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Entrevista em Portugal

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Acabo de assistir a manifestação de uma obstetra de outro país (sim, uma mulher) sobre a humanização do nascimento em que ela inicia sua fala dizendo que “não existem partos naturais; existem apenas partos eutócicos ou distócicos“. Achei interessante essa frase porque ela revela claramente a forma de traduzir um fenômeno humano sem levar em consideração seus elementos… humanos. Ela basicamente desconsidera o parto na perspectiva de quem o está incorporando, e o classifica por quem o observa e intervém. Nesta concepção não há sujeito no parto, o qual se restringe apenas a um fenômeno que ocorre em uma pessoa sem que esta tenha qualquer interferência sobre ele. Esse é o retrato fiel do modelo médico da atenção ao parto.

Entrevistas como esta são sinalizadores inequívocos dos estertores do velho paradigma. Elas escancaram a desconexão do discurso médico com a cultura dinâmica e mutante. Não há mais como separar as intervenções médicas das expectativas e valores dos pacientes, em especial das mulheres que passaram – e ainda estão passando – por uma profunda transformação em seu papel social. A assimetria de poderes – que ainda é vista por muitos médicos como o elemento central da ação médica – perde espaço para uma atitude que tende à igualdade e à cooperação. Se a confiança no conhecimento e capacidade dos profissionais sempre será essencial, a prepotência e a desconsideração das dimensões humanas e subjetivas do paciente vai perdendo sua força a olhos vistos pelo surgimento de uma cultura que não aceita mais a alienação como forma de relação entre os diferentes atores sociais. Construir uma atenção ao parto sem garantir o protagonismo à mulher como a pedra fundamental da atenção ao nascimento ficará em nossa memória como a lembrança desconfortável de uma época de prepotência que por muito tempo regulou as relações entre os médicos e seus pacientes

Veja aqui a entrevista

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