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Doulas da Morte

Recebi hoje a ligação de um amigo de mais de 4 décadas que me fez refletir sobre uma questão muito relevante. Gostaria que algumas pessoas pudessem contribuir para estas ideias que me parecem importantes.

Esse amigo perdeu um familiar há poucas semanas vitimada pelo câncer, após uma luta longa e cansativa. Agora volta a se ocupar desta questão com a internação da mãe, também acometida da mesma afecção. Durante os cuidados de hoje com a mãe percebeu que a paciente da cama ao lado era uma jovem mãe em tratamento contra uma neoplasia, e imediatamente lhe veio à mente as inúmeras lembranças do caso de sua irmã que havia há pouco falecido. Ao conversar com essa moça (não tinha mais de 40 anos) percebeu que ela e seu marido estavam passando por fases de adaptação à doença semelhantes àquelas que reconheceu em sua irmã. A empatia com eles foi imediata. Alcançou-lhes alguns livros que dispunha, trouxe palavras de estímulo, abriu espaço para reflexão e ofereceu seu tempo para ajudar, se eles assim o desejassem.

Meu amigo ainda tinha coladas, na parede da memória recente, as imagens das lutas e dilemas pelos quais passou nos últimos anos no enfrentamento da inevitabilidade da morte.

Foi então que se lembrou de mim e resolveu ligar. Disse ele:

“Querido amigo, acompanho sua luta pelo parto humanizado e, em especial, pelo modelo das doulas. Pelo que sei elas são mulheres (grande maioria) que ajudam outras mulheres no processo de passagem, um rito milenar que as transforma de mulheres em mães através da gravidez e do momento mágico do parto. Parece mesmo que o humano, diante das suas passagens inevitáveis, carece do suporte carinhoso a lhe minorar as dores e agruras do processo. Por isso queria lhe perguntar algo que me parece relevante no meu atual estágio de vida”.

Nesse momento eu já intuía o que estava por ouvir, e meu coração já se encontrava em sintonia e concordância com sua iniciativa. Ele continuou:

“Se é verdade o que os estudos nos falam sobre a eficiência das doulas na passagem do parto, por que não seria possível admitir que o mesmo principio fosse positivo se aplicado em outra “passagem”, a morte, o desencarne, a fronteira final? Não seria interessante criar uma “doula para a morte”? Não seria interessante capacitar pessoas comuns que pudessem ser um auxílio NÃO técnico, não psicológico, não médico e nem de enfermagem para dar suporte afetivo, psicológico, espiritual e social àqueles que estão próximos do fim da vida física?”

É claro que a ideia me cativou, e por isso convido os amigos que façam um input de sugestões ou críticas a esta proposta para que possamos saber o que seria possível fazer nesse sentido.

Quem gostaria trabalhar como doula nesta outra ponta da vida?

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