse à terceira rocha depois do sol e se deparasse com a variabilidade da espécie humana ele se espantaria muito mais com nossas semelhanças do que com as nossas diferenças”. Somos assustadoramente parecidos em nossa essência…
Não creio que essa experiência com o taxista seja algo capaz de representar negativamente o local, mas o que alguns poucos americanos falam dos imigrantes mexicanos na California ou no Texas também não. Apenas me chamou a atenção porque alguns mexicanos seriam capazes de mimetizar as mesmas falas que ouvimos (e deploramos) nos gringos.
Quanto ao Subcomandante, eu fiquei impressionado com a iconografia que se via nas ruas. Inúmeras camisetas, pôsteres, chaveiros, bandeiras, imagens, etc. Talvez os tempos sejam outros e não exista mais tanto culto à sua personalidade.
Visitei também San Juan Chamula e fiquei profundamente impactado pela igreja que cultua São João Batista. É uma igreja bem bonita, mas o interessante é o sincretismo único das práticas. Na frente de cada altar existem centenas de velas e inúmeras garrafas de refrigerante. A Coca é a favorita dos fiéis, mas até a Pepsi e outros tipos de refrigerantes tem seu lugar nos rituais. Nessa cidade autônoma também se fala o Totzil, língua nativa local. As garrafas de Coca Cola e a grama que serve de piso na Igreja (como se fosse uma manjedoura) nunca saíram da minha memória.