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Próteses

O “Bebê Reborn” não é exatamente uma novidade; é a mesma crise com feições diferentes. Agora podemos criar bonecos que imitam de forma impressionante os bebês, em especial os recém-nascidos, mas antes disso vieram os comportamentos sociais compensatórios, os bichinhos domésticos e, entre eles, os indispensáveis gatinhos. Tudo isso para suprir uma pulsão extremamente forte que, na sociedade hedonista ocidental, sofre profunda repressão: a maternagem.

Quanto mais os cuidados dispensados aos filhos forem escasseando, por escolhas pessoais que não nos cabem julgar ou dificuldades específicas, mais prevalentes serão os derivativos culturais, seja com profissões que se esmeram no cuidado com os pequenos, com a adoção de animais de estimação ou mesmo usando próteses bem construídas para dar conta desse sentimento represado. Spielberg falou disso em “AI”, lembram?

Portanto, não se trata de debater se essa tendência é algo “certo ou errado”, mas de entender as raízes do fenômeno, suas razões profundas e inconscientes. Sim, existe comércio, exploração, moda, exibicionismo e sofrimento real, tudo junto e misturado, mas por baixo destas camadas existe um fenômeno social importante e que deveria ser estudado com mais rigor. Há um planejamento na estruturação da nossa espécie que não pode ser desprezado sem que sintomas apareçam à superfície. É fundamental que esse debate seja expandido e que as pessoas possam compreender a força impressionante dessas pulsões na estruturação dos sujeitos.

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O Oportunismo dos Sionistas

Que curioso!!! Exatamente quando Israel promove um holocausto palestino, matando mais crianças mulheres por dia do que o próprio Adolf em seus dias de “glória”, surge uma série para glorificar os judeus mortos nos campos de concentração há quase um século atrás. A série, chamada “O Tatuador de Auschwitz”, foi realizada por Tali Shalom-Ezer e tem produção executiva de Claire Mundell. Não há dúvida que a estreia internacional vai coincidir com o maior desastre de relações públicas já ocorrido nos mais de 80 anos de vida de Israel. Universidades pelo mundo inteiro estão sendo ocupadas com estudantes que exigem o fim dos massacres sionistas contra crianças, mulheres e homens palestinos, assim como uma solução para a ocupação e o Apartheid que já perduram por mais de 70 anos. Esta “coincidência” nada mais é do que uma “manobra diversionista” e cumpre duas funções: trazer de volta a ideia gasta de que os judeus são as “eternas vítimas do mundo” – o que os autoriza a realizar todas as atrocidades que testemunhamos desde o Nakba em 1947 – e desviar a atenção da fantástica debacle mundial da imagem de Israel.

Este país falso, roubado da comunidade Palestina que lá vivia há séculos, agora tornou-se mundialmente conhecido como o país do terror, do holocausto palestino, do genocídio, do massacre de crianças, do apartheid e da limpeza étnica. A data de 7 de outubro de 2024 marca um corte fundamental na história da Palestina, expondo as entranhas dos horrores e dos abusos da ocupação sionista e produzindo um estrago irrecuperável na forma como o mundo enxerga esse enclave europeu. Nunca antes a violência e o terrorismo de Israel estiveram tão evidentes quanto depois da ação da resistência armada do Hamas e outros grupos.

A história não vai retroceder, e o estrago já está feito. Israel, a partir daquele dia nos umbrais de outubro, teve sua real essência mostrada nas redes sociais para cada sujeito que segurava um smartphone no planeta. Nem Barbra, nem Spielberg, nem Seinfeld… nenhum deles será capaz de salvar Israel da maldição que vai se abater sobre os colonizadores brutais e perversos. Os crimes contra a humanidade cometidos até hoje não poderão ser apagados por estas manobras de propaganda descarada. O mundo inteiro acordou para a barbárie racista de Israel.

Apesar da obra ter seu valor, não é possível acreditar que o seu lançamento agora não seja uma clara ação oportunista para tentar limpar a imagem imunda do sionismo genocida de Israel. Os crimes contra a humanidade cometidos desde a brutalidade do Nakba não ficarão impunes. Não vão nos enganar com essa patifaria. Yasser Arafat, onde estiver, sorri para um porvir democrático e de paz em sua terra.

“Aprofundando as informações sobre a nova música que Barbra Streisand gravou para a minissérie “O Tatuador de Auschwitz”, esta será a primeira vez que um tema da diva judaica americana é usado para um programa de TV. Streisand disse que com a música procurou lembrar das vítimas do Holocausto.”

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Fracassos

Em 1955 o ator britânico Charles Laughton decidiu investir na carreira de diretor de cinema após uma frutuosa carreira como ator. O filme escolhido foi “The Night of the Hunter” (O Mensageiro do Diabo, no Brasil), um filme sombrio sobre um pastor de uma igreja (Robert Michum) que nas horas vagas era um cruel assassino em série. O filme foi baseado na história real de um sujeito chamado Harry Powers que se aproximava de viúvas e as matava para ficar com seu dinheiro.

O filme, com suas explícitas referências ao expressionismo alemão, foi um estupendo fracasso de público e crítica. A década de 50 foi uma época de ferrenho macarthismo e controle restrito sobre “obscenidades”; o filme foi desaconselhado por um parecer da “Legião da Decência” (National Legion of Decency) pela forma como retratava o casamento. Tanto nas bilheterias quanto na crítica americana conservadora o filme desabou, deixando um rombo imenso nos cofres da United Artists. Em razão desse retumbante insucesso Charles Laughton desistiu da ideia de dirigir e morreu de câncer 7 anos mais tarde, com apenas 63 anos de idade.

Creio ser essa história relevante apenas porque, décadas depois do seu lançamento em 1955, este filme se tornou cult, tratado como um clássico do cinema, reverenciado e citado por diretores do porte de Spielberg, Scorsese, Spike Lee, os irmãos Cohen e Guillermo del Toro. Em 2017 o “Cahiers du Cinema” o considerou o segundo maior filme da história. Existem referências a esta película até em “O Grande Lebowski“. O que é interessante neste “case de fracasso” é que ele mostra que muitas vezes um trabalho não reconhecido e desprezado quando do seu lançamento não carece necessariamente de qualidade, apenas está adiante do seu tempo. Em verdade, como já diria Nietzsche, este é o grande teste: qualquer coisa que obtenha sucesso imediato poderá ter grandeza, mas dificilmente será transcendente. Para ser algo perene, como a obra de Van Gogh, é necessário que o impacto inicial da obra venha a machucar os sentidos, fazendo doer os olhos e torturar os tímpanos, pois estas são as dores de parto de uma nova perspectiva estética, moral, ética, filosófica ou científica.

Einstein dizia que, ao ser confrontado com uma nova ideia e ela não lhe parecer de imediato absurda, é melhor esquecê-la, pois ela carece do impacto necessário para os grandes saltos da humanidade. Assim também com as novidades corriqueiras que nos atingem todos os dias; mesmo quando parecem tolas, inconsequentes ou equivocadas, talvez estejam apenas anunciando o porvir, aguardando pacientemente que estejamos preparados para elas.

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