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Sobre “selinhos” e Pentelhos

Selinhos-Pentelhos

Primeiramente, o “selinho” do jogador Sheik não tem nada a ver com um exercício de liberdade sexual, ou uma demonstração de apoio à causa dos homossexuais. O jogador em questão é tosco demais para ter este tipo de refinamento intelectual e postura ideológica em favor da livre expressão da orientação sexual. Mais ainda: mesmo que fosse homossexual não admitiria publicamente exatamente porque seria refém de uma cultura machista (o futebol) que não admite qualquer desvio da sexualidade “normal”. Outro jogador, do citado clube São Paulo, até tentou romper a fechadura do armário da sua sexualidade, mas foi duramente ameaçado pelo presidente do clube e foi obrigado a voltar atrás. O caso do Sheik foi um golpe publicitário, nada mais. Ele beijou o dono do restaurante do qual ela acabava de virar sócio. “Como podemos chamar a atenção para o nosso negócio?

Ora, simples… todo publicitário sabe como armar um factoide. O jogador e seu sócio fizeram isso exatamente para serem comentados, discutidos, e acabássemos procurando saber quem é o outro personagem e em qual restaurante isso ocorreu. Posteriormente, com a repercussão do caso, as declarações do jogador acabaram desnudando sua óbvia incapacidade defender a causa da igualdade. Ele é tão preconceituoso e limitado quanto todas as outras pessoas que fizeram críticas à sua atitude. Ao fazer piadinhas com o rival São Paulo trouxe seu preconceito à tona. Portanto, o “caso do selinho” deve ser entendido como um “teaser comercial”, uma propaganda em que dois atores contracenam para vender um produto. Nada tem a ver com a postura de ambos quanto à temática da homossexualidade.

Os pentelhos de Nanda Costa são um outro assunto. É claro, pelo menos para mim, que ela fez aquilo de propósito, ou pelo menos com o óbvio interesse em gerar comentários. Posso acreditar até que depilou-se – de forma mais vigorosa – imediatamente após a sessão de fotos. Também podia ela estar atuando (ou não), mas isso pouco importa. O que eu acho digno de debater (porque a questão “higiene e saúde” é tão ridícula que eu me nego a abordar) é o olhar censurador da sociedade sobre a volúpia capilar genital das mulheres e as razões pelas quais entendemos os pelos revoltos como formas ameaçadoras.

Há algo no olhar contemporâneo que criminaliza os enfeites pubianos, a ponto de aceitarmos apenas aqueles milimetricamente recortados e “aparados”. Parece a nós que eles precisam ser delimitados e “controlados”. Uma vulva despudoradamente “cabeluda” parece fora de controle, selvagem, indômita. Cortar pentelhos é uma ação cerceadora, limitadora.

O medo que a sociedade patriarcal tem do desvario sexual feminino faz com que seja necessário manter esta força sob estrito controle. Nossa censura explícita aos pelos pubianos livres parece mesmo a expressão de um desejo de apoderamento sobre a sexualidade feminina. “Tirar o pelo pubiano de uma mulher é tirar sua força, já dizia Freud, em 1932.” Como de costume o velhinho se mantém atual.

Não é a toa que fazem isso, ou “pelo menos” – trocadilho proposital – faziam, em todas as mulheres grávidas que adentram o espaço de um centro obstétrico. Tal qual contrapontos femininos do herói Sansão, raspam-se as forças femininas retirando delas o que resta de poder. Assim é que se expressa o patriarcado falocrata; pelos (de novo) detalhes.

Pelos pubianos são cortados para que assim, curtinhos e comportados, não ameacem a ordem vigente.

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