É importante ter em mente que a que a ideia de resgatar elementos perdidos na aventura tecnocrática humana em relação ao parto, amamentação e maternagem não deve nos seduzir em direção a uma visão nostálgica e ingênua do passado, aquele tempo “perfeito” e estável onde as mulheres podiam livremente amar e cuidar de seus filhos. O progresso (se é que ele existe, pois para cada avanço notável sofremos perdas invisíveis mas igualmente profundas) pressupõe mudança e entropia; choque, atrito, destruição e reconstrução.
O papel da mulher e – por conseguinte – da maternidade haveria de se transformar com o fim do paleolítico superior e a chegada do neolítico, com o sedentarismo, a posse – de coisas e pessoas, a religião, a guerra e o patriarcado. Assim estamos falando de uma transformação adaptativa obrigatória, e não uma mera escolha racional por caminhos distintos. As mulheres de hoje são um produto de milhares de pequenas transformações culturais adaptativas dos últimos cem séculos, que nos leva da “mãe essencial” à algo que se aproxima de Ártemis, a deusa tríplice.
Se é verdade que a forma como as mulheres pariam, amamentavam e cuidavam de suas crias nos tempos distantes nos causa saudade, também é verdadeiro que os avanços em termos de liberdade e autonomia garantidos hoje a elas nos impedem de voltar à ilusória estabilidade de outrora. Nosso desafio é encontrar um paradigma que, ao mesmo tempo que garanta as conquistas modernas de autonomia e segurança, também ofereça às mulheres a possibilidade de viver a maternidade com plenitude.