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Humor e crítica social

Quem quiser se divertir vendo a repercussão do tapa de Will Smith entre os comediantes americanos aqui está uma amostra. O que chama a atenção é que eles “dobraram a aposta”. Se o Will Smith desejava proteger sua esposa das piadas “maldosas” dos comediantes sua atitude foi a mais estúpida da história do xô-biz.

Para mim, a forma como a comunidade dos comediantes reagiu é mais importante e significativa do que debater a própria agressão. Quem apostou que uma agressão poderia fazer o humor ficar constrangido, comportado, domesticado e menos “ácido” perdeu, brother. Essa amostra abaixo é o que virá para as próximas décadas, e aqui estão as piadas mais politicamente incorretas possíveis. Não veja se isso o incomoda…

O humor vai vencer porque ele é uma expressão de liberdade. Quem vai perder desta vez é a “comunidade woke”, que já está fazendo hora extra na cultura desse planeta.

PS: Melhor comentário: no próximo Oscar todos os participantes deverão mandar uma lista de suas condições médicas atuais assinada pelo médico assim como uma relação de piadas que aprovam para serem contadas sobre si mesmos. Tudo isso para evitar ferir as almas sensíveis de milionários e demais canalhas presentes

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Racismo e o tapa

Se Will Smith fosse branco, o mundo estaria dizendo “Mas pra que isso? Ele já pediu desculpas! O que mais vocês querem?”

Não. Se ele fosse branco teria sido preso NA HORA. Como é negro conseguiu ficar lá e ainda receber um premio. Pior ainda: teve o direito de fazer o discurso mais ridículo e psicótico da história do Oscar. Fez isso, mas se fosse branco jamais conseguiria. Sabe por quê? Porque se Will Smith fosse preso na hora pela brutal agressão machista que encenou na frente de milhões de pessoas isso seria considerado “racismo”. Fosse ele branco, que desculpa haveria para não prendê-lo? Consegue perceber onde a blindagem nos leva?

Quer um exemplo? Kevin Spacey, um branco azedo e gay… passou as mãos nas coxas de um garoto há 20 anos. Ao ser descoberto – na esteira do MeToo – foi imediatamente cancelado, engavetado, exposto. Seu show de sucesso foi terminado. Carreira encerrada (há rumores que pode voltar). Como podemos justificar estas sanções sendo ele …. branco? Cara…. quando um negro esmurra outro negro e a gente debate racismo isso significa que qualquer fato (escolham e eu provo) pode nos levar a debater que a causa primeira foi o racismo, ou o machismo, a transfobia ou preconceito contra gays. Chama-se “visão em túnel”, ou perspectiva unívoca, que sempre oblitera a nossa razão.

Se Will Smith fosse branco não seria protegido como foi. Seria algemado “on stage”!! E chamar a reação absurda, violenta, irracional que o Will Smith teve de “desproporcional” é como chamar a guerra do Vietnã como “uma ação desproporcional do exército imperialista”. Não, foi um massacre brutal e racista.

Foi crime o que Will Smith fez, e foi covardia, brutalidade e machismo. Todavia, nada do que se viu durante o ataque e depois disso pode ser chamado de racismo. Pelo contrário; como eu afirmo, sua cor o protegeu. Eu insisto: a cor salvou Will Smith de uma prisão em flagrante. Pela mesma razão, quando uma mulher comete um furto em uma loja seu gênero a protege de receber o tratamento que é dispensado aos moleques do sexo masculino que são pegos furtando. Pipocos e cascudos…

E veja… ninguém discute a existência perversa do racismo na sociedade americana e na brasileira – com suas variantes (nos estados Unidos os não brancos são 12% e aqui mais do que a metade do país). Entretanto, o racismo não pode ser uma redoma de proteção para qualquer ação criminosa na sociedade. O mesmo se pode dizer do machismo, porque a sociedade é muito mais complexa do que estas simplificações. A existência dessas chagas sociais não pode ser o escudo que protege as ações desses personagens.

Como eu sempre digo, existe um racismo que perpassa a cultura e determina nossas ações, e isso é fato. Por outro lado, existem as ações pessoais que devem ser analisadas nesta perspectiva.

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Defecando em público

Sabe o que sempre me incomoda?

Quando na cerimônia de formatura o orador é chamado para falar em nome dos formandos, pega o microfone, faz os agradecimentos de praxe às autoridades, e depois larga essa: “Em primeiro lugar quero agradecer à minha família, meu esposo Roberto, minha mãe, meu pai, meu amigos….”

Cara!!! Como você pode usar sua posição de representante da turma para fazer agradecimentos pessoais? Como você abusa desse lugar para exaltar a sua trajetória pessoal? Quando você é escolhido para fazer o discurso está levando a palavra, anseios e sentimentos de toda a sua turma e não pode falar em nome próprio. Fazer homenagens particulares é uma falta de bom senso e falta de noção de qual sua real posição.

Por isso me incomoda também quando você estraga uma festa de milhões de pessoas para fazer uma demonstração anacrônica e estúpida de machismo, apenas para dar conta das suas inseguranças de macho. A festa não era dele!! Se houvesse realmente algo a ser defendido, que fosse feito depois da festa, no camarim ou na rua, e não estragando a festa de todos.

O problema é que estas figuras milionárias de Hollywood vivem numa bolha, ou em Asgard, onde circulam em limusines, tem empregados de todas as cores, são tratados como divindades e perdem o contato com o mundo real. Nesse mundo, todos tem a obrigação de saber dos problemas de cabelo de uma das celebridades da corte, e precisam acreditar que alopecia é algo mais grave ainda do que morte, miséria, a guerra em curso, fome, câncer ou qualquer desgraça…. afinal, acometeu uma Deusa.

Por isso é que Will Smith agiu como se estivesse na sua casa e na sua festa, e os milhões de espectadores que se virem com isso. Sua urgência em defender(-se) (d)a mulher diante de uma piada inocente parecia a ele mais importante do que todos os convidados da festa e os milhões que estavam assistindo em casa. Sua negativa em retirar-se quando convidado pelos organizadores tem a mesma marca: “Fui enviado por Deus“, disse ele. Pela sua visão, só o criador teria essa prerrogativa.

Estes fatos patéticos fazem lembrar os reis que chamavam seus servos quando queriam defecar, e depois o faziam na frente de todos. Afinal, sendo ele o Rei, é dever de todos se adaptarem às suas necessidades, seus maneirismos e vontades, e não o contrário.

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Desculpas

Eu acho lamentável Chris Rock se desculpar pela piada contada no Oscar, mas acho que ele na verdade está cagando para isso. Um comediante não age dessa maneira. Isso é uma traição ao seu ofício. Essa declaração dada no dia seguinte à premiação é pró-forma, para evitar o brutal cancelamento que pode se seguir. Foi provavelmente escrita pelo advogado dele com o conselho: “faça isso para não se incomodar, olha só o que fizeram com o Dave Chapelle”. A sociedade americana é doente, mas vejo essa doença identitária e moralista migrando para cá. O Chris Rock, do ponto de vista da lei, não cometeu nenhum crime. Não há nenhuma proibição de contar piadas (thanks God!!) nem que ela fosse ofensiva. Nos Estados Unidos (e confesso admirar este detalhe da cultura americana) não há crime nem mesmo se você de mandar um policial à merda. Free speech, a primeira emenda, é para eles algo de caráter sagrado. Já no Brasil autoritário você pode dizer apenas o que os outros deixam você dizer, sejam eles o Estado ou sejam os flocos de neve.

Todavia, esse autoritarismo que controla o discurso para proteger minorias, apesar de entranhado em nossa cultura, tem efeito ZERO no combate que se propõe, basta ver os feminicídios e crimes contra gays, trans e contra a população negra que ocorrem diuturnamente no nosso país. Racismo, sexismo, machismo são elementos da cultura e não podem ser controlados pela justiça ou pelas leis. Continuamos achando que atacar a liberdade de expressão, cerceando a livre manifestação, poderia trazer benefícios para a sociedade. Nossa experiência mostra que isso é um absurdo, um erro, até porque, para cada Chris Rock brazuca maledicente que botamos na cadeia por dizer “o que não devia” (para o delírio dos identitários) carregamos mais 50 ou 100 pobres e negros que falaram de forma ríspida com um policial, uma autoridade, ou foram mortos pela nossa polícia racista e classista defensora do patrimônio.

Torcer pelo proibicionismo, pela censura e na defesa dos “sentimentos feridos” é um tiro no pé, um remédio que mata o sujeito antes de atingir a lombriga.

PS: Foi descoberto algumas horas depois que eu escrevi este texto que o pedido de desculpas do Chris Rock era FALSO. “Faith in humanity restored!!!” Um comediante JAMAIS deveria pedir desculpas por uma piada – desde que seja uma piada mesmo (como foi nesse caso) e não uma desculpa para agredir.

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Nervos de Aço

De todas as coisas bizarras que eu li nas mídias sociais do Brasil – intensamente diferentes do que percebi nos Estados Unidos – esta aqui está entre as mais incríveis:

“Não sou um especialista em Direito Penal americano, mas o tapa de Will Smith em Chris Rock me parece absolutamente lícito dentro do sistema jurídico brasileiro. Se ele seguisse golpeando, aí seria difícil defendê-lo, mas ele nem amassou o terno. Voltou pro seu lugar depois de dar o seu recado e se recompôs. Pode procurar em qualquer livro de Direito Penal como um exemplo clássico do que seria uma verdadeira legítima defesa da honra.”

Não sei se o sujeito que escreveu esse texto (do qual retirei apenas esta parte final) é advogado – parece que é – mas é inacreditável que, para passar pano para uma agressão absurda e injustificável por causa de uma piada, as pessoas não tem sequer a vergonha de apelar para a famigerada “legítima defesa da honra”.

Curiosamente, essa interpretação (que tantos feminicídios manteve impunes no passado) só valeria para a honra de uma mulher que ficou careca, mas não para um homem feio, barrigudo, calvo ou velho sobre os quais se faz chacota desde quando os sumérios entraram em guerra em Lagash há dois milênios e meio, e muito menos para o pobre coitado que, movido por forte emoção, tomou a justiça nas mãos ao encontrar sua amada “nos braços de um outro qualquer”, como diria Lupicínio Rodrigues. Não, nesse caso a “defesa da honra” não vale – é preciso ter nervos de aço – mas continua podendo ser usada para pessoas milionárias e glamorosas que tiveram o infortúnio de perder boa parte do cabelo.

É impressionante o malabarismo para tentar justificar a estupidez, a grosseria e o machismo anacrônico do senhor Will Smith…

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O tapa na cara do Oscar

Eu sou um defensor ferrenho da liberdade de expressão. Mais do que isso; sou a favor do direito de ofender. Nenhuma sociedade consegue prosperar sem atritos e contraditórios e, apesar de eu não gostar de ofensas, acredito que as pessoas devem ter o direito assegurado de usá-las, pois sua proibição causa um problema muito mais grave do que suportar a carga de ser ofendido. Proibir a ofensa é censura, é ferrar o contraditório. Além disso, aqueles que acham isso inadequado são os que mais ofendem as figuras no campo oposto às suas crenças políticas.

Dito isso, deixo claro que não achei a piada contada pelo Chris Rock no Oscar como sendo ofensiva. A piada contada compara Jada Smith com outra personagem que tinha o cabelo muito curto. Não vejo como isso pode ser inadequado se for dito por um comediante. Creio que a atitude do Will Smith foi uma imensa tolice, um brutal desrespeito com a audiência, uma falta de compostura e todo o espetáculo por ele protagonizado deveria ser reprovado em todas as dimensões.

Will Smith protagonizou um “surto de machão” ofendido que precisava defender a honra da sua donzela. Estas cenas sempre tem um subtexto: vou defender a minha mulher porque ela é incompetente para fazer isso por si mesma, como a gente faria com uma criança que está sob nossos cuidados. Sua frase “Tire o nome da MINHA mulher da sua boca suja” deixa claro que ele está defendendo sua posse. A piada claramente se refere ao cabelo curto dela,e não carrega nenhuma ofensa à honra. Sim, pode haver uma rixa antiga entre estes atores, mas isso não pode justificar que uma diferença pessoal atrapalhe a festa que é de muitas pessoas. O ator de “The Fresh Prince Of Bel-Air” é um imenso babaca. Comparem isso com as piadas do Rick Gervais no Golden Globe – muito mais agressivas – e percebam a diferença no comportamento dos atores que foram atingidos por elas. Will Smith se comportou como um garoto de não mais de 14 anos.

Imaginem se a moda pega e as pessoas resolverem atacar os humoristas com socos por que não gostaram ou não aceitam as piadas, ou porque não aceitam que se façam piadas com questões físicas. O Oscar e o Golden Globe sempre tiveram esse “roasting” como uma de suas principais características. Por que esse ator se acha no direito de estragar uma festa em nome de seus sentimentos feridos de “machinho furioso”?

Um fato subsequente à agressão e que me impressionou foi que a imensa maioria dos americanos nos sites que apareceram logo depois do tapa condenaram a atitude do Will Smith. Na minha perspectiva isso ocorre basicamente pela forte cultura do free speech nos Estados Unidos, que lá funciona como uma espécie de “lei sagrada do mundo livre”. Lá você pode mandar um guarda de trânsito à merda, de forma impune, porque as ofensas verbais são protegidas pela liberdade de expressão. Aposto como no Brasil, pela nossa cultura machista (que exalta demonstrações chauvinistas) e pela nossa longa história de autoritarismo, a reação seria oposta. Aliás, é o que se vê nas redes sociais daqui. Milhões de brasileiros diriam que está correto e justo dar um tapa em alguém que disse uma piada sobre sua esposa – mesmo sem ser ofensiva à honra. Há alguns anos eu critiquei a cuspida estúpida que o Jean Wyllys deu em Bolsonaro no parlamento, mas sempre soube que, mesmo no universo das esquerdas, minha opinião era francamente minoritária. Para a maioria é justo cuspir ou dar um tapa para resolver situações em um “parlamento” – um lugar criado exatamente para resolver as questões na palavra, evitando as violências físicas e morais.

Eu acho que um artista tem a obrigação de manter a compostura, e a ação destemperada e infantil de Will Smith foi absurda. Agredir um comediante é uma grosseria que nem os Reis mais despóticos fariam com seus menestréis – contratados exatamente para isso, humanizar a figura do Rei. Artistas precisam suportar essa carga exatamente por serem pessoas públicas. Por outro lado, o tapa expôs seu descontrole e sua falta de postura. Em situações como essa, “Noblesse oblige”, diria meu pai. Um ator precisa saber que um Oscar não é um boteco onde diferenças pessoais podem ser tratadas publicamente na frente de 1 bilhão de espectadores. Para mim foi uma imensa chinelagem. Um comediante tem a delegação cultural de fazer troça de todo mundo – de tudo e de todos. É sua obrigação, é o seu papel social, e criar guetos ou espaços de blindagem para grupos ou condições é desumano e cruel com estes próprios grupos, pois assevera sua fragilidade e incompetência. Ficar irritadinho é absurdo e careta, um machismo anacrônico e tolo. Infelizmente eu acredito que aqui no Brasil ele seria aplaudido – até pela esquerda – pois a maioria das pessoas acha essa atitude bonita, nobre e romântica. Aqui no Brasil, a coisa é diferente. Agora mesmo vi o post dizendo que “é inaceitável fazer piadas com aquela mulher, visto que ela tinha um problema de alopecia”.

Vou deixar bem clara minha posição: a blindagem aos grupos ditos “oprimidos” – mulheres, gays, trans, negros, imigrantes, etc – apesar de expressar o cuidado com o outro e ser uma ação motivada pela bondade e pela proteção, mantém esses grupos numa condição socialmente inferior. É como as atitudes com deficientes físicos, que apesar de servirem para ajudar desrespeitam sua condição de independência e autonomia. Pergunte a um cego como ele se sente quando alguém tenta fazer por ele algo que ele consegue fazer sozinho!! Se um homem se levanta para defender uma mulher numa condição como esta – onde não havia uma ameaça física em que a testosterona fizesse a diferença – a defesa é abusiva e coloca a mulher numa condição subalterna. “Vou lhe defender porque você é incapaz de fazer isso”. É exatamente assim que agimos com as crianças, e por isso elas tanto se esforçam para sair desta condição.

Este Oscar evidenciou o drama desta geração: os flocos de neve que não aceitam ser ofendidos. Pois eu pergunto: quantos comediantes aceitam piadas com a sua altura (Kevin Hart), sua careca (Jason Alexander, The Rock), sua feiura (Marty Feldman, Zezé Macedo), sua aparência (Chris Farley), seu peso (Melissa MacCarthy, Amy Schummer, Claudia Jimenez) sem terem este tipo de resposta? E vejam, a piada em nada atinge a honra da “mãe” (sim, ela funciona como sua mãe e não como esposa) do Will Smith, apenas brinca com seu cabelo raspado, comparando-a com uma atriz maravilhosa – Demi Moore – que encenou um filme de ação de sucesso. Aceitar que existe justificativa para dar socos porque não gostou de uma piada é pura barbárie. Mais grave ainda foi o que a comediante americana Kathy Griffin comentou algumas horas depois do fato “agora todos temos que nos preocupar com quem quer ser o próximo Will Smith em clubes de comédia e cinemas”. Agora qualquer um pode se achar no direito de distribuir socos em comediantes por se sentir incapaz de suportar uma piada.

Entretanto, achei muito significativa a resposta nas redes sociais americanas. Mais de 90% (minha análise superficial) foi de condenação à sua atitude. Pior, mais do que se comportar como um garoto imaturo e barraqueiro ele estragou a festa do cinema americano e eclipsou o sucesso dos outros vencedores. Meu único medo é que, por alguma razão de natureza econômica, financeira, contratual ou pura tolice, Chris Rock decida se desculpar pela piada. Se isso ocorrer é porque ele não tem fibra alguma, mas eu duvido muito que um genuíno comediante americano, com uma gigantesca tradição de ruptura de barreiras culturais, jogue sua reputação e sua carreira no lixo agindo dessa forma.

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