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Culpas

Por favor, cuidem dele e o levem ao médico.”

No dia 21 de julho de 2024, um bebê com 5 a 10 dias de nascido, de uma gestação a termo – segundo estimativa de profissionais de saúde – foi deixado porsua mãe em no banheiro de uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento) em São Bernardo do Campo, São Paulo. Junto da criança foi deixado um bilhete, solicitando que o cuidassem bem e o levassem ao médico.

A culpa essencial e primordial para fatos absurdos como o desta mulher, que abandonou seu filho em um banheiro público, é da sociedade de castas, do capitalismo, da pobreza projetada e estimulada, da injustiça social e da distribuição obscena de riquezas. A miséria é uma construção social perversa desse modelo que nos divide pelo capital, filha direta da sociedade de classes. Entretanto, isso não absolve quem abandona um filho.

Reconhecer de onde vem esse mal não significa ignorar tudo o que vem a seguir. Se assim fosse seríamos obrigados a inocentar todos os assaltantes pobres, os ladrões e os abusadores, jogando a culpa na sociedade e sua estrutura perversa onde estão envolvidos. Não haveria sociedade possível utilizando este tipo de justiça. Não haveria ordem se justificássemos todos os males pessoais pela estrutura que nos controla; algum nível de responsabilização subjetiva é necessária.

Portanto, essa mulher também tem sua parcela de culpa, e se querem saber o quanto, basta pensar como se julga um homem que abandona os filhos. Para esses não existe contexto e nem frases ao estilo “menos julgamento e mais empatia”. Para estes só a dureza da lei. Para os homens que abandonam os filhos não existe contexto, apenas escolhas pessoais baseadas no egoísmo. Por que tratamos esse fato de modo tão diverso?

A empatia não pode ser oferecida apenas para alguns. O nome de um corpo de leis que é compreensivo e bondoso com uns e duro e inexorável com outros é “supremacismo”, pai do racismo e do sexismo. Trata os iguais como desiguais, e quando vemos um rico e branco que cometeu um crime ser tratado diferente de um negro pobre que cometeu o mesmo delito percebemos como este julgamento é errado.

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Magistratura

Uma das candidatas [ao concurso da Magistratura] aptas a realizar a segunda etapa entrou em trabalho de parto durante o período de aplicação das provas e deu à luz a uma menina na tarde deste domingo (16/07/2023). A candidata Júnea Fábia Cardoso chegou a realizar a prova discursiva no local de aplicação no sábado, no entanto, ao entrar em trabalho de parto durante a madrugada de domingo, notificou a organização do concurso. (…) Júnea deu à luz a filha pouco antes das 14h e iniciou a prova de sentença logo após receber autorização médica e afirmar à comissão executiva do concurso, de forma tácita, que estava apta a iniciar a avaliação. Conforme previsto no edital, ela poderá fazer pausas para amamentar a filha.” (

Ou seja, uma candidata dá à luz seu bebê durante a realização das provas para a Magistratura e acredita ser justo que sua atenção esteja focada no concurso público e não das condições da criança que recém chegou ao mundo, seu bebê, que vai demandar 100% do seu cuidado e atenção. Não estará nossa busca (justa) por equidade – em especial no trabalho – cruzando uma linha perigosa? Não será temerário para a própria humanidade que as mulheres valorizem sua colocação no mercado de trabalho às custas da ancestral (e vital!!) dedicação materna aos recém-nascidos? Se não… o que precisa ocorrer para que essa linha seja cruzada?

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