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A Nova Política das Redes

As grosserias dos parlamentares da extrema direita precisam ser entendidas diante do fenômeno das redes sociais, as quais mudaram a forma de fazer política nos últimos 10 anos. Os novos parlamentares que surgiram no cenário nacional, em sua maioria, não foram forjados nos partidos políticos, nos diretórios acadêmicos, nos órgãos de classe e muito menos nos sindicatos e centrais trabalhistas. Da mesma forma como os políticos de décadas passadas surgiram da exposição no rádio e na televisão, estes de agora são fruto da explosão midiática do YouTube, Instagram, Tiktok e Twitter. Desta forma, eles não são políticos na acepção tradicional da palavra; são youtubers, “influencers” e lacradores profissionais surgidos da possibilidade que as redes sociais criaram de oferecer exposição e notoriedade instantânea

O ethos que orienta estes novos personagens da cena política é diferente daquele que se exigia tradicionalmente na política. Ao contrário dos políticos de formação, estes novatos estão no parlamento para fazer tretas, espetáculos e até arruaças; são especialistas em selfies, provocações e postagens escandalosas e disseminam suas informações como um espetáculo onde a verdade e a correção são meros detalhes – quando não claros entraves. O meio é muito mais relevante que a veracidade das informações. Não se importam de que sua exposição acabou gerando desinformação. O importante é ser visto, comentado, criar engajamento, ter sua imagem disseminada por milhares, quiçá milhões de seguidores.

Este grupo de novos representantes não está no parlamento para apresentar propostas, conduzir composições, propor acertos e estabelecer debates, nem mesmo para fazer oposição baseada em suas distintas perspectivas políticas. Sua intenção é outra, e pouco tem a ver com os partidos – meras fantasias que usam e jogam fora quando não mais lhes servem. Sua ação é gerar a exaltação de personalidades.

Espero que as pessoas com o tempo percebam que esta é uma ação contrária à política. Afinal, o personalismo é o oposto da ação política, na medida em que esta última se preocupa com a representatividade, onde um sujeito defende os anseios de um grande contingente de cidadãos. Para o pensador estagirita Aristóteles (384 – 322 a.C.) o homem é um sujeito social que, por sua própria natureza, necessita estar conectado a uma coletividade. Somos todos gregários, comunitários e solidários. Somos também seres políticos, capazes de trabalhar para além da nossa sobrevivência e do nosso grupo familiar, desejando o melhor para as ruas, cidades e nações. Minha esperança é que, com o tempo, as pessoas cansem desse tipo de personagem e os devolvam ao esquecimento. A política que eles propõem é a do circo, da galhofa, dos “likes“, mas a ação política pede mais que isso, pois ela é a mais elaborada ação humana, cuja essência é a fraternidade e o bem comum.

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O Experimento

Apesar dos inúmeros convites eu nunca entrei no Twitter. Também nunca frequentei Instagram e sempre escrevi apenas no Facebook. Se há uma coisa para mim espantosa é a violência e a ferocidade que o anonimato – e/ou a distância física – confere ao cidadão comum. O Twitter, segundo me dizem, é “terra de ninguém” onde a difamação e a calúnia são os idiomas oficiais, e o Instagram é a vaidade na potência infinita. Enquanto isso, a brutalidade inédita – em sua abrangência – das agressões nas redes sociais faz lembrar um pouco o experimento em Yale de Stanley Milgram com os choques elétricos. Mas lembra também Star Wars, onde a Estrela da Morte destrói o planeta Alderan inteiro com a leve pressão do dedo de um comandante.

Parece que, se o seu “inimigo” – por ser de outro partido, outra ideologia, outra religião, outra orientação sexual, outra opinião, outra perspectiva de mundo, etc – estiver distante o suficiente você pode apertar repetidas vezes o botão da ofensa e da violência que isso não será sentido. A distância e a invisibilidade alheia confirmam a noção de “quem não vê cara, não verá o coração destroçado”.

Já fui vítima de agressões de pessoas (até então) amigas pelo crime de pensar diferente e de expressar publicamente opiniões controversas, mas por certo que já estive na outra ponta do espectro ao escrever críticas duras sem levar em consideração o impacto que poderia causar nas pessoas atingidas. Isso me fez repensar os limites de nossa atuação e ação públicas. Por certo que verdades inconvenientes precisarão sempre da nossa voz (e nossa escrita), mas as críticas direcionadas às pessoas precisam um cuidado muito maior do que este que agora temos.

A violência virtual cresceu de forma exponencial nos últimos anos. A ruptura de antigas amizades e as ofensas desmedidas igualmente, talvez porque ainda não percebemos o quanto de nós mesmos aparece em cada palavra destrutiva que escrevemos. Mas também é possível que o prazer de ver alguém sofrer com o simples toque em uma tecla – como no experimento Milgram – nunca tenha sido avaliado em sua amplitude.

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