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Antibiose

Desde a revolução pasteuriana do final do século XIX que somos fixados na “antibiose”, ou seja, na ideia de que bactérias, vírus, protozoários, fungos, chlamydias, etc. são nossos “inimigos mortais” e que, para assegurarmos nosso lugar no planeta, é necessário destruí-los, aniquilá-los, esterilizando tudo ao redor pois assim – limpos e desinfetados – estaremos mais seguros.

Durante anos este foi o “paradigm drift” que nos falava Thomas Kuhn. Uma ideia tão poderosa, e tão perfeita, que assumia merecidamente a posição de paradigma hegemônico, reinando por sobre as outras formas de encarar a realidade científica. Tão poderosa essa ideia que acabou impondo tentáculos por toda a sociedade, desde as concepções de saúde e doença, higiene, limpeza, segurança biológica e terapêutica, impulsionando a nascente indústria farmacêutica para a criação de antibióticos após a segunda guerra mundial.

Entretanto, como previa o mestre Kuhn, qualquer paradigma fatalmente encontra sua crise, e não seria diferente com a antibiose. Após um reinado de um século, desde as experimentações iniciais de Koch e Pasteur, a ideia dos “micróbios inimigos” começa a mostrar suas fragilidades. A ação – devastadora em muitos casos – sobre a flora bacteriana normal do corpo humano passou a ser investigada e pesquisada. O efeito imunossupressor dos antibióticos mostrou uma imagem um pouco diferente dos “salvadores” de outrora. O resistência bacteriana causada, em especial, pelo abuso de antibióticos e pela assepsia dos hospitais nos coloca diante de “super bugs” – bactérias resistentes a tudo, o terror das UTIs. A ação antibacteriana desses quimioterápico agora mostra seu preço, e o mundo inteiro fica em alerta.

Ao mesmo tempo, nos últimos anos, cresce a consciência de que a humanidade não deixa de ser uma parte da natureza e não a culminância dos esforços divinos pela perfeição, como arrogantemente nos comportamos. Darwin deixou claro que somos parte do todo biológico da Terra e temos o mesmo direito à vida quanto qualquer outra espécie – incluindo aí as minúsculas bactérias e vírus. Apenas um especifismo místico pode nos considerar “superiores” e mais merecedores de bênçãos do que o resto dos seres vivos com os quais convivemos.

Novas pesquisas ainda vão mais longe. Temos uma quantidade gigantesca de bactérias que coabitam nosso espaço corporal, de mesma massa que as próprias células do nosso corpo. Somos, em verdade, um “condomínio de vidas”, em que nosso lugar é de zeladoria, resguardando, nutrindo e sendo nutridos por estes micróbios que nos acompanham. No parto, como pode ser visto no documentário “Microbirth”, a boa qualidade das bactérias(!!!) a nos contaminar (enterobactérias maternas) imediatamente após o nascimento será fundamental para nossa vida e nossa saúde.

Segundo a visão da medicina darwinista, chegou a hora de encarar nossa relação com os outros seres de forma mais razoável e respeitosa. A era da “antibiose” encontra seu ocaso, enquanto surge o alvorecer da “probiose” que, ao contrário de se contrapor aos outros seres vivos da Terra – aqui incluídas tanto as baleias jubarte quanto as bactérias minúsculas do nosso sistema intestinal – propõe um respeito ao direito de que todos têm de conviver com harmonia em Gaia.

Evidentemente que não se trata de jogar os antibióticos no lixo e condenar infectados à morte, mas questionar até onde este modelo pode nos levar. Estamos diante de um “paradigm shift” pela evidente falência do modelo anterior de solucionar os problemas em grande escala.

A crise do Corona vírus talvez traga em seu bojo algumas lições muito importantes. O respeito à todas as formas de vida talvez seja uma delas, e a própria crise talvez seja um sintoma claro da reiterada agressão que nosso planeta vem sofrendo de todas as formas.

Sejamos conscientes da nossa responsabilidade nesse episódio global.

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Icterícia

ictericia

Vejam bem, existe uma abordagem da icterícia neonatorum (o amarelão dos bebês ao nascer) por parte da “medicina evolucionista” que é muito criativa. Por volta de 70% dos recém nascidos nasce com algum nível de icterícia. Isso sempre foi interpretado como uma incompetência hepática do recém nascido que se resolve com luz ou apenas aguardar o tempo. Uma versão grave – e extremamente rara – desse transtorno passageiro é o “kernicterus“, um aumento muito grande com impregnação cerebral de bilirrubina. Em 30 anos atendendo partos nunca vi um caso assim.

Mas a novidade da interpretação darwinista é que talvez o aumento de bilirrubina seja benéfico e faz parte da adaptação do organismo à hiperoxigenação que ocorre depois do parto.

Os fetos vivem em um ambiente pobre em oxigênio. Não é à toa que nascem azulados, arroxeados; essa é sua cor natural no útero. No momento do nascimento e com o surgimento abrupto da respiração pulmonar o corpo do bebê é inundado com altas quantidades de oxigênio. O corpo todo se “oxida”, o que pode causar problemas, em especial para os receptores cerebrais. Para contrabalançar essa entrada abrupta de O2 no corpo o organismo lança mão de um potente antioxidante. Qual?

Isso mesmo, a bilirrubina. Ela se combina com o oxigênio absorvido e freia seus efeitos. Portanto, ao invés de entender como um “erro metabólico passageiro potencialmente perigoso” talvez seja mais útil olhar para a icterícia causada pela concentração de bilirrubina como um evento ADAPTATIVO milenarmente construído pelo nosso corpo para se adaptar ao ambiente aerado.

“O mundo não se descortina diferente procurando novas paisagens, mas construindo novos olhares”. (Marcel Proust)

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