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Racismo e o tapa

Se Will Smith fosse branco, o mundo estaria dizendo “Mas pra que isso? Ele já pediu desculpas! O que mais vocês querem?”

Não. Se ele fosse branco teria sido preso NA HORA. Como é negro conseguiu ficar lá e ainda receber um premio. Pior ainda: teve o direito de fazer o discurso mais ridículo e psicótico da história do Oscar. Fez isso, mas se fosse branco jamais conseguiria. Sabe por quê? Porque se Will Smith fosse preso na hora pela brutal agressão machista que encenou na frente de milhões de pessoas isso seria considerado “racismo”. Fosse ele branco, que desculpa haveria para não prendê-lo? Consegue perceber onde a blindagem nos leva?

Quer um exemplo? Kevin Spacey, um branco azedo e gay… passou as mãos nas coxas de um garoto há 20 anos. Ao ser descoberto – na esteira do MeToo – foi imediatamente cancelado, engavetado, exposto. Seu show de sucesso foi terminado. Carreira encerrada (há rumores que pode voltar). Como podemos justificar estas sanções sendo ele …. branco? Cara…. quando um negro esmurra outro negro e a gente debate racismo isso significa que qualquer fato (escolham e eu provo) pode nos levar a debater que a causa primeira foi o racismo, ou o machismo, a transfobia ou preconceito contra gays. Chama-se “visão em túnel”, ou perspectiva unívoca, que sempre oblitera a nossa razão.

Se Will Smith fosse branco não seria protegido como foi. Seria algemado “on stage”!! E chamar a reação absurda, violenta, irracional que o Will Smith teve de “desproporcional” é como chamar a guerra do Vietnã como “uma ação desproporcional do exército imperialista”. Não, foi um massacre brutal e racista.

Foi crime o que Will Smith fez, e foi covardia, brutalidade e machismo. Todavia, nada do que se viu durante o ataque e depois disso pode ser chamado de racismo. Pelo contrário; como eu afirmo, sua cor o protegeu. Eu insisto: a cor salvou Will Smith de uma prisão em flagrante. Pela mesma razão, quando uma mulher comete um furto em uma loja seu gênero a protege de receber o tratamento que é dispensado aos moleques do sexo masculino que são pegos furtando. Pipocos e cascudos…

E veja… ninguém discute a existência perversa do racismo na sociedade americana e na brasileira – com suas variantes (nos estados Unidos os não brancos são 12% e aqui mais do que a metade do país). Entretanto, o racismo não pode ser uma redoma de proteção para qualquer ação criminosa na sociedade. O mesmo se pode dizer do machismo, porque a sociedade é muito mais complexa do que estas simplificações. A existência dessas chagas sociais não pode ser o escudo que protege as ações desses personagens.

Como eu sempre digo, existe um racismo que perpassa a cultura e determina nossas ações, e isso é fato. Por outro lado, existem as ações pessoais que devem ser analisadas nesta perspectiva.

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Nervos de Aço

De todas as coisas bizarras que eu li nas mídias sociais do Brasil – intensamente diferentes do que percebi nos Estados Unidos – esta aqui está entre as mais incríveis:

“Não sou um especialista em Direito Penal americano, mas o tapa de Will Smith em Chris Rock me parece absolutamente lícito dentro do sistema jurídico brasileiro. Se ele seguisse golpeando, aí seria difícil defendê-lo, mas ele nem amassou o terno. Voltou pro seu lugar depois de dar o seu recado e se recompôs. Pode procurar em qualquer livro de Direito Penal como um exemplo clássico do que seria uma verdadeira legítima defesa da honra.”

Não sei se o sujeito que escreveu esse texto (do qual retirei apenas esta parte final) é advogado – parece que é – mas é inacreditável que, para passar pano para uma agressão absurda e injustificável por causa de uma piada, as pessoas não tem sequer a vergonha de apelar para a famigerada “legítima defesa da honra”.

Curiosamente, essa interpretação (que tantos feminicídios manteve impunes no passado) só valeria para a honra de uma mulher que ficou careca, mas não para um homem feio, barrigudo, calvo ou velho sobre os quais se faz chacota desde quando os sumérios entraram em guerra em Lagash há dois milênios e meio, e muito menos para o pobre coitado que, movido por forte emoção, tomou a justiça nas mãos ao encontrar sua amada “nos braços de um outro qualquer”, como diria Lupicínio Rodrigues. Não, nesse caso a “defesa da honra” não vale – é preciso ter nervos de aço – mas continua podendo ser usada para pessoas milionárias e glamorosas que tiveram o infortúnio de perder boa parte do cabelo.

É impressionante o malabarismo para tentar justificar a estupidez, a grosseria e o machismo anacrônico do senhor Will Smith…

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