Eu as vezes leio artigos escritos por jornalistas, escritores, acadêmicos e simples escrevinhadores como eu e me surpreendo com a qualidade da escrita, seja pelo estilo, pela organização das ideias, pela capacidade de síntese, pela clareza, pela profundidade, pela relevância e pela erudição. Sou possuído pela sensação bastante comum de “puxa, gostaria de escrever assim!“.
Eu não aprendi a escrever direito, mas depois de passar 25 anos escrevendo num ritmo diário eu cheguei à conclusão que a única forma consistente de aprender esse ofício e essa arte é… escrever sempre, verter a vida em letras, condensar as ideias em tinta, massacrar o papel com os sulcos do pensamentos.
Como em muitas outras áreas, o exercício da escrita se faz na experiência diária da transmutação das ideias embaralhadas, na revivescência de lembranças enoveladas e nas propostas misturadas para a linearidade do texto, permitindo ao leitor que capte o fio do seu pensar e o utilize como assim o desejar.
Se pudesse dar a mim mesmo um conselho diria para ter escrito minhas histórias desde a adolescência, porque isso teria sido muito mais útil do que se pode imaginar.
A ideia de uma leva de crianças especiais, chamadas de “indigo” e depois de “cristal” veio no pacote místico da Nova Era, que nos trouxe Enya, comida vegana, incenso e até parto humanizado. Se é verdade – ou não – eu acho difícil de provar. Não há elementos fáticos a nos oferecer qualquer indício, quanto menos garantias, de que estas crianças que agora nos chegam tenham qualquer vantagem emocional, espiritual, afetiva ou intelectual sobre as gerações que as antecederam.
Eu, em verdade, sou até mais propenso a acreditar que a vida pós-moderna cosmopolita nos ofereceu crianças e adolescentes mais toscos e ignorantes do que outrora. Jared Diamond falava disso em “Armas, Germes e Aço” e creio ser uma ideia bastante sedutora. Aconteceu com o cães – cuja proximidade com os humanos os deixou mais burros – por que não ocorreria conosco?
Nesse sentido apenas lembro que minha geração inteira escutou Genesis, Chico, Caetano, Bob Dylan enquanto hoje os jovens escutam sertanejo machista. A arte popular se tornou refém do mau gosto capitalista. Mas, para além disso, a alimentação, os brinquedos, o medo parental (pais mais velhos) e o meio ambiente não são propícios ao desenvolvimento de criatividade, liderança e desafio. Criamos uma geração de tolos, mimados, frágeis, medrosos e super protegidos. Uma geração “show flake”, tediosa e superficial. Certo, mas esta é apenas a minha sensação, sem evidências claras. Não posso provar isso, mas é uma sensação legítima e compartilhada por muitos
Entretanto, existe uma outra questão sobre a exaltação de “castas” infantis: as expectativas criadas sobre suas pretensas virtudes e a sensação de exclusão por parte das crianças sobre as quais não recai esse rótulo.
Essa é uma preocupação que TODO pai e mãe de celebridade tem: ao reconhecer o filho de “deu certo” corre o risco de desmerecer os outros filhos menos aquinhoados pelo talento. O peso negativo para estes pode ser maior do que os benefícios para quem foi bafejado pela “sorte”.
Preferi tratar meus filhos sempre como crianças absolutamente normais, iguais a todas as outras, sem vantagens especiais. Na verdade, um espelho do que julgo de mim mesmo. Com os meus netos não me afasto um centímetro dessa ideia. Gente normal; inteligentes, criativos, corajosos e curiosos como todas as crianças. Não acho justo estragá-los considerando que pertençam a uma categoria especial. Que Deus os livre disso.