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Crenças e Descrenças

Bertrand Russell, 1951

Eu sou um crente da descrença. Mas tenho profundo respeito por tudo que porventura exista fora desse pequeno aquário a que chamamos de “realidade palpável”. Assumir sua própria ignorância e respeitá-la nos ajuda a colocar freios na insistente onipotência. Mas, não enxergo nenhum raio de luz nenhuma aura, nenhum Espírito me sussurra. Talvez minha cegueira tenha alguma função, mesmo que eu não entenda. Quiçá seja apenas manter-me atento ao mundo deste lado.

Ter ou não ter “chip para acreditar” não é uma escolha racional, e sequer é uma “escolha”. É como orientação sexual. Não adianta virem me explicar as belezas masculinas; sou um heterossexual incurável. Quanto às crenças digo o mesmo que pensava Bertrand Russell: a ciência mostra o que pode ser visto, mas não é capaz de negar o invisível. Como ele mesmo diz: “A ciência nos diz o que podemos saber, mas o que podemos saber é pouco, e se esquecermos o quanto nós não podemos saber acabamos por nos tornar insensíveis a muitas coisas de grande importância.” (A História da Filosofia Ocidental).

Creio no sentido último do Universo, um princípio geral e impreciso, mas que acalma minhas angústias existenciais. Qualquer coisa abaixo disso não faz muito sentido para mim. Sei que minha crença em um princípio unificador é apenas isso: algo que – estimulado por Pascal – “prefiro acreditar”, mas não acho justo ser acusado de místico, pois essa crença está aquém de qualquer análise da razão. Creio porque assim minha vida e meus sofrimentos parecem ter sentido.

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