Muito se tem falado sobre a forma impessoal como os atendimentos ocorrem nos dias de hoje, além da frieza e descomprometimento dos médicos em relação ao trabalho junto aos pacientes. Uma forma de melhorar essa forma insípida de atenção é chegar mais próximo dos clientes e poder enxergá-los em seus próprios domínios para apreender toda a gama de informações que se pode absorver de suas histórias.
O atendimento domiciliar oferece esse mergulho do profissional na vida de relação do paciente. A assistência ao seu sofrimento (ou à sua “passagem” no caso dos partos) é “in vivo” ao contrário da atenção nas clínicas e consultórios, que é artificializada e descontextualizada. Isto é: ” in vitro”.
A industrialização e massificação da atenção à saúde leva a uma crescente insatisfação dos consumidores, que pode ser notada em alguns bolsões de pensamento, em especial da classe média. As queixas se unificam em torno da impessoalidade e coisificação do paciente, que passou a ser tratado muito mais por máquinas e equipamentos do que por pessoas. O positivismo obliterante dos protocolos e a incapacidade de enxergar a doença como caminho, negando-se a ela qualquer propósito, nos afastam das dimensões verdadeiramente curativas da medicina.
A medicina se faz com vínculo. No dizer do psicanalista húngaro Ballint “o melhor remédio que um médico pode oferecer é ele mesmo“. Todo modelo, por mais eficiente que possa parecer, que nos afasta da dimensão única e subjetiva dos pacientes será um entrave às mais nobres propostas da arte de curar.