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O Mistério dos Túneis

Há muitos anos desenvolvi o costume de contar histórias de aventura para os meus netos mais velhos, a exemplo do que minha mãe fazia quando éramos pequenos; ela criou uma espécie de “propina” para que eu e meu irmão ajudássemos a secar a louça do almoço. Talvez eu tenha aprendido nessa época o quanto estas narrativas são cativantes. Nada mais magnetizante do que contar uma história e perceber a emoção tomar conta de quem a escuta.

As aventuras que conto para eles são sempre sobre fatos que acontecem a uma dupla de pré-adolescentes, da idade deles, que se envolvem em atos heróicos. São invenções minhas, que normalmente crio na hora, por cima de um roteiro prévio. Sobre a linha básica de criar nas histórias a identificação com suas próprias vidas, sonhos e ideias, já se foram dezenas de pequenas epopeias contadas. A história atual se chama “O Mistério dos Túneis”, e mistura um drama familiar com o roubo de um banco, onde os garotos, munidos apenas de sagacidade e coragem, encontram pistas que levam aos antigos túneis de esgoto da cidade, o que pode fazê-los encontrar os criminosos. No meio dessa trajetória de descoberta são obrigados a debater sobre o drama que se abate sobre seu pai.

As histórias são contadas em capítulos, um por noite, e não podem ultrapassar 1 hora. É curioso o fato de que sou interrompido frequentemente com as ideias que eles formulam sobre a trama, tentando adivinhar o fim e a solução do caso. É impressionante a tensão que criam com uma simples narrativa de suspense e mistério; não existe “dopping” mais forte que esse.

Tudo isso seria apenas o fato corriqueiro de um velho contando histórias para seus netos, não fosse o que eu escutei ontem. Quando chegou da escola, meu neto Henry, de 8 anos, me disse:

– Vô, contei o capítulo do “Mistério dos Túneis” para todos os meus colegas. Eles querem muito saber o resto da história.

– Sério?

Meu outro neto, Oliver, de 11 anos, emendou:

– Vô, tu poderias ficar milionário escrevendo um livro com estas aventuras.

O que era só diversão agora tomou um caminho muito mais sério… 

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Velho raiz

Sinal de velho:

Não, não é a roupa que prima pelo conforto e não pela moda. Não são as expressões “boko moko” e “na crista da onda”. Não são as músicas ou os programas do meu tempo, e nem ficar dizendo toda hora “eu vi Pelé jogar”. Também não é lembrar das marcas de carro do tempo antigo, como Éroílis, Simca Chambór, Opalão, Decavê, Galaxi, Dogechárger, etc…

Velho mesmo, idoso raiz, quando encontra alguém do seu tempo on line, fica trocando foto de neto e dizendo “meu Deus, como está grande!!“, ou “essa tua neta está uma mocinha!!!”.

Se você já chegou nesse ponto, relaxe e solte os braços, pois daqui pra frente é só descida….

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Dia dos Pais

Desde muito cedo, a criança é um depósito de desejos parentais. Em verdade, bastam poucos segundos para que a alma da criança, tal qual uma massinha colorida de modelar, seja manipulada, manuseada e constituída pela voz e o olhar de sua mãe. Desses sussurros, palavras e frases cortadas, a criança é jogada dentro da linguagem e ali ficará enclausurada, condenada a um mundo de símbolos e significados. Também esse encontro a tornará prisioneira de um amor que, tanto é essencial para a vida quanto é sufocante e limitante.

Para estas, que sobreviveram pela dádiva do amor a elas dispensado por este ser mitológico que é a mãe, a melhor forma de sobreviver à primeira infância é ter em seu caminho uma pedra. Uma gigantesca rocha a obstaculizar seu caminho. Pétrea, dura, forte e ígnea, capaz de interromper esse amor, impedindo a continuidade de uma relação perfeita, para que essa criança possa encontrar – por si mesma – o caminho do amor maduro. O nome dessa pedra é pai. “Pai, tu és pedra, tu és rocha, e sobre teus ombros construirei minha vida. Tu serás o grande exemplo para nortear meu caminho. O maior aprendizado que levarei de ti é que a paternidade será uma construção eterna, uma tarefa infinda, um trabalho imperfeito e sem fim.”

Grato por existir.

(Na foto, meu pai Maurice, meu avô Samuel, meu filho Lucas, e eu. Todos pais, cheios de erros e imperfeições, repletos de equívocos e falhas, mas que ainda assim merecem que seu trabalho na seara da paternidade seja – por um dia apenas – reconhecido.)

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