Encontrei no “Bazar Mães à Obra” o lendário obstetra Alberto Abeche, o qual tive a honra de contar no nascimento do meu filho Lucas. O Alberto faz parte de um seleto grupo de obstetras que tenho orgulho de reconhecer como colegas. Alberto é um sujeito sensível e espiritualizado como poucos. Nos minutos que conversamos, rodeados por barrigudas e bebês, ele me perguntou o que achava ser a parte mais bonita de um parto. Eu respondi que o apagamento neocortical, o mergulho na “Partolândia”, era o aspecto mais encantador e misterioso de tudo o que cerca a chegada de um bebê. O transe químico, o “barato” do parto, a zonzeira, a perda dos referenciais eram os fatos que mais me marcaram durante 30 anos atendendo partos e seus desafios.
– E você, Alberto? O que te encanta mais no nascimento?, perguntei eu.
Ele sorriu e respondeu
– O silêncio, Ricardo. O silêncio de respeito e reverência logo após o nascimento. Quando, depois do grito primal, o diálogo de lágrimas e gemidos é o único som que tem permissão de ser ouvido. É quando ficamos mudos e imóveis assistindo o milagre à nossa frente. O silêncio, Ricardo, o mais eloquente dos ruídos.
Obrigado, Alberto, pelo seu exemplo, sensibilidade e coragem.