Eu escrevi uma vez sobre minha curiosidade com o fenômeno das tatuagens, mas era num enfoque psicológico. Num mundo de inconstância as marcas na pele oferecem uma perenidade que o mundo contemporâneo sonega. Os relacionamentos, outrora firmes e seguros , tornaram-se frágeis e temporários. Os papéis sociais antes fixos e determinados nos ofereciam uma segurança de posição no desenho da cultura. Hoje isso é passado e a metamorfose é a regra; o que fomos é apenas lembrança, e não mais o que nos constitui e estrutura.
Se isso nos descortina infinitas possibilidades e construções diárias de um destino incerto, ao mesmo tempo nos oferece um vazio de valores perenes e imutáveis. Parece que nada sobra do que fomos. Sem uma certeza do que, em última análise, nos constitui recorremos às marcas na pele. Elas nos dizem que, a despeito do mundo em constante transmutação, teremos para sempre a marca do dragão, a marca tribal, a rosa, a serpente ou o nome do filho imprimindo para todo o sempre (ma non troppo) o sentido de um momento, captura eterna de um fragmento de emoção.
Todavia, existe um outro aspecto que deveria ser explorado: a intoxicação causada pelas substâncias injetadas na derme. E essa é uma preocupação crescente. Algo tão “na moda” mereceria ter uma abordagem de saúde pública.