Se o mestre Nazareno de mim se aproximasse e suas mãos vazadas pelas chagas segurassem as minhas oferecendo um pedido qualquer que enchesse meu coração de alegria, que diria eu a ele?
Eu pediria a Jesus que deixasse cumprir tudo o que a mim fosse destinado. Que caísse sobre mim o que for por mim merecido e justo. Jamais aceitaria receber o que fosse por uma graça, por um favor, por uma bênção.
– Quero todas as bolhas que meu caminhar mereceu. Quero todo suor que minha pressa escorreu. Exijo toda a sede que minha palavra produziu e todo calor que minha paixão expulsou. Não quero nenhuma dádiva, nenhum valor que não tenha vindo do meu esforço. Peço as punições que for merecedor, mas desejo que só cheguem a mim as recompensas a que fiz jus.
– Não me dê nada, Jesus. Que sentido teria essa vida se nossas conquistas fossem realizadas através de prêmios recebidos sem merecimento? Que justiça é essa que nos oferece benefício por loteria ou bajulação?
– Obrigado, senhor, pelo oferecimento. Guarde o presente para quem realmente o deseja. Para mim me bastam as alegrias simples e a harmonia fugaz que nosso mundo de expiações oferece.
Nesse momento o Jesus redivivo sorri, larga minhas mãos e desaparece em uma nuvem avermelhada, deixando no ar um inconfundível odor sulfuroso.